O Brasil em seu Labirinto
“Aquele que aguarda muito deve esperar pouco”. Palavras de Gabriel Garcia Marquez, vencedor do Nobel de Literatura de 1982, mas, antes de tudo, um Colombiano apaixonado pela América Latina. No discurso que proferiu durante cerimônia de aclamação internacional, a de entrega do Nobel, o escritor discorreu sobre a violenta história da região – os golpes […]
Da Redação
Publicado em 25 de junho de 2016 às 09h46.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h19.
“Aquele que aguarda muito deve esperar pouco”. Palavras de Gabriel Garcia Marquez, vencedor do Nobel de Literatura de 1982, mas, antes de tudo, um Colombiano apaixonado pela América Latina. No discurso que proferiu durante cerimônia de aclamação internacional, a de entrega do Nobel, o escritor discorreu sobre a violenta história da região – os golpes militares, as torturas, os homicídios em massa, a turbulência política. Teria sido interessante vê-lo hoje, dia seguinte do anúncio do histórico acordo de cessar-fogo entre o governo da Colômbia e a guerrilha das FARC. Trata-se não de acordo qualquer, mas sim de algo que deve selar em definitivo um pacto de paz, encerrando meio século de conflito armado. Conflito que deixou rastro de 220.000 mortos, 45.000 desaparecidos, e quase 7 milhões de desalojados. Para um país de 48 milhões de habitantes, isso não é pouca coisa.
Embora o acordo ainda precise da aprovação da população da Colômbia e de vários acertos finais para que seja implantado, o avanço foi significativo o suficiente para chamar a Havana, onde se deram as negociações, diversos líderes mundiais. A reunião desta última quinta-feira, conduzida pelo presidente da Colômbia Juan Manuel Santos e por Timoleon Jimenez, líder das FARC, contou com a presença do Secretário Geral da ONU, Ban Ki-Moon, dos representantes dos países garantidores do acordo, Raúl Castro por Cuba e o Ministro das Relações Exteriores da Noruega Borge Brende pelo país escandinavo, de Michele Bachelet, de Nicolas Maduro, de representantes dos EUA, da União Europeia, de El Salvador, e da República Dominicana. O Brasil não teve a mesma visibilidade. Não a teve porque andou por muito tempo ausente de sua própria região. Contudo, o Brasil que pretende aproximar-se dos países que compõem a Aliança do Pacífico, dentre os quais está a Colômbia, precisa sair do isolacionismo autoperpetrado..
O Itamaraty, em nota, destacou as relações entre o Brasil e a Colômbia: “O Brasil vem negociando com o país vizinho iniciativas com o objetivo de facilitar o aproveitamento de todo o potencial do intercâmbio bilateral de bens, serviços e investimentos”. De acordo com os dados compilados pelo Ministério das Relações Exteriores, entre 2005 e 2014 o comércio entre o Brasil e a Colômbia cresceu 165%, passando de 1,5 bilhão de dólares para 4,1 bilhões de dólares. A pauta de exportações brasileiras para a Colômbia é diversificada, e privilegia os produtos manufaturados, a indústria, aquela que se pretende resgatar. Diz a nota do Itamaraty: “nos primeiros oito meses de 2015, os produtos manufaturados correponderam a mais de 92% das exportações para a Colômbia”. A Colômbia é nosso sétimo maior parceiro comercial, o que significa que, de fato, há enorme potencial a ser explorado.
Como bem sabem economistas, diplomatas, e cientistas políticos que trabalham na área do comércio internacional e dos acordos de facilitação de comércio e de investimentos, o uso eficaz do soft power, da capacidade de influenciar ou cooptar de modo sutil, é fundamental para que se alcance aquilo que se pretende. Na área dos acordos de comércio, são tantos os interesses envolvidos, específicos e mais gerais, que não há progresso consistente sem o bom uso do soft power. O Mercosul está aí para mostrar como o absoluto mau uso desse poder brando pode descambar para a inércia, ou mesmo para relações absolutamente improdutivas do ponto de vista comercial e econômico.
Pois o Brasil parece estar entendendo isso muito lentamente, mesmo depois das declarações auspiciosas do novo Ministro das Relações Exteriores quando de sua cerimônia de posse. Disse a nota do Itamaraty a respeito do acordo histórico da Colômbia com as FARC: “O Brasil apoia o processo de paz entre o Governo colombiano e as FARC, atualmente em curso em Havana, e entende que sua conclusão em bom termo constituirá importante avanço político para a região”. E, arremata: “Como contribuição brasileira efetiva ao processo de paz, está sendo fortalecida a cooperação bilateral prestada pelo Brasil na área de desenvolvimento rural. A questão agrária é um dos principais temas das negociações entre o Governo colombiano e as FARC, pois está entre as causas estruturais do conflito”.
