Superando o paradoxo: "seja forte e aberto"
Uma experiência no universo da vela traz a analogia perfeita para entender como ser forte e se manter aberto diante dos desafios da vida
Luah Galvão e Danilo España
Publicado em 18 de agosto de 2021 às 09h58.
Última atualização em 18 de agosto de 2021 às 12h01.
Numa viagem recente ao litoral da Bahia, fui convidado por um professor de vela para dar uma volta em seu pequeno veleiro. Foi uma ótima oportunidade de conhecer um pouco mais desse universo, com o qual não tive muito contato ao longo da vida.
Sempre ouvi dizer que os verdadeiros “homens do mar” carregam em si uma sabedoria ancestral. E foi do sorriso no rosto de Carlindo, do seu alto astral e calma ao explicar cada passo que essa sabedoria transbordou e me transmitiu total segurança.
Iniciamos a navegação, e de imediato foi impressionante o silêncio do veleiro cortando as águas. Apenas o leve som do vento soprando a vela podia ser ouvido. Foi incrível sentir o avanço à favor ou contra o vento, usando diferentes estratégias de posicionamento da vela, a cada momento sentindo de onde o vento vinha e decidindo para onde desejávamos ir. Naquele dia o vento estava bom, mas quando os ventos são muito fortes, o velejar pode se tornar algo bastante desafiador.
Em resumo, a experiência foi maravilhosa. No dia seguinte acordei com a imagem da vela em minha mente, uma sensação boa me veio no peito quando lembrei dos momentos no dia anterior. De repente me veio um insight. É isso! A vela. Ela era um símbolo preciso do aprendizado que tive anos atrás com uma pessoa muito especial que conheci no Caminho de Santiago. Tomás de Manjarin era seu nome e o conselho para a vida que me deu foi:
“Seja forte e aberto!”
Quando ouvi essa frase pela primeira vez tive uma sensação paradoxal. A palavra "forte" me trouxe a imagem de uma rocha. Em seguida me veio à mente a um bravo guerreiro enfrentando um desafio. Tive uma sensação de capacidade de realizar o que eu realmente quisesse.Mas em oposição, a ideia de "aberto" me trouxe a imagem desse mesmo guerreiro, porém com o peito aberto e fiz uma associação com vulnerabilidade ou exposição. Isso me causou uma certa confusão de sensações.
Passado algum tempo refleti um pouco mais e percebi que estar aberto tinha significados bastante interessantes. Um deles é permanecer com os sentidos abertos, ter atenção no que está ao nosso redor, para sermos capazes de fazer uma boa leitura do contexto em que estamos inseridos. Outro significado é estar aberto ao novo, a fazer coisas que não estamos acostumados ou a ver situações da vida de um ponto de vista que não estamos acostumados a aceitar. E estar aberto ao outro também é extremamente importante, pois são nas conexões humanas que estabelecemos novas pontes, nos fortalecendo social e emocionalmente.
Mas foi ao ter a experiência do velejar que absorvi por completo o significado da frase de Tomás. A minha concepção de força, se desvinculou da ideia antiga de rigidez. Pois a capacidade da vela de unir força e maleabilidade para captar a energia dos ventos é realmente de uma eficácia estonteante. E quanto mais aberta estiver, maior a potência de nos levar para onde desejamos ir. Essa abertura da vela abarca a ideia de estarmos abertos ao novo, abertos aos outros e conectados ao que está ao nosso redor. Se estiver fechada ou não for forte o suficiente, se rasgando por exemplo, o barco não vai para lugar algum e fica à deriva. Isso mostra o desperdício de potencial quando não nos abrimos para novos desafios, para olhar situações da vida à partir de outros ângulos ou deixamos de nos conectar com os outros.
Entendi a importância de sermos fortes sem rigidez e ao mesmo tempo abertos sem a sensação de vulnerabilidade. Assim como no velejar é vital saber manusear a vela, quando içá-la e de que maneira posicioná-la em relação ao vento, sabendo utilizar com maestria nossas ferramentas internas será bem mais fácil "velejar". Se conseguirmos transformar um pouco desse conhecimento em sabedoria, aplicando os aprendizados dessas metáforas em nossas vidas, alcançaremos novos horizontes em quaisquer rumos que desejarmos navegar.
