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Debater ou não debater com os filhos, eis a questão

Podemos dar os ombros e deixá-los acreditar em coisas que julgamos erradas?

Podemos dar os ombros e deixá-los acreditar em coisas que julgamos erradas? (thinkstock)
Podemos dar os ombros e deixá-los acreditar em coisas que julgamos erradas? (thinkstock)

Nesta semana, vi algumas vezes aquele meme com Keanu Reeves que prega a falta de vontade em debater: “Se a pessoa disse que um mais um é igual a cinco, concordo e sigo em frente”. A ideia por trás dessa figurinha é correta. Não vale a pena gastar energia debatendo com idiotas. Até aí, tudo bem. Mas o problema é que há uma mensagem implícita neste meme – a de que debater não é necessário em nossas vidas.

Podemos ignorar alguns entreveros em nome de nossa sanidade mental, e isso é totalmente válido dependendo de nosso debatedor. Há oponentes que desejam apenas atacar, sem o propósito de debater. Neste caso, talvez o mais certo a fazer seja mesmo esquecer o duelo intelectual e se fazer de bobo.

Mas e quando o seu debatedor é um filho ou uma filha? Podemos dar os ombros e deixá-los acreditar em coisas que julgamos erradas? Sabemos o quanto é desgastante uma discussão familiar. Por isso, muitas vezes, as evitamos. Mas e se uma de suas crianças diz algo que tem o poder de deixá-lo estarrecido, podemos ficar calados?

Antes de mais nada, vamos entender se aquela frase que chocou faz sentido ou não. Muitas vezes, é apenas uma opinião diferente da sua – somente isso. E, para um pai, incomoda muito perceber que um filho não compartilha de algumas características de sua personalidade, especialmente aquelas das quais você se orgulha.

Nesses casos, talvez o melhor seja não agir de forma virulenta. A agressividade raramente gera reações positivas. Releve a suposta barbaridade em sua mente: afinal, até o mais inteligente e sensível dos homens e das mulheres tem seus momentos de idiotice. Exercer o perdão para aqueles que você não pode excluir da sua vida, assim, é mais que desejável: é imperativo.

Muitas vezes, aquilo que consideramos asneiras é apenas um tema corriqueiro nas redes sociais. Aliás, esse é um dos saldos da mídia digital nesse Século 21: a burrice se propaga em uma rapidez avassaladora, levando preconceitos, egoísmo e ideias rasteiras a todos. O problema é que, às vezes, você, que se julga imune a esse tipo de coisa, acaba sendo contaminado pelo mesmo mal.

Para resolver essa propagação de ideias nefastas que podem contaminar nossos filhos, só há uma coisa a fazer: tentar ensiná-los. Mas somente eles é que vão decidir se querem aprender alguma coisa com você. Este, no fundo, é o desafio: fazer alguém bem mais novo enxergar que sua experiência vale alguma coisa.

Mas existem dois tipos de ensinamentos: os questionáveis e os inquestionáveis. No entanto, com a polarização, até fatos inquestionáveis passaram a ser colocados em dúvida ou negados. Neste contexto, há um agravante. Para os mais novos, quase tudo pode ser posto em dúvida. Não os culpe: eles cresceram em um ambiente no qual nada é sagrado. Isso serve para tudo, inclusive para a sua pretensa autoridade paterna ou materna.

Se você quiser fazer como o meme do Keanu Reeves, vá em frente. Eu, porém, escolho ficar com o pior dos mundos: vou debater, mesmo encarando uma alta chance de não ser ouvido. Para isso, é necessária uma dose sobre-humana de paciência, eu sei.

Mas não vejo outra alternativa, até porque ainda não inventaram uma carta de demissão para pai ou para mãe.