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Bolsonaro apoiou e Russomanno caiu. Significa?

Pode-se dizer que o maior adversário de Russomano acaba sendo ele mesmo

(Marcos Corrêa/PR/Divulgação)
BG

Bibiana Guaraldi

Publicado em 26 de outubro de 2020 às 12h52.

Apelidado de Cavalo Paraguaio, o deputado federal Celso Russomanno sempre largou bem nas campanhas das eleições municipais que disputou. Na de 2020, não foi diferente. Chegou a ter 29 % das intenções de voto. As pesquisas recentes, entretanto, o colocam no patamar de 20 % e apontam uma eventual derrota em um segundo turno com o prefeito Bruno Covas . Coincidentemente, alguns dias antes dessa queda vertiginosa nas pesquisas, o deputado recebeu o apoio do presidente Jair Bolsonaro . Os fatos teriam uma ligação entre si?

A forma mais óbvia de se enxergar esse fenômeno é atribuir o encolhimento da candidatura de Russomanno à rejeição que o presidente sofre por parte do eleitorado da capital paulista. Mas, quando lembramos que esse tipo de tombo já ocorreu em pelo menos duas ocasiões, é o caso de se questionar se Bolsonaro tem mesmo alguma coisa a ver com o derretimento de seu candidato.

Russomanno, por conta de sua atuação como paladino do consumidor em programas de TV, tem um alto índice de recall. Ele é conhecido por grande parte do eleitorado e percebido como alguém que está comprometido em melhorar a vida da população. Por isso, sempre larga bem nas primeiras pesquisas eleitorais. O que acontece, então, para provocar sempre um mergulho nas intenções dos eleitores?

Russomanno acaba perdendo fôlego principalmente por três fatores, que não necessariamente têm alguma coisa a ver com o presidente.

Em primeiro lugar, as enquetes iniciais de um pleito captam muito mais os nomes que estão na memória do eleitorado – não necessariamente os candidatos que serão de fato sufragados. Na última década, porém, a percepção de que estas primeiras pesquisas não servem para muita coisa aumentou. Uma das razões é o alto índice de indecisos, que distorce bastante os resultados. Os últimos pleitos, ainda, acabaram sendo decididos, na prática, na última semana de campanha. Com isso, só há um tipo de enquete que pode captar alguma tendência com acurácia: a de boca de urna.

Além disso, pode-se dizer que o maior adversário de Russomanno acaba sendo ele mesmo. Em 2012, por exemplo, o candidato resolveu dizer que os usuários de transporte público na cidade pagariam apenas pelo trecho utilizado (quem anda mais, paga mais; quem anda menos, paga menos). A ideia até fazia algum sentido do ponto de vista racional. Mas significaria o fim do bilhete único, cuja popularidade era (e é) alta. O Partido dos Trabalhadores explorou esse episódio e seu candidato e Fernando Haddad, ao final, foi eleito. Desta vez, um pouco antes de sofrer a última queda, Russomanno disse que os sem-teto tinham mais resistência ao coronavírus porque não tomavam banho, uma frase que pegou mal junto a boa parte do eleitorado (entre aqueles que não têm onde morar estão inúmeros viciados em drogas que sofrem de várias doenças, diga-se de passagem).

Russomanno, apesar de ser um profissional de comunicação (começou sua carreira nos anos 1980 como apresentador do programa de variedades “Circuito Night and Day”), não consegue passar credibilidade nos debates e em entrevistas. Boa parte dos candidatos se preocupa em desfiar números e estatísticas, mostrando conhecimento sobre o funcionamento da cidade de São Paulo. Neste sentido, a performance do paladino dos consumidores precisa melhorar. Por fim, percebe-se também que, no corpo a corpo, o pleiteante a prefeito não se sente muito à vontade. Ao contrário da maioria dos políticos, Russomanno não se mostra desinibido junto a multidões e isso pode, ao longo da campanha, prejudicá-lo.

Essa eleição foi fortemente influenciada pela pandemia. Bruno Covas, antes do coronavírus, ainda não tinha a notoriedade de agora e soube aproveitar a exposição pública para trabalhar sua imagem. Tomou algumas decisões questionáveis, é verdade, mas não ficou parado. Esse é um ponto importantíssimo em política. Quem não se mexe é esquecido.

Os nove pontos percentuais de Russomanno que evaporaram foram distribuídos entre o próprio Covas, Márcio França , Artur do Val e Joice Hasselmann. Boulos inflou bastante, mas parece ter um teto de crescimento e é o candidato dos sonhos de Bruno Covas para o segundo turno.

Pelo menos dois partidos encomendaram pesquisas cujos resultados não batem com os divulgados por Datafolha e Ibope (isso ocorre com muita frequência, é importante lembrar). Nesses dois estudos, a liderança também é de Covas, mas em proporções mais modestas. Se houver uma transferência maciça dos votos de Russomanno para outro candidato que não Boulos ou Russomanno, o esforço de Covas para se reeleger terá de ser turbinado. Veja o caso de Márcio França: o ex-governador encarna o espírito anti-Doria e não captura totalmente a rejeição que Bolsonaro pode eventualmente transferir a Russomanno. No caso de uma reviravolta no segundo turno, o fator de imprevisibilidade entraria em campo e traria uma nova onda de preocupações ao atual ocupante da prefeitura paulistana.

