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Além de Bolsonaro, quem tem motivos para comemorar as pesquisas?

Segundo a pesquisa do Data Poder, 62% dos votos de Haddad no primeiro turno iriam para o ex-ministro Sérgio Moro

POLÍTICA: a estratégia de Bolsonaro de abraçar os partidos do centrão e reduzir drasticamente os conflitos e ataques verbais acalmou as águas (Adriano Machado/Reuters)
POLÍTICA: a estratégia de Bolsonaro de abraçar os partidos do centrão e reduzir drasticamente os conflitos e ataques verbais acalmou as águas (Adriano Machado/Reuters)
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Joel Pinheiro da Fonseca

Publicado em 7 de agosto de 2020 às, 16h41.

Última atualização em 7 de agosto de 2020 às, 16h41.

Nem parece que, coisa de três meses atrás, discutia-se o impeachment. A estratégia de Bolsonaro de abraçar os partidos do centrão e reduzir drasticamente os conflitos e ataques verbais acalmou as águas. Sua militância mais fanatizada está toda ela sob investigação do STF, e o presidente não parece muito disposto a salvá-la. Ao mesmo tempo, o auxílio emergencial para cidadãos de baixa renda tem lhe garantido ganhos de popularidade entre as camadas mais baixas que mais do que compensam as perdas de apoiadores de classe média engajados nas redes sociais.

Será Bolsonaro capaz de manter as novas alianças e se afastar de vez das chamadas milícias digitais e dos influenciadores que as inflamavam. Na quinta-feira, Olavo de Carvalho vociferava contra o presidente em suas redes sociais. Da última vez que o fez, ainda conseguiu um aceno presidencial e apoio de empresários ligados a Bolsonaro. Será que o socorro virá mais uma vez?

Há alguns obstáculos previsíveis em seu caminho. O maior deles é o desafio de encaixar três processos que, se se separarem, podem botar tudo a perder: o fim do auxílio emergencial, o início do Renda Brasil e a retomada do crescimento. E isso sem falar na bomba fiscal que está armada: Renda Brasil, Fundeb, investimentos públicos, capitalização de empresas estatais. Ou o governo incluirá o aumento da carga tributária na reforma, ou algumas dessas ambições serão frustradas ou - pior caso - vai tentar empurrar a bomba fiscal para o segundo mandato, torcendo para a economia não derreter antes.

Outros obstáculos são desconhecidos: o que pode aparecer das investigações de Flávio Bolsonaro, Queiroz e milícias, ou do inquérito das fake news? Ninguém sabe ao certo. Mas, se nenhum desses riscos se concretizar até 2022, ele chega como favorito à reeleição.

Isso tampouco é uma surpresa, posto que os três presidentes eleitos pelo povo desde a lei da reeleição conseguiram se reeleger. Mas é também o que as pesquisas dizem: tanto segundo o Paraná Pesquisas quanto à pesquisa divulgada na quinta pelo Poder 360, Bolsonaro é favorito.

Nenhum nome da esquerda consegue derrotá-lo no segundo turno. Por enquanto, a única ameaça séria ao trono é Sergio Moro. É improvável que, com um presidente de direita, um desafiante da centro-direita consiga chegar ao segundo turno. O mais esperado seria que algum nome da esquerda, provavelmente do PT, consiga uma fatia maior dos votos. Mas, num cenário em que a esquerda se divide - Haddad, Ciro e Flávio Dino, por exemplo - não é impossível que um nome mais de centro como Moro, ainda que com um resultado medíocre no primeiro turno, tenha votos o bastante para ficar em segundo lugar.

E aí Bolsonaro terá motivos para se preocupar. Segundo a pesquisa do Data Poder, 62% dos votos de Haddad no primeiro turno iriam para Moro. Na projeção, Moro e Bolsonaro empatam com 41% no segundo turno.

Claro que os números dizem pouco a uma distância tão grande do pleito. Ainda assim, devem ser o bastante para fazer os olhos do ex-juiz brilharem. E para encher Bolsonaro de preocupação. Não é à toa que seus apoiadores se empenhem tanto em enlamear a reputação de Moro. Num mês, juravam-lhe amor eterno. Hoje, o tratam como um criminoso. Seu único crime foi defender o legado da Lava-Jato dentro do governo; legado que - Aras deixou bem claro - será enterrado.