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Um decreto para bombar o Galeão, o aeroporto indesejado pelo consumidor

Há algumas razões para o esvaziamento do Galeão, hoje chamado de Tom Jobim

Aeroporto do Galeão, no Rio (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Publicado em 29 de maio de 2023 às 17h56.

Mais uma vez, o governo federal acredita que pode resolver um problema com a mão nada invisível dos decretos. O ministro Márcio França definiu, na última sexta-feira, que vai limitar os voos no Aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio, a partir de julho. A medida, que já tinha sido anunciada em abril, firmava um teto de 10 milhões de passageiros por ano nas pistas situadas na região central do Rio. França, porém, diminuiu agora esse teto para 9 milhões de pessoas. Sua ideia é revitalizar o aeroporto do Galeão, localizado na Ilha do Governador, que viu nos últimos oito anos uma redução de 65 % em suas atividades. Há vídeos na rede social, por sinal, mostrando alas inteiras fechadas daquele que já foi o maior hub de malha aérea do país.

Mais uma vez, o governo se mete onde não deve – ou acha que pode resolver os problemas existentes mudando as regras do jogo em plena partida.

Há algumas razões para o esvaziamento do Galeão, hoje chamado de Tom Jobim. Uma delas é o esvaziamento econômico do Rio de Janeiro em detrimento de São Paulo. Até os anos 1980, os voos internacionais tinham como destino preferencial o Galeão. Quase todos os aviões que partiam de São Paulo para o exterior paravam no Rio – e vários saiam diretamente de lá para o mundo.

Como havia vários passageiros que embarcavam do Rio, aqueles que partiam de São Paulo tinham de fazer uma escala na capital fluminense. Às vezes, tinham até de deixar a aeronave e tomar um café em terra. Uma vez, indo para os Estados Unidos pela finada Pan Am, cheguei atrasado em Guarulhos e o check-in já estava fechado. Fui até o balcão da também finada Vasp e comprei um assento no avião que iria ao Galeão em minutos. Chegando lá, com uma mala de mão, falei com o atendente, que sofria a pressão de vários passageiros amargando uma fila de espera. Como eu tinha vindo de São Paulo, o gerente da Pan Am resolveu me dar o último ticket que sobrara.

Mas há outros fatores. Os turistas, corporativos ou não, preferem desembarcar no Santos Dumont porque ele é mais próximo da Zona Sul, onde estão localizadas as praias e muitos escritórios. As companhias aéreas perceberam isso e turbinaram os voos para o local, especialmente depois de sua reforma, anos atrás.

Curiosamente, há vários passageiros cujo destino é a Zona Oeste da cidade (Barra da Tijuca e arredores) que preferem descer ou embarcar no Centro, quando o mais lógico seria utilizar as facilidades do Tom Jobim, muito mais próximo.

O fato, porém, é que existe uma preferência inequívoca do público pelo Santos Dumont. Em vez de entender o mercado e suas necessidades para encontrar uma solução de mercado que possa reavivar a chama do Galeão, o ministro França prefere obrigar os consumidores a utilizar um aeroporto indesejado.

Ocorre que o Galeão é um negócio tão ruim que a Changi, dona do consórcio que operava o local, o devolveu para a concessão para o governo federal em novembro de 2022. Diante disso, é o caso de se pensar se o Tom Jobim é de fato viável ou se é necessário se criar um novo modelo de negócios para o local.

Talvez fosse melhor estimular o uso do aeroporto através de métodos mais eficazes, oferecendo melhores condições para companhias aéreas e passageiros – em vez de simplesmente obrigar o consumidor a aterrissar onde ele não quer. Mas querer que Márcio França entenda o funcionamento da chamada economia de mercado talvez seja demais.

Infelizmente, temos um governo que prefere o decreto ao diálogo. Quem perde, para variar, é o consumidor.

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Mais uma vez, o governo federal acredita que pode resolver um problema com a mão nada invisível dos decretos. O ministro Márcio França definiu, na última sexta-feira, que vai limitar os voos no Aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio, a partir de julho. A medida, que já tinha sido anunciada em abril, firmava um teto de 10 milhões de passageiros por ano nas pistas situadas na região central do Rio. França, porém, diminuiu agora esse teto para 9 milhões de pessoas. Sua ideia é revitalizar o aeroporto do Galeão, localizado na Ilha do Governador, que viu nos últimos oito anos uma redução de 65 % em suas atividades. Há vídeos na rede social, por sinal, mostrando alas inteiras fechadas daquele que já foi o maior hub de malha aérea do país.

Mais uma vez, o governo se mete onde não deve – ou acha que pode resolver os problemas existentes mudando as regras do jogo em plena partida.

Há algumas razões para o esvaziamento do Galeão, hoje chamado de Tom Jobim. Uma delas é o esvaziamento econômico do Rio de Janeiro em detrimento de São Paulo. Até os anos 1980, os voos internacionais tinham como destino preferencial o Galeão. Quase todos os aviões que partiam de São Paulo para o exterior paravam no Rio – e vários saiam diretamente de lá para o mundo.

Como havia vários passageiros que embarcavam do Rio, aqueles que partiam de São Paulo tinham de fazer uma escala na capital fluminense. Às vezes, tinham até de deixar a aeronave e tomar um café em terra. Uma vez, indo para os Estados Unidos pela finada Pan Am, cheguei atrasado em Guarulhos e o check-in já estava fechado. Fui até o balcão da também finada Vasp e comprei um assento no avião que iria ao Galeão em minutos. Chegando lá, com uma mala de mão, falei com o atendente, que sofria a pressão de vários passageiros amargando uma fila de espera. Como eu tinha vindo de São Paulo, o gerente da Pan Am resolveu me dar o último ticket que sobrara.

Mas há outros fatores. Os turistas, corporativos ou não, preferem desembarcar no Santos Dumont porque ele é mais próximo da Zona Sul, onde estão localizadas as praias e muitos escritórios. As companhias aéreas perceberam isso e turbinaram os voos para o local, especialmente depois de sua reforma, anos atrás.

Curiosamente, há vários passageiros cujo destino é a Zona Oeste da cidade (Barra da Tijuca e arredores) que preferem descer ou embarcar no Centro, quando o mais lógico seria utilizar as facilidades do Tom Jobim, muito mais próximo.

O fato, porém, é que existe uma preferência inequívoca do público pelo Santos Dumont. Em vez de entender o mercado e suas necessidades para encontrar uma solução de mercado que possa reavivar a chama do Galeão, o ministro França prefere obrigar os consumidores a utilizar um aeroporto indesejado.

Ocorre que o Galeão é um negócio tão ruim que a Changi, dona do consórcio que operava o local, o devolveu para a concessão para o governo federal em novembro de 2022. Diante disso, é o caso de se pensar se o Tom Jobim é de fato viável ou se é necessário se criar um novo modelo de negócios para o local.

Talvez fosse melhor estimular o uso do aeroporto através de métodos mais eficazes, oferecendo melhores condições para companhias aéreas e passageiros – em vez de simplesmente obrigar o consumidor a aterrissar onde ele não quer. Mas querer que Márcio França entenda o funcionamento da chamada economia de mercado talvez seja demais.

Infelizmente, temos um governo que prefere o decreto ao diálogo. Quem perde, para variar, é o consumidor.

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