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Eleições 2018: os similares se repelem

Quando há várias opções em jogo disputando as duas vagas no segundo turno, o inimigo não é quem ocupa a posição antagônica, mas aquele que está mais perto

ALCKMIN: com críticas ao candidato Bolsonaro, ex-governador de SP tenta resgatar seus eleitores /
DR

Da Redação

Publicado em 2 de agosto de 2018 às 17h07.

Última atualização em 2 de agosto de 2018 às 17h52.

As discussões que preenchem a mídia e a atenção pública – cada vez mais polêmicas e polarizadas – nos fazem crer que o conflito na política se dá entre os polos: direita versus esquerda, progressistas versus conservadores, estatizantes versus liberais, etc. Esse costuma ser o teor ideológico dos debates que movimentam a opinião pública, mas não reflete as reais rivalidades que envenenam o jogo político até o segundo turno.

Quando há várias opções em jogo disputando as duas vagas no segundo turno, o inimigo não é quem ocupa a posição antagônica no espectro político, e sim aquele que está mais perto. Os de direita lutam pelo voto da direita, e os da esquerda, pelo voto da esquerda. É isso que temos visto nas últimas semanas.

O inimigo natural de Bolsonaro, neste momento, não é Lula, e sim Alckmin. Este, se quiser subir, além de absorver os votos de candidaturas menores de centro-direita (Meirelles, Amoedo, Álvaro Dias), terá que tirar votos do capitão, que hoje lidera com tranquilidade as intenções de voto à direita. É por isso que Alckmin adota a estratégia de atacar Bolsonaro em suas falas e nas redes sociais, e este, quando pode, também faz questão de devolver as provocações. Será que Alckmin conseguirá fazer valer seu tempo de TV, seu dinheiro do fundo eleitoral e sua estrutura de campanha pelo país para superar Bolsonaro? Só ficaremos sabendo ao fim da campanha.

À esquerda, a definição parece que chegará antes. Ciro bem que tentou, mas falhou em se tornar o polo de unificação da esquerda. Se o PT não se juntou a ele, então são inimigos mortais. A ascensão de Ciro é o golpe de morte na intenção do PT de permanecer como a maior força, inconteste, da esquerda nacional. No momento, parece que conseguiram enterrar as ambições de Ciro. Ao fechar acordo com o PSB – ao que tudo indica, por intermédio de cartas de Lula escritas da prisão -, o PT inviabiliza a campanha do rival, que fica sem apoio. O PCdoB também não deve falhar em voltar ao colo de seu dono de tantos anos.

Neste momento, os extremos ideológicos são, isso sim, aliados, pois o medo gerado pelo radicalismo de um lado ajuda a aumentar a importância do outro aos olhos do eleitor. Para o PT, é essencial que um radical de direita como Bolsonaro seja bem-sucedido. Isso confirma a narrativa petista de que ou se está com eles ou se está do lado do “fascismo”.

Dado o sistema político brasileiro, essa mesma dinâmica se verifica dentro dos partidos. Os candidatos a deputado de um mesmo partido em cada estado são, em alguma medida, rivais: supondo alguma semelhança ideológica ou simbólica entre os candidatos de um mesmo partido, eles disputam o mesmo eleitorado; a não ser quando têm redutos geográficos bem marcados e distintos.

Ao largo de tudo isso, permanecem por volta de 45% de intenções de votos indecisos, brancos ou nulos. Quase metade dos eleitores não tem candidato. São pastagem verde para quem souber atraí-los. O problema é que, até agora, a única coisa que sabemos sobre o eleitor é que ele está farto da política. Dos candidatos, a única que parece fazer um esforço genuíno para falar com este eleitor – e, por isso, não jogou o jogo das alianças – é Marina Silva. Mantém sua postura íntegra e sua campanha focada em propostas: desenvolvimento sustentável, educação, renovação política. É uma mensagem inspiradora, mas sem os recursos da política tradicional, será que ela chegará aos eleitores?

À esquerda, o PT ocupa no momento uma liderança sólida. De resto, permanecem duas incógnitas: a primeira é se Marina conseguirá provar que, no momento atual, negar a velha política é uma boa política. A segunda é se a campanha turbinada de Geraldo Alckmin será capaz de tirar eleitores o bastante de Bolsonaro para ultrapassá-lo. Creio que sim, porque Alckmin é forte justo em pautas das quais Bolsonaro depende (como a segurança pública). Se isso ocorrer, temos altas chances de ver, nesta eleição que prometia renovar o país, um segundo turno entre PT e PSDB. Poderia ser muito pior!

