Aquilo que te inquieta te move?
Diante de tantas possibilidades, ideias, materiais e contextos disponíveis, como as pessoas escolhem os caminhos para cada criação?
Publicado em 22 de novembro de 2021 às, 16h14.
Talvez o poder de criação seja uma das características que mais nos diferencia de todos os seres vivos desse planeta. Não que animais, plantas ou seres de outros reinos também não criem soluções, muito pelo contrário, boa parte das nossas inspirações provém da observação das soluções que a natureza oferece. Entretanto a capacidade de criação da nossa espécie parece beirar o ilimitado.
Diante de tantas possibilidades, ideias, materiais e contextos disponíveis, como as pessoas escolhem os caminhos para cada criação? De onde vem o ímpeto de criar? Dizem que a necessidade é a mãe da invenção, mas ao me perguntar mais profundamente sobre isso me lembrei de uma palavra que ao meu ver, pode ser o verdadeiro ponto de origem para qualquer criação: A INQUIETUDE.
No dicionário, inquietude é explicada como “falta de sossego”. Só aquilo que nos inquieta, chama nossa atenção e nos gera um certo incômodo é capaz de nos tirar da inércia para resolvermos ou aprimorarmos o que for necessário. Observar a inquietude por esse ângulo de "potência a ser revelada" pode nos levar além, pois revela a direção de para onde nossa alma está apontando para criar e atuar.
Profissionalmente, é comum buscarmos direcionamento olhando para o que nos apaixona. Eu mesmo citei em palestras, workshops e artigos que nossas paixões são excelentes referências para revelar nosso propósito de vida. Continuo tendo essa crença, porém hoje em dia acrescentaria o seguinte: aquilo que nos apaixona, de forma positiva, nos gera inquietação. Essa também é uma chave para o desenvolvimento dos nossos talentos, habilidades e até mesmo do nosso papel social.
Algo magnífico no ser humano, que está relacionado ao universo dos criadores e ao nosso papel social, é a capacidade de empatia. Inúmeras criações são inspiradas não pelo que nos aflige diretamente, mas por causas alheias à nós que nos tocam. Podemos citar, por exemplo, equipes de profissionais da área da saúde e da tecnologia, que mesmo sem ter qualquer tipo de deficiência física, se unem para criar soluções incríveis para que pessoas com deficiência ampliem a mobilidade de certos membros do corpo, proporcionando maior qualidade de vida e inclusão - exemplos como esse se estendem para as mais variadas áreas. Além da inquietude resolver um problema alheio, situações como essa também mostram o enorme potencial de colaboração que temos para criar soluções geniais coletivamente.
Apesar da genialidade e efetividade de nossas criações para determinados objetivos, muitas vezes falhamos na sustentabilidade do processo produtivo, na poluição decorrente da forma de funcionamento ou do descarte de determinado produto quando ele passa a não ter mais utilidade; vide automóveis, trens, ônibus, caminhões, aviões, etc. Felizmente é visível que há um aumento das inquietações humanas sobre os problemas que nossas próprias criações estão causando no planeta, o que está fazendo brotar a cada dia soluções muito mais sustentáveis.
Bacana deixar claro que escrevi esse artigo com dois objetivos principais. O primeiro é trazer um olhar mais positivo sobre as inquietações para que possamos vê-las como potências a serem exploradas, que sirvam como inspiração para projetos a serem desenvolvidos, soluções e aprimoramentos a serem implementados. O segundo objetivo do artigo é alertar para a relevância das consequências daquilo que criamos para o nosso planeta, lembrando que nossos hábitos, principalmente de locomoção e consumo, também geram seus impactos.
Quanto mais sistêmica e crítica for nossa visão sobre o que criamos, produzimos e consumimos, mais conscientes serão nossas escolhas, mais sustentáveis os nossos hábitos e consequentemente melhor será o mundo em que vivemos.
Por Dan España