Brasil, urge sair do labirinto. Ainda que comparecimento ao evento na Colômbia não fosse a ocasião mais adequada para tanto, é bom ouvir as palavras de Garcia Marquez. Parodiando-as, aguardar muito, esperar em demasia, é inimiga das expectativas positivas que se pretende gerar.
“Aquele que aguarda muito deve esperar pouco”. Palavras de Gabriel Garcia Marquez, vencedor do Nobel de Literatura de 1982, mas, antes de tudo, um Colombiano apaixonado pela América Latina. No discurso que proferiu durante cerimônia de aclamação internacional, a de entrega do Nobel, o escritor discorreu sobre a violenta história da região – os golpes militares, as torturas, os homicídios em massa, a turbulência política. Teria sido interessante vê-lo hoje, dia seguinte do anúncio do histórico acordo de cessar-fogo entre o governo da Colômbia e a guerrilha das FARC. Trata-se não de acordo qualquer, mas sim de algo que deve selar em definitivo um pacto de paz, encerrando meio século de conflito armado. Conflito que deixou rastro de 220.000 mortos, 45.000 desaparecidos, e quase 7 milhões de desalojados. Para um país de 48 milhões de habitantes, isso não é pouca coisa.
Embora o acordo ainda precise da aprovação da população da Colômbia e de vários acertos finais para que seja implantado, o avanço foi significativo o suficiente para chamar a Havana, onde se deram as negociações, diversos líderes mundiais. A reunião desta última quinta-feira, conduzida pelo presidente da Colômbia Juan Manuel Santos e por Timoleon Jimenez, líder das FARC, contou com a presença do Secretário Geral da ONU, Ban Ki-Moon, dos representantes dos países garantidores do acordo, Raúl Castro por Cuba e o Ministro das Relações Exteriores da Noruega Borge Brende pelo país escandinavo, de Michele Bachelet, de Nicolas Maduro, de representantes dos EUA, da União Europeia, de El Salvador, e da República Dominicana. O Brasil não teve a mesma visibilidade. Não a teve porque andou por muito tempo ausente de sua própria região. Contudo, o Brasil que pretende aproximar-se dos países que compõem a Aliança do Pacífico, dentre os quais está a Colômbia, precisa sair do isolacionismo autoperpetrado..
O Itamaraty, em nota, destacou as relações entre o Brasil e a Colômbia: “O Brasil vem negociando com o país vizinho iniciativas com o objetivo de facilitar o aproveitamento de todo o potencial do intercâmbio bilateral de bens, serviços e investimentos”. De acordo com os dados compilados pelo Ministério das Relações Exteriores, entre 2005 e 2014 o comércio entre o Brasil e a Colômbia cresceu 165%, passando de 1,5 bilhão de dólares para 4,1 bilhões de dólares. A pauta de exportações brasileiras para a Colômbia é diversificada, e privilegia os produtos manufaturados, a indústria, aquela que se pretende resgatar. Diz a nota do Itamaraty: “nos primeiros oito meses de 2015, os produtos manufaturados correponderam a mais de 92% das exportações para a Colômbia”. A Colômbia é nosso sétimo maior parceiro comercial, o que significa que, de fato, há enorme potencial a ser explorado.
Como bem sabem economistas, diplomatas, e cientistas políticos que trabalham na área do comércio internacional e dos acordos de facilitação de comércio e de investimentos, o uso eficaz do soft power, da capacidade de influenciar ou cooptar de modo sutil, é fundamental para que se alcance aquilo que se pretende. Na área dos acordos de comércio, são tantos os interesses envolvidos, específicos e mais gerais, que não há progresso consistente sem o bom uso do soft power. O Mercosul está aí para mostrar como o absoluto mau uso desse poder brando pode descambar para a inércia, ou mesmo para relações absolutamente improdutivas do ponto de vista comercial e econômico.
Pois o Brasil parece estar entendendo isso muito lentamente, mesmo depois das declarações auspiciosas do novo Ministro das Relações Exteriores quando de sua cerimônia de posse. Disse a nota do Itamaraty a respeito do acordo histórico da Colômbia com as FARC: “O Brasil apoia o processo de paz entre o Governo colombiano e as FARC, atualmente em curso em Havana, e entende que sua conclusão em bom termo constituirá importante avanço político para a região”. E, arremata: “Como contribuição brasileira efetiva ao processo de paz, está sendo fortalecida a cooperação bilateral prestada pelo Brasil na área de desenvolvimento rural. A questão agrária é um dos principais temas das negociações entre o Governo colombiano e as FARC, pois está entre as causas estruturais do conflito”.
Brasil, urge sair do labirinto. Ainda que comparecimento ao evento na Colômbia não fosse a ocasião mais adequada para tanto, é bom ouvir as palavras de Garcia Marquez. Parodiando-as, aguardar muito, esperar em demasia, é inimiga das expectativas positivas que se pretende gerar.