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Trump e o dilema da imigração

O problema da imigração permanecerá sem solução porque a população permanece contrária à entrada de imigrantes

TRUMP PRESSIONADO: um jeito de permitir a entrada de mais pessoas sem arcar com custos muito altos é atrelar a entrada ao emprego, como em programas de trabalho estrangeiro para trabalhadores de baixa renda / REUTERS/Leah Millis
DR

Da Redação

Publicado em 21 de junho de 2018 às 11h34.

Última atualização em 22 de junho de 2018 às 13h37.

Nenhum presidente americano recente é inocente quando o assunto é imigração. A novidade sob Trump é o requinte de crueldade de separar crianças de seus pais por tempo indeterminado (podendo chegar a meses) como uma política consistente e em ritmo acelerado.

Este desdobramento é o resultado inevitável da política de tolerância zero que o governo tem perseguido desde abril, que basicamente prende todo imigrante que for pego cruzando a fronteira sem documentação em ordem é preso e processado criminalmente, aguardando julgamento na prisão. Como as crianças não podem acompanhar os pais nas prisões federais, são mandadas para abrigos e centros de refugiados, longe de suas famílias e sem ter ideia do que poderá acontecer a eles. Só meses depois – depois dos pais terem sido julgados e cumprido pena – elas poderão ser reunidas à família, já em um centro da agência de Imigração e Alfândega ( Immigration and Customs Enforcement ), que cuida dos trâmites burocráticos para realizar a deportação.

A medida de tolerância zero tem como objetivo a deterrência; ou seja, sabendo do horror que os espera nos EUA, adultos da América Latina pensem duas vezes antes de entrar nos EUA ilegalmente. Países como a Austrália usam há anos uma política de deterrência imigratória, também com violações aos direitos humanos, e de fato isso parece diminuir a entrada de imigrantes ilegais.

Mas é claro que, em um país democrático, a população não tolera ver crianças chorando em desespero. Enquanto oficiais do governo Trump defendiam a medida, o presidente primeiro atribuiu-a aos democratas (o que é simplesmente falso) e, na sequência, se posicionou contra ela, assinando ontem um decreto para impedir que no futuro filhos sejam separados de seus pais. Para isso, a família terá que ficar junta em centros de detenção. Como a lei atual proíbe que crianças fiquem presas nesses centros por mais de 20 dias (depois dos quais a família toda é liberada, podendo fugir para outro estado e escapar das autoridades), ou essa lei cai ou a ordem executiva de Trump terá como efeito o fim da política de tolerância zero.

Seja qual for o desfecho, o problema da imigração permanecerá sem solução dadas as premissas atuais. A população permanece, de forma míope, radicalmente contrária à entrada de imigrantes. Eles são, contudo, bons para a sociedade: aumentam a eficiência da economia e, no caso dos latinos, costumam se integrar bem. O medo de que imigrantes causem ondas de crime são infundados; segundo vários estudos, os imigrantes são inclusive menos propensos a cometer crimes do que a população nativa. Além disso, não há dúvida de que, se um imigrante comete um crime violento, ele tem que cumprir sua pena e ser deportado depois – algo que já acontece.

Ainda assim, o imigrante impõe custos iniciais e, se vierem em quantidade fora de controle, podem esmagar a cultura local; ao invés de se tornarem americanos, transformar os EUA em uma reprodução falida da América Central.

Um bom jeito de permitir a entrada de mais pessoas sem arcar com custos muito altos é atrelar a entrada ao emprego, como em programas de trabalho estrangeiro para trabalhadores de baixa renda. Além disso, aumentar a fiscalização da fronteira (para a qual um muro não é a tecnologia mais adequada…) e garantir que novos entrantes ilegais sejam deportados, mas sem transigir dos direitos humanos básicos.

