O que aprender com nossos atletas paralímpicos
Desempenho magistral da delegação brasileira mostra que o País pode ir muito longe em todas as áreas, se fizer a lição de casa
Publicado em 23 de setembro de 2024 às, 10h37.
No meu último texto publicado neste espaço, tracei uma comparação entre o desempenho do Brasil e da Austrália nos Jogos Olímpicos de Paris. O Brasil terminou em vigésimo lugar, e a Austrália, em quarto. Mas, claro, como esta não é uma coluna de esportes, minhas bases de comparação eram sociais e, sobretudo, econômicas. Agora, porém, quero mostrar um pouco do copo meio cheio que os Jogos Paralímpicos, recém-finalizados, representam para o nosso País.
O Brasil terminou sua participação com um resultado histórico, ocupando o 5º lugar no quadro de medalhas, à frente de potências como a anfitriã França, além do Japão e da Alemanha. O número de medalhas de ouro foi recorde: 25. Uma performance que faz pensar como que o Brasil, que na Olimpíada ficou atrás de países com população e potencial econômico consideravelmente menores – como o Quênia e a Irlanda – exerce um papel de protagonismo na Paralimpíada.
Creio que a resposta passe diretamente por foco e gestão. E uma pitada de um legado bem aproveitado. Explico: em março de 2016, meses antes da realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro, foi inaugurado em São Paulo o Centro Paralímpico Brasileiro, uma obra realizada pelo Governo do Estado, mas que após pouco mais de um ano teve a administração repassada para a responsabilidade do Comitê Paralímpico Brasileiro. A partir daí, um círculo virtuoso se iniciou, com organização, controle e acompanhamento bastante próximos dos atletas que se preparam para competições.
O espaço tem instalações capazes de atender atletas e treinadores de 20 modalidades paralímpicas, um centro de excelência que respira a preparação de alto nível o tempo inteiro, com estrutura completa para treinamentos, centro de medicina e ciência do esporte, academia de condicionamento físico e fisioterapia, centro administrativo e alojamento com 300 leitos.
Um ambiente que privilegia o intercâmbio de atletas, treinadores e os mais diversos especialistas das mais variadas qualificações técnicas que envolvem o esporte de alto rendimento – só até a metade de 2024, período do sprint final de preparação para Paris 2024, foram realizados 188 eventos competitivos, com a presença de mais de 9 mil atletas. Ali, o foco na competição e o compromisso com a evolução estão interligados o tempo inteiro.
Uma estrutura que ajuda a explicar por que o esporte paralímpico brasileiro veio voando nos últimos anos até chegar ao lugar mais alto até agora em sua história. A lição que se tira é que só uma gestão de alta qualidade é capaz de fazer as coisas funcionarem, seja no ambiente esportivo mais qualificado, seja no ambiente corporativo, seja na administração de um país.
Obviamente, as políticas públicas, que precisam ser de Estado e não de governos, devem remar na mesma direção. Não adianta ter empresas de ponta se não houver segurança jurídica e estabilidade regulatória para que elas possam investir em suas respectivas áreas de atuação.
Não se pode esperar desenvolvimento econômico sem a infraestrutura necessária para suportá-lo. Vejam a diferença que um centro de ponta para treinamento esportivo foi capaz de produzir.
O foco em educação e aprimoramento também é primordial, tanto para formar atletas, como para capacitar profissionais de alto nível que estejam aptos a desempenhar as mais variadas ocupações. A gestão eficaz envolve planejamento detalhado, adaptação às circunstâncias e maximização dos recursos disponíveis.
Foi assim que a Austrália se tornou um país altamente desenvolvido – e viu seu desempenho esportivo acompanhar o avanço da nação como um todo. Foi assim que o Brasil se mostrou capaz de ser uma potência paralímpica. Que não nos falte oportunidade de mostrar nosso potencial em todas as outras áreas: a de energia limpa, a de recursos naturais, a de potência verde e de polo tecnológico, entre outras tantas.