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As discussões que preenchem a mídia e a atenção pública – cada vez mais polêmicas e polarizadas – nos fazem crer que o conflito na política se dá entre os polos: direita versus esquerda, progressistas versus conservadores, estatizantes versus liberais, etc. Esse costuma ser o teor ideológico dos debates que movimentam a opinião pública, mas não reflete as reais rivalidades que envenenam o jogo político até o segundo turno.

Quando há várias opções em jogo disputando as duas vagas no segundo turno, o inimigo não é quem ocupa a posição antagônica no espectro político, e sim aquele que está mais perto. Os de direita lutam pelo voto da direita, e os da esquerda, pelo voto da esquerda. É isso que temos visto nas últimas semanas.

O inimigo natural de Bolsonaro, neste momento, não é Lula, e sim Alckmin. Este, se quiser subir, além de absorver os votos de candidaturas menores de centro-direita (Meirelles, Amoedo, Álvaro Dias), terá que tirar votos do capitão, que hoje lidera com tranquilidade as intenções de voto à direita. É por isso que Alckmin adota a estratégia de atacar Bolsonaro em suas falas e nas redes sociais, e este, quando pode, também faz questão de devolver as provocações. Será que Alckmin conseguirá fazer valer seu tempo de TV, seu dinheiro do fundo eleitoral e sua estrutura de campanha pelo país para superar Bolsonaro? Só ficaremos sabendo ao fim da campanha.

À esquerda, a definição parece que chegará antes. Ciro bem que tentou, mas falhou em se tornar o polo de unificação da esquerda. Se o PT não se juntou a ele, então são inimigos mortais. A ascensão de Ciro é o golpe de morte na intenção do PT de permanecer como a maior força, inconteste, da esquerda nacional. No momento, parece que conseguiram enterrar as ambições de Ciro. Ao fechar acordo com o PSB – ao que tudo indica, por intermédio de cartas de Lula escritas da prisão -, o PT inviabiliza a campanha do rival, que fica sem apoio. O PCdoB também não deve falhar em voltar ao colo de seu dono de tantos anos.

Neste momento, os extremos ideológicos são, isso sim, aliados, pois o medo gerado pelo radicalismo de um lado ajuda a aumentar a importância do outro aos olhos do eleitor. Para o PT, é essencial que um radical de direita como Bolsonaro seja bem-sucedido. Isso confirma a narrativa petista de que ou se está com eles ou se está do lado do “fascismo”.

Dado o sistema político brasileiro, essa mesma dinâmica se verifica dentro dos partidos. Os candidatos a deputado de um mesmo partido em cada estado são, em alguma medida, rivais: supondo alguma semelhança ideológica ou simbólica entre os candidatos de um mesmo partido, eles disputam o mesmo eleitorado; a não ser quando têm redutos geográficos bem marcados e distintos.

Ao largo de tudo isso, permanecem por volta de 45% de intenções de votos indecisos, brancos ou nulos. Quase metade dos eleitores não tem candidato. São pastagem verde para quem souber atraí-los. O problema é que, até agora, a única coisa que sabemos sobre o eleitor é que ele está farto da política. Dos candidatos, a única que parece fazer um esforço genuíno para falar com este eleitor – e, por isso, não jogou o jogo das alianças – é Marina Silva. Mantém sua postura íntegra e sua campanha focada em propostas: desenvolvimento sustentável, educação, renovação política. É uma mensagem inspiradora, mas sem os recursos da política tradicional, será que ela chegará aos eleitores?

À esquerda, o PT ocupa no momento uma liderança sólida. De resto, permanecem duas incógnitas: a primeira é se Marina conseguirá provar que, no momento atual, negar a velha política é uma boa política. A segunda é se a campanha turbinada de Geraldo Alckmin será capaz de tirar eleitores o bastante de Bolsonaro para ultrapassá-lo. Creio que sim, porque Alckmin é forte justo em pautas das quais Bolsonaro depende (como a segurança pública). Se isso ocorrer, temos altas chances de ver, nesta eleição que prometia renovar o país, um segundo turno entre PT e PSDB. Poderia ser muito pior!

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