Por Danilo España
Numa viagem recente ao litoral da Bahia, fui convidado por um professor de vela para dar uma volta em seu pequeno veleiro. Foi uma ótima oportunidade de conhecer um pouco mais desse universo, com o qual não tive muito contato ao longo da vida.
Sempre ouvi dizer que os verdadeiros “homens do mar” carregam em si uma sabedoria ancestral. E foi do sorriso no rosto de Carlindo, do seu alto astral e calma ao explicar cada passo que essa sabedoria transbordou e me transmitiu total segurança.
Iniciamos a navegação, e de imediato foi impressionante o silêncio do veleiro cortando as águas. Apenas o leve som do vento soprando a vela podia ser ouvido. Foi incrível sentir o avanço à favor ou contra o vento, usando diferentes estratégias de posicionamento da vela, a cada momento sentindo de onde o vento vinha e decidindo para onde desejávamos ir. Naquele dia o vento estava bom, mas quando os ventos são muito fortes, o velejar pode se tornar algo bastante desafiador.
Em resumo, a experiência foi maravilhosa. No dia seguinte acordei com a imagem da vela em minha mente, uma sensação boa me veio no peito quando lembrei dos momentos no dia anterior. De repente me veio um insight. É isso! A vela. Ela era um símbolo preciso do aprendizado que tive anos atrás com uma pessoa muito especial que conheci no Caminho de Santiago. Tomás de Manjarin era seu nome e o conselho para a vida que me deu foi:
“Seja forte e aberto!”
Quando ouvi essa frase pela primeira vez tive uma sensação paradoxal. A palavra "forte" me trouxe a imagem de uma rocha. Em seguida me veio à mente a um bravo guerreiro enfrentando um desafio. Tive uma sensação de capacidade de realizar o que eu realmente quisesse.Mas em oposição, a ideia de "aberto" me trouxe a imagem desse mesmo guerreiro, porém com o peito aberto e fiz uma associação com vulnerabilidade ou exposição. Isso me causou uma certa confusão de sensações.
Passado algum tempo refleti um pouco mais e percebi que estar aberto tinha significados bastante interessantes. Um deles é permanecer com os sentidos abertos, ter atenção no que está ao nosso redor, para sermos capazes de fazer uma boa leitura do contexto em que estamos inseridos. Outro significado é estar aberto ao novo, a fazer coisas que não estamos acostumados ou a ver situações da vida de um ponto de vista que não estamos acostumados a aceitar. E estar aberto ao outro também é extremamente importante, pois são nas conexões humanas que estabelecemos novas pontes, nos fortalecendo social e emocionalmente.
Mas foi ao ter a experiência do velejar que absorvi por completo o significado da frase de Tomás. A minha concepção de força, se desvinculou da ideia antiga de rigidez. Pois a capacidade da vela de unir força e maleabilidade para captar a energia dos ventos é realmente de uma eficácia estonteante. E quanto mais aberta estiver, maior a potência de nos levar para onde desejamos ir. Essa abertura da vela abarca a ideia de estarmos abertos ao novo, abertos aos outros e conectados ao que está ao nosso redor. Se estiver fechada ou não for forte o suficiente, se rasgando por exemplo, o barco não vai para lugar algum e fica à deriva. Isso mostra o desperdício de potencial quando não nos abrimos para novos desafios, para olhar situações da vida à partir de outros ângulos ou deixamos de nos conectar com os outros.
Entendi a importância de sermos fortes sem rigidez e ao mesmo tempo abertos sem a sensação de vulnerabilidade. Assim como no velejar é vital saber manusear a vela, quando içá-la e de que maneira posicioná-la em relação ao vento, sabendo utilizar com maestria nossas ferramentas internas será bem mais fácil "velejar". Se conseguirmos transformar um pouco desse conhecimento em sabedoria, aplicando os aprendizados dessas metáforas em nossas vidas, alcançaremos novos horizontes em quaisquer rumos que desejarmos navegar.
Por Danilo España