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O que Alckmin está fazendo no governo – e quais deveriam ser suas prioridades

Alckmin tem dado prioridade à aproximação com militares, representantes do agronegócio e congressistas da oposição

Geraldo Alckmin: a missão do vice-presidente servir de anteparo ao governo (Roque de Sá/Agência Senado/Flickr)
Geraldo Alckmin: a missão do vice-presidente servir de anteparo ao governo (Roque de Sá/Agência Senado/Flickr)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 28 de fevereiro de 2023 às, 09h30.

O vice-presidente Geraldo Alckmin foi escolhido para compor a chapa ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva com um propósito muito claro: suavizar a resistência que empresários e banqueiros tinham em relação a um eventual governo do PT. Até por conta disso, acumula a função de vice com a de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Teoricamente, ele é o principal articulador do governo em direção ao empresariado. Mas, na prática, está atuando mais em outras esferas que não as da Indústria, Comércio e Serviços.

Reportagem publicada ontem no jornal Folha de S. Paulo mostra que Alckmin tem dado prioridade à aproximação com militares, representantes do agronegócio e congressistas da oposição. Quando analisamos a conta do ex-governador paulista no Twitter, vê-se que o relacionamento com o empresariado, de fato, fica em segundo plano. Das cerca de 140 publicações desde 1º de janeiro, há vinte que estão de alguma forma relacionadas às atividades do ministério ocupado pelo ex-tucano.

Alckmin atua, de acordo com a Folha, em campos que já seriam cobertos por outros ministérios. Os militares, por exemplo, são de responsabilidade do ministro da Defesa, José Múcio; o agronegócio, por sua vez, está na área do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro; por fim, os parlamentares de oposição geralmente são de alçada dos ministros da Casa Civil, Rui Costa, e das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

Os empresários, no entanto, enxergam o governo com preocupação. O primeiro motivo é o discurso claramente esquerdista de Lula. O segundo é o fogo amigo entre o ministro da Fazendo, Fernando Haddad, e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, que quer a adoção de medidas heterodoxas na economia. Por fim, temos ainda uma batalha em torno dos juros praticados pelo Banco Central (nesse caso, pelo menos, há uma parcela dos empresários que também critica a continuidade das altas taxas, mesmo dentro de um ambiente no qual a inflação continua acelerando) que joga os agentes do mercado na incerteza.

O vice-presidente poderia entrar em campo para aparar essas arestas e trazer o ponto de vista do empresariado para Lula e para as alas mais radicais do PT. Esse mandato ocorre em uma época bem diferente daquela dos primeiros anos petistas. Nos anos 2000, os empresários não se metiam em política e evitavam entrar em atrito com o governo. O controlador do Grupo Guararapes, Flávio Rocha, definiu esse tipo de homem de negócios como o “empresário moita”, uma espécie que escasseou depois da Operação Lava-Jato. A partir desse momento, a direita ressurgiu no país e os empresários começaram a se envolver na política. A volta de Lula ao poder não interrompe esse processo. Em boa parte das rodas de conversas do empresariado, o governo é criticado impiedosamente – e é apenas uma questão de tempo para que representantes estelares do mercado comecem uma rodada de entrevistas com críticas à administração federal.

A missão de Alckmin, assim, é servir de anteparo ao governo e atuar como ponte entre os defensores da livre iniciativa e o Planalto. Para isso, no entanto, o vice-presidente precisa se reciclar. Enquanto governador, usava sua simpatia para capturar apoio e costumava gastar um bom tempo de suas reuniões contando piadas (essa habilidade, diga-se, não está entre os melhores talentos do ministro) aos interlocutores. Agora, a situação é diferente e ele é representante de um governo visto com reservas pelos empresários. É preciso mostrar paciência para escutar e ter grande habilidade para obter resultados junto ao comando petista.

Curiosamente, na semana que passou, um tema bastante comentado pelos empresários é relacionado ao agronegócio, que seria uma das áreas de atuação de Alckmin no momento. Trata-se de um vídeo postado pelo deputado federal Guilherme Boulos, no qual ele reclamava que um grupo sem-terra havia sido expulso de uma propriedade invadida. Segundo ele, por “milicianos e jagunços”. É no mínimo incoerente que alguém proteste contra um indivíduo que está protegendo a sua propriedade e expulsa invasores. É como se o assaltante reclamasse do assaltado que reagiu ao crime e evitou ser roubado. Essa, no entanto, é a lógica do PT e de apoiadores