Com caminhos mais fáceis para o sonho de trabalhar e morar nos EUA (ainda que sem o direito de ficar ali caso o contrato termine), e uma política firme mas humana de impedir a ilegalidade, o país pode auferir um benefício maior desse processo que é, no longo prazo, invariavelmente bom para o país que o recebe. A população talvez não esteja convencida; mas será que a recusa em se abrir aceitará os custos humanos terríveis do sistema atual?

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Nenhum presidente americano recente é inocente quando o assunto é imigração. A novidade sob Trump é o requinte de crueldade de separar crianças de seus pais por tempo indeterminado (podendo chegar a meses) como uma política consistente e em ritmo acelerado.

Este desdobramento é o resultado inevitável da política de tolerância zero que o governo tem perseguido desde abril, que basicamente prende todo imigrante que for pego cruzando a fronteira sem documentação em ordem é preso e processado criminalmente, aguardando julgamento na prisão. Como as crianças não podem acompanhar os pais nas prisões federais, são mandadas para abrigos e centros de refugiados, longe de suas famílias e sem ter ideia do que poderá acontecer a eles. Só meses depois – depois dos pais terem sido julgados e cumprido pena – elas poderão ser reunidas à família, já em um centro da agência de Imigração e Alfândega ( Immigration and Customs Enforcement ), que cuida dos trâmites burocráticos para realizar a deportação.

A medida de tolerância zero tem como objetivo a deterrência; ou seja, sabendo do horror que os espera nos EUA, adultos da América Latina pensem duas vezes antes de entrar nos EUA ilegalmente. Países como a Austrália usam há anos uma política de deterrência imigratória, também com violações aos direitos humanos, e de fato isso parece diminuir a entrada de imigrantes ilegais.

Mas é claro que, em um país democrático, a população não tolera ver crianças chorando em desespero. Enquanto oficiais do governo Trump defendiam a medida, o presidente primeiro atribuiu-a aos democratas (o que é simplesmente falso) e, na sequência, se posicionou contra ela, assinando ontem um decreto para impedir que no futuro filhos sejam separados de seus pais. Para isso, a família terá que ficar junta em centros de detenção. Como a lei atual proíbe que crianças fiquem presas nesses centros por mais de 20 dias (depois dos quais a família toda é liberada, podendo fugir para outro estado e escapar das autoridades), ou essa lei cai ou a ordem executiva de Trump terá como efeito o fim da política de tolerância zero.

Seja qual for o desfecho, o problema da imigração permanecerá sem solução dadas as premissas atuais. A população permanece, de forma míope, radicalmente contrária à entrada de imigrantes. Eles são, contudo, bons para a sociedade: aumentam a eficiência da economia e, no caso dos latinos, costumam se integrar bem. O medo de que imigrantes causem ondas de crime são infundados; segundo vários estudos, os imigrantes são inclusive menos propensos a cometer crimes do que a população nativa. Além disso, não há dúvida de que, se um imigrante comete um crime violento, ele tem que cumprir sua pena e ser deportado depois – algo que já acontece.

Ainda assim, o imigrante impõe custos iniciais e, se vierem em quantidade fora de controle, podem esmagar a cultura local; ao invés de se tornarem americanos, transformar os EUA em uma reprodução falida da América Central.

Um bom jeito de permitir a entrada de mais pessoas sem arcar com custos muito altos é atrelar a entrada ao emprego, como em programas de trabalho estrangeiro para trabalhadores de baixa renda. Além disso, aumentar a fiscalização da fronteira (para a qual um muro não é a tecnologia mais adequada…) e garantir que novos entrantes ilegais sejam deportados, mas sem transigir dos direitos humanos básicos.

Com caminhos mais fáceis para o sonho de trabalhar e morar nos EUA (ainda que sem o direito de ficar ali caso o contrato termine), e uma política firme mas humana de impedir a ilegalidade, o país pode auferir um benefício maior desse processo que é, no longo prazo, invariavelmente bom para o país que o recebe. A população talvez não esteja convencida; mas será que a recusa em se abrir aceitará os custos humanos terríveis do sistema atual?

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