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2020 a 2022: um biênio que, de tão longo, mais parece uma década

Faz dois anos que vivemos uma sequência de desafios

4 - Atticus Finch (Reprodução da web/Reprodução)
4 - Atticus Finch (Reprodução da web/Reprodução)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 4 de março de 2022 às, 14h03.

Aluizio Falcão Filho

Confesso que sou fã da série “Jornada nas Estrelas” – a clássica, dos anos 1960. Por isso, sigo os atores William Shatner (James Kirk, o capitão da Enterprise) e George Takei (o tenente Hikaru Sulu, piloto da nave) nas redes sociais. Ontem, Takei nos brindou com uma frase de grande sabedoria em sua conta no Twitter: “Os últimos dois anos têm sido a década mais longa de todos os tempos”.

Desde março de 2020, estamos vivendo uma sequência de desafios em todo o mundo: pandemia, instabilidade econômica e, agora, a Guerra na Ucrânia. No Brasil, solavancos políticos e embates ideológicos e na seara dos costumes complementam este cenário lamentável que enfrentamos, sem trégua, há 24 meses. Depois de fazer um retrospecto sobre esse período, a conclusão é mesmo certeira: esse biênio parece ter durado mais que uma década.

Por trás das situações aviltantes que enfrentamos há dois anos estão pessoas. Um desses acontecimentos, a pandemia, foi causado por um vírus – mas a reação dos seres humanos nos meses em que a Covid se espalhou entre nós acabou por tornar o cenário ainda mais dramático.

“Guerra e Paz”, do russo Liev (Leon) Tostoi

Pessoas buscam o Poder, especialmente em momentos de crise. Como diria o escritor russo Liev (Leon) Tostoi no livro “Guerra e Paz”: “O que causa os eventos históricos? Poder. E o que é poder? Poder é a vontade coletiva do povo transferida para uma única pessoa. Sob que condição a vontade do povo é delegada a uma pessoa? Sob a condição de que essa pessoa expresse a vontade de todas as pessoas”.

Muitos governantes, nesses dois anos, não expressaram a vontade da maioria e exerceram o poder indevidamente. Mas nenhum se compara a Vladimir Putin, que tomou decisões perigosíssimas para o mundo com base em sua vontade, ignorando o que o povo russo preferiria fazer. O fato de estar à frente de um regime de exceção dá a Putin poderes maiores que os de um líder eleito democraticamente, como ocorre no Ocidente. Mas, em nome da democracia, da soberania dos povos e da paz, essas nações se uniram para sufocar economicamente o ditador – e foram seguidas por empresas privadas que preferiram fechar operações em solo russo ou perder receitas ao abdicar de contratos lucrativos. Esse movimento contínuo contra um país invasor é inédito e, dependendo de seu resultado, deve causar mudanças profundas na diplomacia daqui para frente.

Enquanto testamos nossa capacidade de aguentar as dificuldades – uma característica que se convencionou, nos últimos tempos, chamarmos de resiliência –, percebemos que a solidariedade existente no planeta não somente é forte como bastante praticada. Isso ocorreu no início da pandemia e ocorre novamente nessa guerra. Mas nossa capacidade de resistir às intempéries é que nos levarão para o próximo estágio da história.

Atticus Finch

O ator Gregory Peck interpretou um dos personagens mais íntegros do cinema, o advogado Atticus Finch (imagem), no filme “O Sol é para Todos” (“To Kill a Mockinbird”, no original), baseado no livro da escritora Harper Lee (Atticus Finch foi votado como o maior herói de toda a história do cinema em uma eleição do American Film Institute em 2003 – Indiana Jones ficou em segundo lugar e James Bond em terceiro).

Na vida real, Peck produziu uma frase que devemos repetir para nós mesmos enquanto esta fase conturbada não se encerra: “Tempos duros são passageiros, mas pessoas duras permanecem por décadas e décadas”. Nessa hora, é preciso endurecer para combater o mal – pois o outro lado dificilmente terá compaixão e empatia. É preciso manter a firmeza de Gregory Peck e a integridade de seu alter ego, Atticus Finch. Talvez esse seja o único jeito de se buscar a justiça e o equilíbrio em uma era tão cheia de adversidades, crises e impasses.