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Apelidado de Cavalo Paraguaio, o deputado federal Celso Russomanno sempre largou bem nas campanhas das eleições municipais que disputou. Na de 2020, não foi diferente. Chegou a ter 29 % das intenções de voto. As pesquisas recentes, entretanto, o colocam no patamar de 20 % e apontam uma eventual derrota em um segundo turno com o prefeito Bruno Covas . Coincidentemente, alguns dias antes dessa queda vertiginosa nas pesquisas, o deputado recebeu o apoio do presidente Jair Bolsonaro . Os fatos teriam uma ligação entre si?

A forma mais óbvia de se enxergar esse fenômeno é atribuir o encolhimento da candidatura de Russomanno à rejeição que o presidente sofre por parte do eleitorado da capital paulista. Mas, quando lembramos que esse tipo de tombo já ocorreu em pelo menos duas ocasiões, é o caso de se questionar se Bolsonaro tem mesmo alguma coisa a ver com o derretimento de seu candidato.

Russomanno, por conta de sua atuação como paladino do consumidor em programas de TV, tem um alto índice de recall. Ele é conhecido por grande parte do eleitorado e percebido como alguém que está comprometido em melhorar a vida da população. Por isso, sempre larga bem nas primeiras pesquisas eleitorais. O que acontece, então, para provocar sempre um mergulho nas intenções dos eleitores?

Russomanno acaba perdendo fôlego principalmente por três fatores, que não necessariamente têm alguma coisa a ver com o presidente.

Em primeiro lugar, as enquetes iniciais de um pleito captam muito mais os nomes que estão na memória do eleitorado – não necessariamente os candidatos que serão de fato sufragados. Na última década, porém, a percepção de que estas primeiras pesquisas não servem para muita coisa aumentou. Uma das razões é o alto índice de indecisos, que distorce bastante os resultados. Os últimos pleitos, ainda, acabaram sendo decididos, na prática, na última semana de campanha. Com isso, só há um tipo de enquete que pode captar alguma tendência com acurácia: a de boca de urna.

Além disso, pode-se dizer que o maior adversário de Russomanno acaba sendo ele mesmo. Em 2012, por exemplo, o candidato resolveu dizer que os usuários de transporte público na cidade pagariam apenas pelo trecho utilizado (quem anda mais, paga mais; quem anda menos, paga menos). A ideia até fazia algum sentido do ponto de vista racional. Mas significaria o fim do bilhete único, cuja popularidade era (e é) alta. O Partido dos Trabalhadores explorou esse episódio e seu candidato e Fernando Haddad, ao final, foi eleito. Desta vez, um pouco antes de sofrer a última queda, Russomanno disse que os sem-teto tinham mais resistência ao coronavírus porque não tomavam banho, uma frase que pegou mal junto a boa parte do eleitorado (entre aqueles que não têm onde morar estão inúmeros viciados em drogas que sofrem de várias doenças, diga-se de passagem).

Russomanno, apesar de ser um profissional de comunicação (começou sua carreira nos anos 1980 como apresentador do programa de variedades “Circuito Night and Day”), não consegue passar credibilidade nos debates e em entrevistas. Boa parte dos candidatos se preocupa em desfiar números e estatísticas, mostrando conhecimento sobre o funcionamento da cidade de São Paulo. Neste sentido, a performance do paladino dos consumidores precisa melhorar. Por fim, percebe-se também que, no corpo a corpo, o pleiteante a prefeito não se sente muito à vontade. Ao contrário da maioria dos políticos, Russomanno não se mostra desinibido junto a multidões e isso pode, ao longo da campanha, prejudicá-lo.

Essa eleição foi fortemente influenciada pela pandemia. Bruno Covas, antes do coronavírus, ainda não tinha a notoriedade de agora e soube aproveitar a exposição pública para trabalhar sua imagem. Tomou algumas decisões questionáveis, é verdade, mas não ficou parado. Esse é um ponto importantíssimo em política. Quem não se mexe é esquecido.

Os nove pontos percentuais de Russomanno que evaporaram foram distribuídos entre o próprio Covas, Márcio França , Artur do Val e Joice Hasselmann. Boulos inflou bastante, mas parece ter um teto de crescimento e é o candidato dos sonhos de Bruno Covas para o segundo turno.

Pelo menos dois partidos encomendaram pesquisas cujos resultados não batem com os divulgados por Datafolha e Ibope (isso ocorre com muita frequência, é importante lembrar). Nesses dois estudos, a liderança também é de Covas, mas em proporções mais modestas. Se houver uma transferência maciça dos votos de Russomanno para outro candidato que não Boulos ou Russomanno, o esforço de Covas para se reeleger terá de ser turbinado. Veja o caso de Márcio França: o ex-governador encarna o espírito anti-Doria e não captura totalmente a rejeição que Bolsonaro pode eventualmente transferir a Russomanno. No caso de uma reviravolta no segundo turno, o fator de imprevisibilidade entraria em campo e traria uma nova onda de preocupações ao atual ocupante da prefeitura paulistana.

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