Exame Logo

O impeachment valeu a pena?

Frente ao cenário atual, já ouvimos as vozes do antipetismo, tão seguras de si em 2016, levantar a dúvida: o impeachment valeu a pena?

IMPEACHMENT: grande bandeira do processo foi o fim à corrupção / Victor Moriyama/Getty Images
DR

Da Redação

Publicado em 20 de setembro de 2018 às 14h30.

Última atualização em 20 de setembro de 2018 às 16h51.

A cada nova pesquisa, o pesadelo eleitoral do segundo turno se aproxima de nós: se tudo seguir como está (e eu não perdi as esperanças em alguma mudança na última semana), teremos a disputa entre Haddad e Bolsonaro: o ápice da polarização, do radicalismo e do ataque à democracia.

Dados os números das pesquisas mais recentes, Haddad parece ter a vantagem. Irão para ele quase a totalidade dos votos de Marina Silva e Ciro Gomes. Para Bolsonaro, os de Álvaro Dias e João Amoedo. Os de Alckmin, quem sabe, dividem-se entre os dois. Nesse cenário, Haddad fica na frente. Restam ainda os votos indecisos, mas não é arriscado supor que a máquina de guerra eleitoral petista seja mais eficiente para virar esses votos do que a campanha mais desorganizada de Bolsonaro.

Frente a esse cenário, já ouvimos as vozes do antipetismo, tão seguras de si em 2016, levantar a dúvida: o impeachment valeu a pena? Tivemos todo aquele esforço, toda aquela luta, para o PT voltar ao poder dois anos depois? Se Dilma tivesse ficado no cargo, o partido amargaria a longa crise sem poder se fazer de oposição, sem poder fingir que a responsabilidade por ela era sua e apenas sua. Com a saída de Dilma, com a memória curta da população e com a eficiência da máquina petista, agora já tem muita gente achando que a crise foi obra do Temer e outros malvados, quando na verdade ele a atenuou desde que assumiu o cargo. E então; valeu a pena?

Cada um responde por si. Eu posso reconstruir o meu processo de pensamento na época: em 2015, eu era contra o impeachment justamente por causa desse raciocínio: longe do governo, o PT não seria devidamente responsabilizado pela crise e voltaria mais forte. Conforme ela se intensificou e adentramos 2016, contudo, mudei de opinião: a situação era tão grave, o Brasil estava em estado tão calamitoso, que era preciso fazer algo. Dilma cometera crime de responsabilidade. Havia base jurídica para o impeachment. O interesse pela melhora do Brasil dava a motivação política.

Com efeito, a saída de Dilma permitiu o início do processo de melhora. Temer conseguiu emplacar o teto de gastos, que sinalizou a responsabilidade fiscal no horizonte. Passou uma reforma trabalhista que reduziu drasticamente a quantidade de novos processos trabalhistas. Reabilitou a Petrobrás, que estava quase quebrada, e agora voltou a ser uma empresa. Acabou com a farra do subsídio público via BNDES, pondo um fim à TJLP. No geral, dentro de suas possibilidades, melhorou o ambiente de negócios brasileiro. Saímos do fundo do poço.

A grande falha do governo Temer foi não ter conseguido passar a reforma da Previdência, única esperança viável para cumprir a regra do teto de gastos. A crise política atropelou o esforço de recuperação econômica. Mesmo assim, o Brasil voltou a crescer, ainda que a recuperação seja lenta e desapontadora. O desemprego continua alto, mas há menos gente sem trabalho agora do que havia em 2016.

Agora, o que teria acontecido se Dilma tivesse ficado? Teríamos sequer descoberto a real extensão do rombo nas contas públicas, mascarado de forma desonesta? Talvez o governo tivesse “dobrado a aposta” e embarcado em algum pesadelo bolivariano como último recurso para garantir sua sobrevivência. É impossível saber, mas é muito improvável que Dilma fosse melhor que Temer durante esses dois anos.

Se o objetivo da pessoa era exterminar o PT, o impeachment foi um erro. Se o objetivo era ajudar o Brasil a sair do buraco e amenizar o sofrimento de milhões de pessoas, o impeachment foi, até agora, um acerto.

Assistimos apreensivos a uma candidatura Haddad que tem usado os expedientes mais abjetos imagináveis para defender uma agenda escabrosa, que pode nos jogar numa crise muito mais grave. Isso se ele não der uma guinada ao centro, adotando a responsabilidade e as reformas como necessidades inescapáveis na conjuntura atual. Se fizer isso, poderemos reafirmar o que, até agora, merece ser reafirmado: independentemente dos efeitos para o PT, o impeachment de Dilma foi um grande serviço ao Brasil.

