Rolezinho com Nassim Taleb
Na madrugada da sexta para o sábado resolvi checar meu Facebook – para mim, uma poderosíssima ferramenta de trabalho – mais uma vez, antes de dormir. E eis que vejo no meu News Feed um post que me fez pular da cadeira (foto abaixo). Quem me conhece sabe o quanto sou a-lu-ci-na-da pelo trabalho do NASSIM NICHOLAS TALEB, do BENOIT MANDELBROT e do LOUIS BACHELIER (para quem nunca ouviu falar […] Leia mais
Publicado em 3 de fevereiro de 2014 às, 16h02.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 08h37.
Na madrugada da sexta para o sábado resolvi checar meu Facebook – para mim, uma poderosíssima ferramenta de trabalho – mais uma vez, antes de dormir. E eis que vejo no meu News Feed um post que me fez pular da cadeira (foto abaixo).
Quem me conhece sabe o quanto sou a-lu-ci-na-da pelo trabalho do NASSIM NICHOLAS TALEB, do BENOIT MANDELBROT e do LOUIS BACHELIER (para quem nunca ouviu falar neles, deixo aqui algumas recomendações de leitura: ILUDIDO PELO ACASO, A LÓGICA DO CISNE NEGRO, ANTIFRAGILE – THINGS THAT GAIN FROM DISORDER, MERCADOS FINANCEIROS FORA DE CONTROLE, THEORY OF SPECULATION: THE ORIGINS OF MODERN FINANCE).
Quem é Nassim Taleb? No crash de 1987 – conhecido como “black monday” – o índice Dow Jones caiu 22,6% (isso só no dia 19 de outubro) e Taleb fez fortuna! Desenvolveu uma estratégia com derivativos (puts – opções de venda – out-of-the-money (OTM)), que se beneficia com a volatilidade (do preço) do ativo-objeto. A estratégia é perdedora na maior parte do tempo, mas, quando o mercado fica volátil por conta de um black swan, ou seja, pela ocorrência de um evento improvável – o ganho é altíssimo e a estratégia se paga e gera resultados astronômicos. Há boatos que Taleb teria feito USD 40 milhões em poucas horas nesse dia – posicionado em eurodollar e deutsche mark. Taleb é odiado pela academia … por engrossar o caldo (junto a Mandelbrot e Bachelier) contra o modelo gaussiano (curva em forma de sino | distribuição normal), que é a base de todos os modelos financeiros utilizados atualmente – inclusive, para o controle de risco.
Taleb veio ao Brasil para palestrar num evento fechado que está sendo promovido pelo banco de investimentos Credit Suisse First Boston, essa semana. Mas, o “Nietzsche de Wall Street” ou “Nietzsche moderno” – como foi apelidado – fez questão de encontrar com seus leitores, num esquema bem low profile. O local foi escolhido via Facebook, Café Suplicy do shopping Market Place. E lá fui eu, tomada por um entusiasmo que não cabia em mim.
Trajando blazer, t-shirt preta e calça jeans, Taleb chegou pontualmente ao encontro. Cumprimentou cada um de nós e foi muito amigável durante todo o bate-papo, que acabou durando quase 2 horas. Já de largada pediu espressos, macchiatos, cappuccinos, águas e cinnamon rolls para todo mundo.
Ele foi muito atencioso e simpático e respondeu a todas as perguntas. Os assuntos foram os mais diversos – desde temas mais áridos como “sigmoid” até “Bitcoin”. Quando perguntado sobre que livros estava lendo, nos mostrou o seu kindle – com alguns clássicos – e surpreendeu: “Estou lendo Simbad, o marujo (a versão em árabe, claro)”.
Descrevo abaixo uma síntese da conversa:
– Taleb falou muito sobre um assunto que ele adora: heurística – um comando simples.
– Comentou sobre Sêneca – que foi o homem mais rico do Império Romano – mas, que era contra a dependência dessa riqueza. Queria estar preparado para a ocorrência de um evento aleatório – que pudesse torná-lo pobre. Sendo dessa forma, senhor do seu destino (e não sua vítima).
– Questionado sobre a “escola Austríaca“, disse que as ideias eram interessantes.
– Sobre “stop loss“/”stop gain” falou que não utiliza em seus trades.
– Ponderou que o conceito de bitcoin (ou moedas eletrônicas) é bem interessante, pois tira o controle da emissão de moeda dos governos. Mas, afirmou não saber qual será o futuro desse mercado.
– Perguntei a ele: “Tomemos como exemplo uma pessoa física que possui um portfólio de $1 a $5 milhões – uma quantia considerável – qual deveria ser o substituto do “beta” (medida cujo cálculo está baseado na distribuição normal) para a diversificação (do risco) da carteira? Ele me respondeu com outra pergunta: “Qual seria a profissão deste sujeito?”. Eu disse: “Digamos que se trata de um médico!”. Ele disparou: “Ele deve ganhar dinheiro com o seu ofício, ao invés de tentar ficar rico da noite para o dia no mercado financeiro.” E completou: “Muitos profissionais perdem o dinheiro suado (que ganharam praticando suas atividades principais) investindo em ativos que não conhecem.”
– Perguntei sobre seus investimentos pessoais e ele disse que poderia até mesmo me mostrar seu portfólio. (Ao tentar exibi-la no Iphone, o app – infelizmente – não abriu). Ele mencionou que ainda mantém a estratégia com opções (através do Universa), e que também investe em ouro (via ETFs) para “proteção”, mas, que ultimamente, toda vez que ele compra o preço do metal sobe.
Obviamente, que tudo foi conversado a luz de um contexto. Você pode buscar praticamente todos os pontos citados acima em suas obras – livros, artigos, entrevistas, palestras e vídeos no Youtube. Através de sua conta no Twitter – @nntaleb – Taleb divide suas ideias com o mundo e nos convida a reflexões substanciais (vale a pena conferir).
A internet tornou tudo possível … até tomar um café num domingo a tarde – em São Paulo – com o Nassim Taleb, agendado pelo Facebook, no melhor estilo “rolezinho”. E que venha o próximo!
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Cláudia Augelli
“The rational heuristic is to avoid any market commentary from anyone who has to work for a living.”- Nassim Nicholas Taleb