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A polarização tira a importância dos debates presidenciais?

Se tudo ficar mais ou menos como já estava, é sinal de que debates não têm mais o poder de influenciar uma eleição, como ocorria antes

Soraya Thronicke (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Soraya Thronicke (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 31 de agosto de 2022 às, 13h16.

Aluizio Falcão Filho

Ainda não temos pesquisas nacionais realizadas após o debate transmitido pela TV Bandeirantes no último domingo. Mas a maioria dos analistas políticos acredita que não haverá grandes oscilações nas próximas enquetes, que deverão manter a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva e talvez um pequeno avanço dos percentuais relativos ao presidente Jair Bolsonaro.

Estas previsões representam um contraponto aos resultados de um estudo pela Quaest, que mergulhou nas redes sociais durante a transmissão do debate e compilou menções positivas e negativas em relação aos participantes. Segundo esse levantamento, Ciro Gomes venceu o debate, seguido de Simone Tebet. Abaixo, o ranking final, elaborado pela Quaest:

+ Ciro Gomes – 51% menções positivas; 49% menções negativas

+ Simone Tebet – 41% positivas; 59% negativas

+ Luiz Inácio Lula da Silva – 38% positivas; 62% negativas

+ Jair Bolsonaro – 35% positivas; 65% negativas

+ Felipe D’Ávila – 34% positivas; 66% negativas

+ Soraya Thronicke (imagem) – 32% positivas; 68% negativas

O estudo mostra que o desempenho de Lula e de Bolsonaro foi mediano – e lembremos que esses candidatos são os que têm os maiores grupos de militantes no mundo real e no ambiente digital. Portanto, diante disso, vê-se que os números obtidos por Ciro e Tebet são significativos.

Mas, se a previsão dos analistas for confirmada e tudo ficar mais ou menos como já estava, é um sinal de que os debates não têm mais o poder de influenciar uma eleição, como ocorria antes. Isso pode ser creditado à polarização – e ao fato de a maioria esmagadora dos eleitores já ter tomado a sua decisão, uma vez que estamos a pouco mais de um mês para o Primeiro Turno (79 % já se decidiram, segundo o IPec).

A polarização blinda qualquer possibilidade de questionamento. Se o eleitor vai votar em Lula porque é de esquerda ou porque não tolera o comportamento politicamente incorreto de Bolsonaro, dificilmente mudará de voto diante do que ouviu durante um debate. O mesmo vale para quem é de direita e/ou tem uma lembrança muito forte dos malfeitos ocorridos na Petrobras. É como em uma discussão online: quantas pessoas trocaram o voto depois de um bate-boca em grupo de WhastApp? Ganha um doce de jenipapo quem presenciou alguém virar casaca após uma briga digital.

O ato de polarizar, neste caso, tem maior influência no aspecto prático da eleição (o voto em si) do que no campo das ideias (a avaliação dos candidatos). A pesquisa da Quaest mostra que os brasileiros reconheceram um desempenho melhor de Ciro e de Tebet. Mas – repetindo: se as previsões dos analistas estiverem corretas – isso talvez não seja suficiente para que se mude de ideia.

O comportamento dos antagonistas de hoje pouco tem a ver com o que existiu no passado. Há dois tipos de polarizados. Um é o militante raiz, que bebe nas fontes ideológicas dos candidatos e se identificam fortemente com tudo o que é dito por eles. Há também os pragmáticos, que têm seus motivos para aderir a Lula ou a Bolsonaro. No primeiro caso, trata-se de uma opção praticamente emocional. No segundo, algo decidido racionalmente. Mas, nos dois cenários, a convicção é enorme e a intenção de voto parece ser imutável.

Provavelmente os debates voltarão a ter maior importância quando os tempos polarizados passarem. Até lá, os eleitores podem até reconhecer que outro candidato foi melhor no embate. Mas isso não vai, por enqaunto, interferir na escolha feita previamente pelos brasileiros.