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Eleição em SP: será o fim da polarização?

Desde 2018, víamos em praticamente todos os grandes pleitos uma divisão entre esquerda e direita

Boulos, Nunes e Marçal (Leandro Paiva/Renato Pizzutto/Band/Divulgação)
Boulos, Nunes e Marçal (Leandro Paiva/Renato Pizzutto/Band/Divulgação)

Qualquer que seja o resultado das eleições para a prefeitura de São Paulo, já podemos dizer que há um perdedor em potencial: a polarização política. As recentes pesquisas têm mostrado um empate técnico triplo entre os candidatos Ricardo Nunes, Guilherme Boulos e Pablo Marçal. Desde 2018, víamos em praticamente todos os grandes pleitos uma divisão entre esquerda e direita. Na campanha paulistana, porém, temos representantes distintos, cada um com a bandeira do centro, da esquerda e da direita.

Até recentemente, os eleitores centristas decidiram as eleições por adesão. No plano nacional, por exemplo, penderam para Jair Bolsonaro em 2018 e liquidaram a fatura em favor da direita. Mas, quatro anos depois, uma parte razoável deste eleitorado preferiu sufragar Luiz Inácio Lula da Silva, fazendo a vitória ser da esquerda.

O que essa eleição tem de diferente? Um equilíbrio de forças políticas, causado principalmente pela entrada de Pablo Marçal na disputa. Antes que isso ocorresse, o prefeito Ricardo Nunes era encarado – sem muito entusiasmo, é verdade – como o candidato da direita contra Boulos. Conforme Marçal virou candidato, os direitistas enxergaram nele um representante ideológico melhor que o alcaide. Essa mudança descortinou o que todos já sabiam: Nunes é um político muito mais identificado com o centro do que com a direita.

Aqui vale um parêntese: o termo “centro” talvez tenha mais a ver com moderação no trato político. Quase cem por cento dos centristas defendem o capitalismo, cada qual à sua maneira. Portanto, provavelmente uma definição melhor que o centro seja “direita moderada”.

Temos uma discussão semântica parecida quando falamos em extrema-direita, termo que frequentemente é utilizado para definir o quadrante ideológico habitado por Pablo Marçal. A maioria esmagadora desses eleitores dificilmente leva em consideração um liberalismo econômico extremado na hora de escolher um candidato. Geralmente preferem nomes que preguem uma mensagem antissistema, combate à corrupção e alinhamento com valores conservadores e religiosos. Dentro deste cenário, Jair Bolsonaro (que sempre disse não entender nada de economia) caiu feito uma luva em 2018, assim como Pablo Marçal é a bola da vez junto ao eleitorado paulistano mais alinhado com o conservadorismo.

Ainda é preciso verificar os resultados das próximas pesquisas para ver se esse empate triplo irá persistir. Por isso, a próxima enquete a ser divulgada, da Quaest, no dia 11 de setembro, tem uma importância crucial. O jogo está aberto, a ponto de não existir mais certeza de quem serão os nomes que estarão no segundo turno. Até recentemente, a dúvida era quem seria o adversário de Boulos. Mas, até a participação do deputado pelo PSOL na etapa final das eleições é questionado por alguns especialistas em opinião pública: na última pesquisa do Instituto Futura, por exemplo, Boulos aparece numericamente em terceiro lugar (na demais, entretanto, está em primeiro ou segundo lugares).

Até agora, tivemos apenas candidatos de centro formados na escola Geraldo Alckmin, cujo famoso apelido é “picolé de chuchu”. O prefeito Nunes faz parte dessa estirpe, já que é considerado um político racional, controlado e de fala mansa – um estereótipo do centrista. Mas o que acontecerá se os próximos representantes do centro forem candidatos mais jovens, carismáticos e alinhados com as redes sociais? Isso poderá colocar as eleições de 2026 em um cenário semelhante ao que observamos aqui em São Paulo: um pleito com três pontas fortes, chacoalhando o cenário polarizado no qual vivemos no passado recente.