Respostas ao Massacre
Passada uma semana, dá para ter uma noção melhor do que foi o atentado na Pulse, boate gay de Orlando, que matou 49 pessoas. Doença mental, homofobia, islã fundamentalista e fácil acesso a armas tiveram seu papel para levar Omar Mateen a cometer esse que foi o pior atentado terrorista armado da história dos EUA. […]
Da Redação
Publicado em 16 de junho de 2016 às 10h49.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h29.
Passada uma semana, dá para ter uma noção melhor do que foi o atentado na Pulse, boate gay de Orlando, que matou 49 pessoas. Doença mental, homofobia, islã fundamentalista e fácil acesso a armas tiveram seu papel para levar Omar Mateen a cometer esse que foi o pior atentado terrorista armado da história dos EUA.
Esquerda e direita se apressam em dar soluções prontas: restrição à venda de armas ou à entrada e permanência de muçulmanos no país. Nenhuma das duas estratégias seria bem-sucedida.
Primeiro, o controle de armas, defendido por Obama, Hillary e outros do Partido Democrata. Ele funciona para quem não planeja comete rcrimes. Alguém como Mateen, que planejou o terrorismo longamente (desde 2013 já estava no radar do FBI), teria acesso a fuzis no mercado negro. Ademais, um dos motivos para ele ter escolhido a boate como palco de seu crime foi o fato de ela ser uma “gun-free zone”, ou seja, uma zona na qual armas são proibidas, lei que ele obviamente não teve grandes pudores de violar. Para um terrorista armado — e os terroristas sempre dão um jeito de se armar — não há nada melhor que uma população desarmada, que seria o principal efeito de um maior controle da venda de armas.
O controle de armas serve para, potencialmente, reduzir mortes em acidentes e crimes passionais, não premeditados. Para quem quer entrar para o crime, acaba sendo inócuo, como bem ilustra o crime organizado aqui no Brasil, que tem uma política de armas bem mais restritiva que a americana.
Mas muito pior que o controle das armas foi a reação que Donald Trump previsivelmente apresentou logo após o crime: a proposta de proibir a entrada de muçulmanos em solo americano. Em primeiro lugar porque Mateen era cidadão americano e, portanto, não teria sido impedido. Mais importante, contudo, é notar que a política de hostilizar muçulmanos reforça justamente o discurso do fundamentalismo: de que o mundo islâmico e o mundo ocidental são inimigos irreconciliáveis, aos quais resta apenas o conflito armado. Isso fortaleceria o chamado terrorismo islâmico internacional contra alvos ocidentais, seja sob a égide do ISIS, da Al Qaeda ou de outros grupos.
Os EUA têm, ademais, uma minoria de 1% de muçulmanos. Não é tão expressiva quanto em países europeus, mas três milhões de cidadãos publicamente hostilizados por sua religião podem sim ser terreno fértil para a formação de novos fanáticos.
O caminho para se lidar com o terrorismo islâmico é promover formas não-violentas da religião e, mais importante, criar caminhos para que jovens muçulmanos se integrem à sociedade econômica, social e culturalmente. Toda religião ou ideologia tem suas vertentes violentas. Elas apenas se tornam um problema social relevante quando são capazes de atrair seguidores. E um contingente humano se atrai pelo caminho da violência apenas quando estão frustradas com sua situação no mundo que as cerca.
Mateen era antes de tudo alguém profundamente revoltado com o mundo. Em 2013, quando o FBI lhe interrogou, disse ser tanto do Hezbollah quanto da Al Qaeda, dois grupos rivais – que por sua vez também são inimigos do ISIS, grupo ao qual ele jurou adesão antes de cometer o massacre. O pai, por fim, figura bastante radicalizada mas não violento, é partidário do Taleban, que também compete com o ISIS. Tudo indica, assim, que o radicalismo islâmico foi antes um pretexto (e uma oportunidade) para dar vazão a sentimentos destrutivos de outra origem.
Uma possível pista está na provável homossexualidade de Mateen, frequentador da Pulse e usuário de aplicativos de encontros gays. Uma homofobia profundamente introjetada por seu meio social pode ter tido papel nesse triste ato de destruição final.