Veja também

A cada nova pesquisa, o pesadelo eleitoral do segundo turno se aproxima de nós: se tudo seguir como está (e eu não perdi as esperanças em alguma mudança na última semana), teremos a disputa entre Haddad e Bolsonaro: o ápice da polarização, do radicalismo e do ataque à democracia.

Dados os números das pesquisas mais recentes, Haddad parece ter a vantagem. Irão para ele quase a totalidade dos votos de Marina Silva e Ciro Gomes. Para Bolsonaro, os de Álvaro Dias e João Amoedo. Os de Alckmin, quem sabe, dividem-se entre os dois. Nesse cenário, Haddad fica na frente. Restam ainda os votos indecisos, mas não é arriscado supor que a máquina de guerra eleitoral petista seja mais eficiente para virar esses votos do que a campanha mais desorganizada de Bolsonaro.

Frente a esse cenário, já ouvimos as vozes do antipetismo, tão seguras de si em 2016, levantar a dúvida: o impeachment valeu a pena? Tivemos todo aquele esforço, toda aquela luta, para o PT voltar ao poder dois anos depois? Se Dilma tivesse ficado no cargo, o partido amargaria a longa crise sem poder se fazer de oposição, sem poder fingir que a responsabilidade por ela era sua e apenas sua. Com a saída de Dilma, com a memória curta da população e com a eficiência da máquina petista, agora já tem muita gente achando que a crise foi obra do Temer e outros malvados, quando na verdade ele a atenuou desde que assumiu o cargo. E então; valeu a pena?

Cada um responde por si. Eu posso reconstruir o meu processo de pensamento na época: em 2015, eu era contra o impeachment justamente por causa desse raciocínio: longe do governo, o PT não seria devidamente responsabilizado pela crise e voltaria mais forte. Conforme ela se intensificou e adentramos 2016, contudo, mudei de opinião: a situação era tão grave, o Brasil estava em estado tão calamitoso, que era preciso fazer algo. Dilma cometera crime de responsabilidade. Havia base jurídica para o impeachment. O interesse pela melhora do Brasil dava a motivação política.

Com efeito, a saída de Dilma permitiu o início do processo de melhora. Temer conseguiu emplacar o teto de gastos, que sinalizou a responsabilidade fiscal no horizonte. Passou uma reforma trabalhista que reduziu drasticamente a quantidade de novos processos trabalhistas. Reabilitou a Petrobrás, que estava quase quebrada, e agora voltou a ser uma empresa. Acabou com a farra do subsídio público via BNDES, pondo um fim à TJLP. No geral, dentro de suas possibilidades, melhorou o ambiente de negócios brasileiro. Saímos do fundo do poço.

A grande falha do governo Temer foi não ter conseguido passar a reforma da Previdência, única esperança viável para cumprir a regra do teto de gastos. A crise política atropelou o esforço de recuperação econômica. Mesmo assim, o Brasil voltou a crescer, ainda que a recuperação seja lenta e desapontadora. O desemprego continua alto, mas há menos gente sem trabalho agora do que havia em 2016.

Agora, o que teria acontecido se Dilma tivesse ficado? Teríamos sequer descoberto a real extensão do rombo nas contas públicas, mascarado de forma desonesta? Talvez o governo tivesse “dobrado a aposta” e embarcado em algum pesadelo bolivariano como último recurso para garantir sua sobrevivência. É impossível saber, mas é muito improvável que Dilma fosse melhor que Temer durante esses dois anos.

Se o objetivo da pessoa era exterminar o PT, o impeachment foi um erro. Se o objetivo era ajudar o Brasil a sair do buraco e amenizar o sofrimento de milhões de pessoas, o impeachment foi, até agora, um acerto.

Assistimos apreensivos a uma candidatura Haddad que tem usado os expedientes mais abjetos imagináveis para defender uma agenda escabrosa, que pode nos jogar numa crise muito mais grave. Isso se ele não der uma guinada ao centro, adotando a responsabilidade e as reformas como necessidades inescapáveis na conjuntura atual. Se fizer isso, poderemos reafirmar o que, até agora, merece ser reafirmado: independentemente dos efeitos para o PT, o impeachment de Dilma foi um grande serviço ao Brasil.

Acompanhe tudo sobre:Eleições 2018ImpeachmentImpeachment de Dilma RousseffPolítica no Brasil

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se