Exame.com
Continua após a publicidade

Algumas dúvidas sobre o chip implantado no cérebro

Elon Musk anunciou que uma de suas empresas, a Neuralink, realizou o implante de um chip em cérebro humano

Neuralink, de Elon Musk
Neuralink, de Elon Musk

Talvez a maior notícia científica dos últimos anos foi divulgada ontem – o onipresente Elon Musk anunciou que uma de suas empresas, a Neuralink, realizou o implante de um chip em cérebro humano que permite ao usuário utilizar telefones e computadores, por exemplo, apenas pela ação do pensamento (nesta fase, apenas indivíduos sem membros do corpo, como braços e pernas, poderão experimentar a nova tecnologia).

É importante ressaltar que outros chips já foram acoplados à mente humana, mas com finalidades diferentes da “Telepathy”, o sugestivo nome criado pela empresa de Musk.

Isso, evidentemente, é só o começo. Musk pretende estender o uso do chip para outros equipamentos e, mais à frente, usar essa ferramenta para aumentar a inteligência humana. “Imagine se Stephen Hawking pudesse se comunicar mais rápido que um datilógrafo ou leiloeiro. Esse é o objetivo”, afirmou Musk em rede social (leiloeiros americanos, especialmente os de gado, falam muito rápido quando estão anunciando os produtos às plateias).

Aumentar a inteligência dos seres humanos é um objetivo de vários cientistas – e preocupação de alguns teóricos, como o autor israelense Yuval Harari. Ele acredita que os chips vão criar duas castas na sociedade: aqueles que são superdotados pela tecnologia e aqueles que não são. Isso, para ele, terá impactos terríveis na sociedade por conta do desequilíbrio que será causado por essa diferença.

Ocorre que o sistema capitalista sempre busca baratear e popularizar um determinado produto tecnológico – especialmente um chip com esse apelo, o de melhorar a inteligência. Dessa forma, se duas castas forem formadas, a tendência é a de que o chip se popularize rapidamente e iguale a sociedade, exatamente o que aconteceu com a disseminação dos telefones celulares.

Mas aumentar a inteligência talvez não seja suficiente para que nos tornemos uma espécie mais evoluída. É possível ver pessoas inteligentes e com preconceitos pré-históricos. Um chip melhoraria o discernimento desses indivíduos, a ponto de diminuir a intolerância? Ou simplesmente vai fornecer novos argumentos para fortalecer posições retrógradas?

Outro ponto importante é a capacidade de analisar um processo antes de dar início a um trabalho. Como o próprio Musk diz, “possivelmente o erro mais comum de um engenheiro inteligente é otimizar algo que não deveria existir”. Para isso, no entanto, não é preciso inteligência – e sim bom senso.

Tenho três dúvidas sobre o funcionamento desse chip:

SONHOS – O chip continua funcionando durante o sono? Que comandos ele pode acionar se o usuário estiver, por exemplo, sonhando? A Neuralink informou que o aparelho foi instalado em uma área do cérebro que coordena os movimentos e, assim, não estaria sujeito aos efeitos do inconsciente. Mesmo assim, é bom efetuar testes neste sentido. Prevenir é melhor que remediar.

ROMPANTES – Várias vezes temos o impulso de fazer alguma coisa e nos arrependemos segundos depois. Como vai se comportar o chip nessa hora?  

HACKERS – Nosso cérebro, uma vez abrigando um chip, pode ser acessado por alguém de fora? Ou seja, é possível hackear o cérebro de quem instalou um chip? Obrigar alguém a seguir ordens?

Essas e outras perguntas vão surgir com o tempo. Mesmo que a ideia pareça assustadora, precisamos nos acostumar com ela. A alternativa ao chip é uma vida muito mais limitada e sem nenhuma competitividade.