Talvez nunca tenhamos a resposta completa para este caso particular. Seja como for, mais eficaz do que erradicar crenças específicas, ou proibir acesso a determinados meios destrutivos, talvez seja descobrir como desarmarar motivações que têm levado tantos jovens — muitas vezes muçulmanos, mas nem sempre — a escolher esses meios e a aderir a essas crenças. Provavelmente será um caminho de mais entendimento mútuo e maior integração.
Passada uma semana, dá para ter uma noção melhor do que foi o atentado na Pulse, boate gay de Orlando, que matou 49 pessoas. Doença mental, homofobia, islã fundamentalista e fácil acesso a armas tiveram seu papel para levar Omar Mateen a cometer esse que foi o pior atentado terrorista armado da história dos EUA.
Esquerda e direita se apressam em dar soluções prontas: restrição à venda de armas ou à entrada e permanência de muçulmanos no país. Nenhuma das duas estratégias seria bem-sucedida.
Primeiro, o controle de armas, defendido por Obama, Hillary e outros do Partido Democrata. Ele funciona para quem não planeja comete rcrimes. Alguém como Mateen, que planejou o terrorismo longamente (desde 2013 já estava no radar do FBI), teria acesso a fuzis no mercado negro. Ademais, um dos motivos para ele ter escolhido a boate como palco de seu crime foi o fato de ela ser uma “gun-free zone”, ou seja, uma zona na qual armas são proibidas, lei que ele obviamente não teve grandes pudores de violar. Para um terrorista armado — e os terroristas sempre dão um jeito de se armar — não há nada melhor que uma população desarmada, que seria o principal efeito de um maior controle da venda de armas.
O controle de armas serve para, potencialmente, reduzir mortes em acidentes e crimes passionais, não premeditados. Para quem quer entrar para o crime, acaba sendo inócuo, como bem ilustra o crime organizado aqui no Brasil, que tem uma política de armas bem mais restritiva que a americana.
Mas muito pior que o controle das armas foi a reação que Donald Trump previsivelmente apresentou logo após o crime: a proposta de proibir a entrada de muçulmanos em solo americano. Em primeiro lugar porque Mateen era cidadão americano e, portanto, não teria sido impedido. Mais importante, contudo, é notar que a política de hostilizar muçulmanos reforça justamente o discurso do fundamentalismo: de que o mundo islâmico e o mundo ocidental são inimigos irreconciliáveis, aos quais resta apenas o conflito armado. Isso fortaleceria o chamado terrorismo islâmico internacional contra alvos ocidentais, seja sob a égide do ISIS, da Al Qaeda ou de outros grupos.
Os EUA têm, ademais, uma minoria de 1% de muçulmanos. Não é tão expressiva quanto em países europeus, mas três milhões de cidadãos publicamente hostilizados por sua religião podem sim ser terreno fértil para a formação de novos fanáticos.
O caminho para se lidar com o terrorismo islâmico é promover formas não-violentas da religião e, mais importante, criar caminhos para que jovens muçulmanos se integrem à sociedade econômica, social e culturalmente. Toda religião ou ideologia tem suas vertentes violentas. Elas apenas se tornam um problema social relevante quando são capazes de atrair seguidores. E um contingente humano se atrai pelo caminho da violência apenas quando estão frustradas com sua situação no mundo que as cerca.
Mateen era antes de tudo alguém profundamente revoltado com o mundo. Em 2013, quando o FBI lhe interrogou, disse ser tanto do Hezbollah quanto da Al Qaeda, dois grupos rivais – que por sua vez também são inimigos do ISIS, grupo ao qual ele jurou adesão antes de cometer o massacre. O pai, por fim, figura bastante radicalizada mas não violento, é partidário do Taleban, que também compete com o ISIS. Tudo indica, assim, que o radicalismo islâmico foi antes um pretexto (e uma oportunidade) para dar vazão a sentimentos destrutivos de outra origem.
Uma possível pista está na provável homossexualidade de Mateen, frequentador da Pulse e usuário de aplicativos de encontros gays. Uma homofobia profundamente introjetada por seu meio social pode ter tido papel nesse triste ato de destruição final.
Talvez nunca tenhamos a resposta completa para este caso particular. Seja como for, mais eficaz do que erradicar crenças específicas, ou proibir acesso a determinados meios destrutivos, talvez seja descobrir como desarmarar motivações que têm levado tantos jovens — muitas vezes muçulmanos, mas nem sempre — a escolher esses meios e a aderir a essas crenças. Provavelmente será um caminho de mais entendimento mútuo e maior integração.