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Bolsogarcia em São Paulo?

Seria uma reedição da dupla “Bolsodoria”, que ganhou as eleições de 2018. Com uma diferença: logo depois das eleições, Doria rompeu com Bolsonaro

Governador de São Paulo Rodrigo Garcia (Estado de São Paulo/Flickr)
Governador de São Paulo Rodrigo Garcia (Estado de São Paulo/Flickr)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 21 de julho de 2022 às, 09h35.

Aluizio Falcão Filho

Política, no Brasil, tem atestado ISO 9002 de imprevisibilidade. O caso da sucessão paulista mostra como nosso país é pródigo em criar cenários eleitorais surpreendentes e desconcertantes. Alguns meses atrás, a candidatura do ex-ministro Tarcísio de Freitas ao Palácio dos Bandeirantes se mostrava sólida, com percentuais crescentes nas pesquisas.

Ocorre que, na campanha, o ex-ministro exerceu seu direito de independência política. Assim, dizia em entrevistas confiar nas urnas eletrônicas e nas vacinas contra a Covid-19 – ao contrário das opiniões de seu padrinho político, o presidente Jair Bolsonaro, sobre esses temas. O presidente, magoado com essa atitude, começou a se distanciar da campanha do ex-ministro. O jornal O Globo, ao perceber essa tendência, foi além: mostrou que o comando eleitoral do governador Rodrigo Garcia, além de capturar o esfriamento das ligações entre Bolsonaro e Tarcísio, tem intenções de se aproximar do presidente e obter seu apoio.

Seria uma reedição da dupla “Bolsodoria”, que ganhou as eleições de 2018. Com uma diferença: logo depois das eleições, João Doria rompeu com o presidente Jair Bolsonaro, se transformando em um forte nome da oposição.

Ao criar o selo “Bolsogarcia”, o governador resolve três grandes problemas. O primeiro é dissolver a rejeição dos eleitores paulistas (muitos não querem votar de jeito nenhum em um candidato patrocinado por João Doria). Outro grande desafio: ao costurar um acordo com o Planalto, pode segurar o crescimento de Tarcísio junto ao eleitorado conservador, localizado no interior de São Paulo. Por fim, Garcia pode mostrar que tem brilho próprio e que anda por suas próprias pernas ao se perfilar ao lado de Bolsonaro.

Há riscos nessa estratégia: Garcia pode afugentar o eleitor tradicional do PSDB, que prefere distância de Bolsonaro e de Luiz Inácio Lula da Silva. Além disso, os eleitores que estão à direita no espectro ideológico podem não abandonar a candidatura de Tarcísio e embarcar na canoa tucana.

É o segundo baque que a candidatura de Tarcísio sofre nos últimos tempos: o primeiro foi a retirada da candidatura do apresentador José Luiz Datena ao Senado, que seria em tese um grande puxador de votos. Sem o apoio de Bolsonaro, sua candidatura ficará à deriva.

O desentendimento entre presidente e ex-ministro, no entanto, parece apenas uma rusga sem maiores consequências. Tarcísio deve se acertar com seu padrinho e se comportar de um jeito mais bolsonarista daqui para frente. Mas precisa entregar outra contrapartida – a volta do crescimento de suas intenções estaduais de voto para turbinar a campanha presidencial.

De seu lado, o presidente não tem interesse de se aproximar de Garcia, pois esse seria um movimento que desagradaria bastante seus seguidores mais fervorosos. Ou seja, Bolsonaro pode estar usando Garcia apenas com o objetivo de criar ciúme no núcleo da campanha de Tarcísio e trazê-lo para perto, em um plano de comunicação que trará temas mais parecidos com os elaborados pelo presidente.

Dará certo essa a estratégia do presidente? Talvez. Mas, antes de mais nada, é preciso tomar cuidado dobrado com essa situação. Afinal, como está registrado no dito popular, “ciúme de homem é muito pior que o de mulher”.