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Por que Lula não para de falar em Bolsonaro?

Não é a primeira vez que Lula usa um antecessor para valorizar sua administração

Dia sim, outro também, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lembra de seu antecessor, Jair Bolsonaro, em seus discursos (Lula: Nelson Almeida/Getty Images - Bolsonaro: Clauber Cleber Caetano/PR/Divulgação)
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Da Redação

Publicado em 6 de março de 2023 às 10h19.

Aluizio Falcão Filho

Dia sim, outro também, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lembra de seu antecessor, Jair Bolsonaro, em seus discursos. Na semana passada, por exemplo, chamou o ex-presidente de psicopata e, na cerimônia na qual relançou o Bolsa-Família, disse que o governo anterior gastou muito pouco em obras de infraestrutura. Nos próximos dias, a ladainha vai continuar. Mas por que Lula não para de falar em Bolsonaro?

Não é a primeira vez que Lula usa um antecessor para valorizar sua administração. Em seus primeiros anos de governo, ele vivia cutucando Fernando Henrique Cardoso. Certa vez, disse que recebera dele uma “herança para lá de maldita” (o termo pegou junto aos petistas e seus apoiadores e era utilizado frequentemente na imprensa e no Congresso). Portanto, é uma forma que Lula tem de mostrar que eventuais dificuldades deste governo têm a ver com problemas que foram herdados da gestão passada.

Além disso, Lula precisa manter acesa a chama da polarização. Sua eleição se deve em parte à insatisfação de muitos eleitores do centro que não suportavam mais as bravatas e os preconceitos destilados por Bolsonaro. Esses eleitores moderados fizeram a diferença em uma eleição apertada – e precisam ser lembrados constantemente daquele que ocupava antes o Palácio do Planalto. Se a polarização acabar, Lula chegará a 2026 sem ter um adversário radical para combater – e, caso isso ocorra, ele pode perder volume eleitoral.

Lula também menciona Bolsonaro por conta do revanchismo, ainda em plena ebulição junto ao núcleo duro do PT – e no peito do presidente, que ficou 580 dias preso por conta da Operação Lava-Jato. Lula sustenta que foi encarcerado por conta de um complô engendrado por seu oponente e os responsáveis pela força-tarefa, como o ex-juiz e atual senador Sergio Moro (as propinas comprovadamente pagas a petistas, neste caso, foram apagadas da memória do presidente). O discurso revanchista, ainda, é uma espécie de reconhecimento aos militantes que acamparam em frente à prisão na qual Lula ficou em Curitiba – entre os quais se incluem a primeira-dama, Janja, e vários petistas que estão lotados no Palácio do Planalto.

Como diria o presidente Tancredo Neves, “quando a esperteza é grande demais, engole o dono”. A insistência em manter vivo o nome de Bolsonaro é uma estratégia política válida, mas pode ser arriscada. Lula está dando palco a alguém que está isolado em Orlando, nos Estados Unidos, e sem condições de aparecer muito. Em um eventual declínio da popularidade de Lula, Bolsonaro pode ser reabilitado – aliás, como o próprio petista foi em 2022.

O ex-presidente Bolsonaro, no entanto, deve ter seus direitos políticos cassados pelo Tribunal Superior Eleitoral – pelo menos é o que se pode concluir a partir da movimentação de vários ministros. Neste caso, se continuar a falar do oponente, Lula simplesmente vai gastar seu capital político à toa.

A prudência manda tomar cuidado com os perigos que enxergamos – mas, principalmente, com aqueles outros riscos que ainda não conseguimos ver. Lula, por enquanto, só está atirando naquilo que pensa ver.

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Aluizio Falcão Filho

Dia sim, outro também, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lembra de seu antecessor, Jair Bolsonaro, em seus discursos. Na semana passada, por exemplo, chamou o ex-presidente de psicopata e, na cerimônia na qual relançou o Bolsa-Família, disse que o governo anterior gastou muito pouco em obras de infraestrutura. Nos próximos dias, a ladainha vai continuar. Mas por que Lula não para de falar em Bolsonaro?

Não é a primeira vez que Lula usa um antecessor para valorizar sua administração. Em seus primeiros anos de governo, ele vivia cutucando Fernando Henrique Cardoso. Certa vez, disse que recebera dele uma “herança para lá de maldita” (o termo pegou junto aos petistas e seus apoiadores e era utilizado frequentemente na imprensa e no Congresso). Portanto, é uma forma que Lula tem de mostrar que eventuais dificuldades deste governo têm a ver com problemas que foram herdados da gestão passada.

Além disso, Lula precisa manter acesa a chama da polarização. Sua eleição se deve em parte à insatisfação de muitos eleitores do centro que não suportavam mais as bravatas e os preconceitos destilados por Bolsonaro. Esses eleitores moderados fizeram a diferença em uma eleição apertada – e precisam ser lembrados constantemente daquele que ocupava antes o Palácio do Planalto. Se a polarização acabar, Lula chegará a 2026 sem ter um adversário radical para combater – e, caso isso ocorra, ele pode perder volume eleitoral.

Lula também menciona Bolsonaro por conta do revanchismo, ainda em plena ebulição junto ao núcleo duro do PT – e no peito do presidente, que ficou 580 dias preso por conta da Operação Lava-Jato. Lula sustenta que foi encarcerado por conta de um complô engendrado por seu oponente e os responsáveis pela força-tarefa, como o ex-juiz e atual senador Sergio Moro (as propinas comprovadamente pagas a petistas, neste caso, foram apagadas da memória do presidente). O discurso revanchista, ainda, é uma espécie de reconhecimento aos militantes que acamparam em frente à prisão na qual Lula ficou em Curitiba – entre os quais se incluem a primeira-dama, Janja, e vários petistas que estão lotados no Palácio do Planalto.

Como diria o presidente Tancredo Neves, “quando a esperteza é grande demais, engole o dono”. A insistência em manter vivo o nome de Bolsonaro é uma estratégia política válida, mas pode ser arriscada. Lula está dando palco a alguém que está isolado em Orlando, nos Estados Unidos, e sem condições de aparecer muito. Em um eventual declínio da popularidade de Lula, Bolsonaro pode ser reabilitado – aliás, como o próprio petista foi em 2022.

O ex-presidente Bolsonaro, no entanto, deve ter seus direitos políticos cassados pelo Tribunal Superior Eleitoral – pelo menos é o que se pode concluir a partir da movimentação de vários ministros. Neste caso, se continuar a falar do oponente, Lula simplesmente vai gastar seu capital político à toa.

A prudência manda tomar cuidado com os perigos que enxergamos – mas, principalmente, com aqueles outros riscos que ainda não conseguimos ver. Lula, por enquanto, só está atirando naquilo que pensa ver.

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