A recuperação econômica tem sido adequada?
Por que não é possível comparar a recessão mais recente com a última, entre os anos de 2008 e 2009
Da Redação
Publicado em 14 de dezembro de 2017 às 16h08.
Há certa reclamação no ar sobre o atual ciclo de recuperação da economia, em que os números aparentemente fracos do terceiro trimestre serviriam para mostrar como o crescimento na saída da recessão é fraco. Mas esse não parece ser o caso dessa vez.
Primeiro, não é cabível comparar essa recessão com a última de 2008/2009. A que ocorreu na década passada foi por causas externas e pegou o país em boas condições, o que facilitou a saída da crise. Em outras palavras, havia política monetária e fiscal em abundância para serem usados e, como se sabe, especialmente a política fiscal foi usada abusivamente. No caso da última recessão, boa parte da crise decorreu do próprio esgarçamento das políticas monetária e fiscal. A inflação em quase 12% e acelerando e o déficit primário tendo piorado quatro pontos percentuais em apenas dois anos até abril do ano passado. Na saída da crise não havia políticas de curto prazo para serem usadas, pelo contrário, os ajustes mais pesados eram justamente em cima delas.
Esse efeito pode ser observado comparando os picos e os pisos de crescimento nos últimos dois ciclos de crescimento. Na recessão de 2008/2009, a diferença entre o pico de crescimento e o piso foi de 9,4 pontos percentuais, entre o 2º trimestre de 2008 e o 1º de 2009. Dessa vez, levou quase três anos entre o pico anterior, 4% de crescimento no 2º trimestre de 2013, até o piso, que foi de -5,6% no 4º tri de 2015. Como se vê, a crise de 2008, embora muito mais intensa foi mais curta, não tendo tempo de esgarçamento da economia como na crise atual.
A saída das duas obviamente também acaba sendo diferente. No caso da de 2008, a virada foi de 11,6 pontos percentuais em um ano, entre o 1º trimestre de 2009 e o 1º trimestre de 2010. Dessa vez, a volta tem sido mais longa, com variação de 7,6 pontos percentuais entre o 4º trimestre de 2015 e o último trimestre deste ano, para o qual esperamos alta de 2%. Mas dada a extensão da crise, o fato de ser gerada internamente e a falta de instrumentos de curto prazo na saída não consideramos essa variação pequena, pelo contrário, conseguiu-se tirar leite de pedra em uma economia tão desajustada. E vale lembrar que dessa vez nem tivemos desvalorização cambial para compensar a queda da demanda doméstica, como em outras crises do passado. Talvez a mais sintomática dessas recuperações via câmbio foram aquelas pós-crise de 1983 e 1999.
Outro ponto que reforça a dificuldade natural de saída desta crise foi o que se viu no mercado de trabalho. Os dados novos da PNAD Contínua não existiam na crise de 2008, mas considerando os dados da antiga PME vemos que a taxa de desemprego passou do piso de 7,5% em agosto de 2008 para o pico de 8,4% em janeiro de 2009, uma alta de apenas 0,9 ponto percentual. Mas dessa vez o desemprego passou de 6,5% em dezembro de 2014 para 13,7% em março de 2017, mais 7,2 pontos percentuais, lembrando ainda que sobre uma PEA maior.
Da pior crise da história não se pode esperar a virada mais espetacular. Reafirmamos que o atual crescimento é muito robusto.
* Artigo escrito em parceria com Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados
Há certa reclamação no ar sobre o atual ciclo de recuperação da economia, em que os números aparentemente fracos do terceiro trimestre serviriam para mostrar como o crescimento na saída da recessão é fraco. Mas esse não parece ser o caso dessa vez.
Primeiro, não é cabível comparar essa recessão com a última de 2008/2009. A que ocorreu na década passada foi por causas externas e pegou o país em boas condições, o que facilitou a saída da crise. Em outras palavras, havia política monetária e fiscal em abundância para serem usados e, como se sabe, especialmente a política fiscal foi usada abusivamente. No caso da última recessão, boa parte da crise decorreu do próprio esgarçamento das políticas monetária e fiscal. A inflação em quase 12% e acelerando e o déficit primário tendo piorado quatro pontos percentuais em apenas dois anos até abril do ano passado. Na saída da crise não havia políticas de curto prazo para serem usadas, pelo contrário, os ajustes mais pesados eram justamente em cima delas.
Esse efeito pode ser observado comparando os picos e os pisos de crescimento nos últimos dois ciclos de crescimento. Na recessão de 2008/2009, a diferença entre o pico de crescimento e o piso foi de 9,4 pontos percentuais, entre o 2º trimestre de 2008 e o 1º de 2009. Dessa vez, levou quase três anos entre o pico anterior, 4% de crescimento no 2º trimestre de 2013, até o piso, que foi de -5,6% no 4º tri de 2015. Como se vê, a crise de 2008, embora muito mais intensa foi mais curta, não tendo tempo de esgarçamento da economia como na crise atual.
A saída das duas obviamente também acaba sendo diferente. No caso da de 2008, a virada foi de 11,6 pontos percentuais em um ano, entre o 1º trimestre de 2009 e o 1º trimestre de 2010. Dessa vez, a volta tem sido mais longa, com variação de 7,6 pontos percentuais entre o 4º trimestre de 2015 e o último trimestre deste ano, para o qual esperamos alta de 2%. Mas dada a extensão da crise, o fato de ser gerada internamente e a falta de instrumentos de curto prazo na saída não consideramos essa variação pequena, pelo contrário, conseguiu-se tirar leite de pedra em uma economia tão desajustada. E vale lembrar que dessa vez nem tivemos desvalorização cambial para compensar a queda da demanda doméstica, como em outras crises do passado. Talvez a mais sintomática dessas recuperações via câmbio foram aquelas pós-crise de 1983 e 1999.
Outro ponto que reforça a dificuldade natural de saída desta crise foi o que se viu no mercado de trabalho. Os dados novos da PNAD Contínua não existiam na crise de 2008, mas considerando os dados da antiga PME vemos que a taxa de desemprego passou do piso de 7,5% em agosto de 2008 para o pico de 8,4% em janeiro de 2009, uma alta de apenas 0,9 ponto percentual. Mas dessa vez o desemprego passou de 6,5% em dezembro de 2014 para 13,7% em março de 2017, mais 7,2 pontos percentuais, lembrando ainda que sobre uma PEA maior.
Da pior crise da história não se pode esperar a virada mais espetacular. Reafirmamos que o atual crescimento é muito robusto.
* Artigo escrito em parceria com Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados