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Admita: ninguém queria a saída de Temer

Apesar da reprovação recorde do governo Temer, são muito poucas as pessoas que realmente querem que ele caia

TEMER (Ueslei Marcelino/Reuters)
TEMER (Ueslei Marcelino/Reuters)
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Joel Pinheiro da Fonseca

Publicado em 3 de agosto de 2017 às, 12h43.

Última atualização em 3 de agosto de 2017 às, 16h52.

O arquivamento da denúncia contra o Presidente Michel Temer pela Câmara foi um resultado esperado por todos. E digo mais: apesar da reprovação recorde e das pesquisas que mostram uma maioria da população quer que ele caia, no fundo no fundo são muito poucos os que querem isso.

É por isso que não ouvimos panelaço ontem e nem teremos grandes manifestações nas ruas. A turma do “Fora Temer” já desencanou faz tempo; seu máximo agora é um post nas redes sociais para marcar posição. Para o grosso da população – que provavelmente quer a queda de qualquer político – Temer é só mais um político qualquer. Não tem alternativa.

Estaríamos melhor com Rodrigo Maia? Com mais seis meses de especulação (que já são, em si, a destituição do cargo, sendo a volta uma possibilidade remota e implausível), seguidos de uma eleição indireta para eleger ainda mais um, o quarto presidente nesses quatro anos desde que Dilma foi eleita? Falta só 1 ano e meio para o fim do mandato, Temer será investigado assim que deixar o cargo, não haveria nenhum ganho e – aí sim – alguma perda de previsibilidade estabilidade se ele caísse. Gostemos ou não, a abertura do processo é uma decisão mais política do que técnica e, do lado político, ninguém se beneficia.

Nem mesmo a oposição que votou “Não”, pedindo a abertura do processo. O sonho dessa esquerda era eleições diretas para reeleger Lula (único nome viável) antes que ele caia na Lei da Ficha Limpa, caso seja condenado em segunda instância. Só que a eleição direta vai contra o que diz a lei, e para mudar isso ainda para este ciclo exigiria muito jeitinho, muita articulação e muita gambiarra jurídica. Na melhor das hipóteses, Temer perde o cargo mesmo só em 2018; com mais alguns meses de campanha e preparação, o novo presidente eleito ficaria pouco mais de seis meses no cargo. É manifestamente ridículo querer eleição direta nessas condições. Jamais iria colar.

Para completar, está todo mundo comprado. Temer abriu as torneiras das emendas parlamentares, inclusive para os partidos da oposição. Para eles, a melhor estratégia é marcar posição junto ao eleitorado, bater no peito pedindo o “Fora Temer”, perder e deixar que ele continue no cargo. Se quisessem mesmo derrubá-lo, os 225 que votaram “Não” poderiam simplesmente não ter participado da sessão, que não ocorreria por falta de quorum; e daí poderiam jogar para a mídia, para a opinião pública, aumentar a pressão.

Não tentaram porque simplesmente não querem que o presidente saia. Melhor ficar confortavelmente se opondo a ele, alimentando a narrativa de que ele é o culpado pela crise e apostando na amnésia popular até 2018.

Temer não é de maneira alguma o culpado pela catástrofe em que estamos. Foi a Dilma e jamais podemos deixar de bater nessa tecla. Contudo, o esforço dele de nos recolocar no caminho certo tem sido sistematicamente sabotado pela necessidade de sobreviver e comprar apoio com todos os setores do Estado.

De que adiantou ter passado a PEC do Teto se ao mesmo tempo concedeu aumentos generosos para todo o funcionalismo, mutilou a reforma da previdência e caprichou nas verbas para os deputados? Gastou seu capital político para passar a promessa do ajuste – promessa abstrata que não implica corte para ninguém – e agora não tem como efetivamente fazer o ajuste.

E seguiremos assim, nesta recuperação tímida, lentíssima, neste país descrente e desmoralizado, até as eleições de 2018. Então ou daremos finalmente um passo na direção certa ou pulamos no abismo de vez. O que não dará mais para fazer é continuar em nossa disposição natural: a do “tem que manter isso aí, viu.”