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Os olavistas e a guerra dentro do governo Bolsonaro

A fonte da maior parte dos problemas do governo Bolsonaro tem sido a ala olavista

BOLSONARO: Os membros do governo dividem-se na frente olavista e militar / REUTERS/Sergio Moraes (Sergio Moraes/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 11 de abril de 2019 às 11h58.

Última atualização em 12 de abril de 2019 às 14h49.

Há uma guerra interna instalada no governo Bolsonaro. Em linhas gerais, de um lado está a chamada ala ideológica ou “olavista”, composta de seguidores de Olavo de Carvalho (o que não significa que seja ele quem toma as decisões dentro dela). Neste campo estão o Chanceler, o assessor presidencial Filipe Martins, os filhos Carlos e Eduardo Bolsonaro, o novo Ministro da Educação e, embora mais associada aos evangélicos que a Olavo, a Ministra Damares Alves. Do outro, está a união entre a ala militar e os ministros Sergio Moro e Paulo Guedes.

A fonte da maior parte dos problemas do governo Bolsonaro tem sido justamente a ala olavista. Sua comunicação, baseada no enfrentamento constante de supostos inimigos para mobilizar uma militância virtual raivosa, explica em boa parte a péssima relação do governo com o Congresso. A justificativa olavista é que se Bolsonaro governar para o povo, a pressão popular em cima das demais instituições obriga-las-á a se prostrarem perante o presidente ou serem efetivamente solapadas pela ira do povo.

Olavo e Filipe Martins há tempos falam abertamente no desejo de um revolução no Brasil (leia-se: derrubada violenta do sistema e da ordem jurídica pela força do povo), tendo inclusive tentado insuflar uma durante a greve dos caminhoneiros de 2018. Em um post de Facebook de 24 de maio do ano passado, Olavo incitou aos caminhoneiros a que parassem de pedir uma por uma intervenção militar e que fizessem uma intervenção eles mesmos, finalizando com “todo poder aos caminhoneiros!”

Olavo não está presente no dia a dia do governo. Mas Filipe Martins, Eduardo Bolsonaro e Carlos Bolsonaro operam sob a mesma lógica da revolução por meio do ódio popular a tudo que possa refrear o poder do presidente. Sua grande força é a mobilização da militância online, sempre pronta a atacar alvos selecionados pelos líderes, mas hoje ela já encontra bastante resistência de outros usuários. Uma rápida visita às páginas dos três pode comprová-lo. Mais importante que um exército no Twitter é ter o povo nas ruas, disposto a parar o país e, se necessário, usar a violência para tomar o poder. Isso também está em falta, como os protestos mais recentes têm mostrado.

No plano da competência técnica, os fracassos são reiterados. O Ministério da Educação, inoperante há três meses, e a APEX (mesmo resultado) o mostram com clareza. No Ministério das Relações Exteriores, muita fala e poucos resultados. Seu maior resultado, o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (sobre a Base de Alcântara) é um acordo que já havia sido preparado há décadas ainda no governo FHC. Os governos petistas enterraram o acordo. O governo Temer o ressuscitou e o colocou em negociação. O governo Bolsonaro colhe o fruto de finalmente assiná-lo, mas não é como se o mérito fosse seu. Fora isso, temos discursos grandiloquentes. Via de regra, o modus operandi de Olavo de Carvalho e seus seguidores é promover discórdia e intrigas por onde passam. Nada prospera aí, apenas as paixões exaltadas em defesa ou ataque ao mestre.

Quando olhamos do outro lado, a imagem é diferente: vemos ministros com enorme capacidade de trabalho e apresentando projetos concretos. O Ministério da Economia leva adiante uma agenda ambiciosa em várias frentes. Sergio Moro na Justiça e Tarcísio Gomes de Freita na Infra-estrutura também se mostram profundos conhecedores de suas áreas e com a disposição de avançar pautas importantes. Eles precisam, contudo, de instituições que funcionem: Congresso, Judiciário, Mídia não são vistos como inimigos.

Com tudo isso, seria de se esperar que o Presidente tirasse poder da ala olavista e favorecesse a ala técnica. Contudo, não é o que temos visto. Reiteradamente, quando um conflito emerge, os ideológicos têm levado a melhor na escolha do presidente. Foi assim na hora de determinar se a APEX ficaria no Ministério da Economia ou no das Relações Exteriores. O Chanceler inicialmente nomeou um indivíduo despreparado, que nem falava inglês. Foi rapidamente exonerado e em seu lugar entrou o Embaixador Mário Vilalva. Incapaz de trabalhar com as intrigas constantes causadas pela equipe olavista, ele também foi exonerado. A Agência está há três meses paralisada. O mesmo vale para o MEC. E, no entanto, ao invés de tirá-los de mãos olavistas, Bolsonaro os reconduz para o mesmo grupo.

Da mesma forma, mesmo sentindo na pele o efeito deletério das mensagens agressivas de Carlos Bolsonaro (queda na Bolsa, alta do dólar, insatisfação de Guedes), o Presidente não o afasta da comunicação presidencial. Algo o torna incapaz de contrariar seus filhos. E como o projeto de poder de ambos está em conflito com o sucesso do governo do pai, o Presidente segue se auto-sabotando desnecessariamente.

Mais eloquente de todos é a postura do Presidente com o próprio Olavo. Mesmo tendo o ideólogo xingado o vice-presidente e o General Santos Cruz publicamente, Jair Bolsonaro o colocou à sua direita no jantar presidencial. O sinal é claro.

A estratégia revolucionária dos olavistas tem chance de dar certo? O Brasil vai sucumbir ao levante popular de direitistas fanatizados e cheios de ódio? Duvido muito. Se nem na Internet conseguem manter uma clara superioridade, que dirá nas ruas. O plano vai falhar. Mas se o Presidente Jair Bolsonaro embarcar nesse plano, seu governo falhará junto. E, com esse fracasso, o Brasil sofrerá ainda mais.

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Há uma guerra interna instalada no governo Bolsonaro. Em linhas gerais, de um lado está a chamada ala ideológica ou “olavista”, composta de seguidores de Olavo de Carvalho (o que não significa que seja ele quem toma as decisões dentro dela). Neste campo estão o Chanceler, o assessor presidencial Filipe Martins, os filhos Carlos e Eduardo Bolsonaro, o novo Ministro da Educação e, embora mais associada aos evangélicos que a Olavo, a Ministra Damares Alves. Do outro, está a união entre a ala militar e os ministros Sergio Moro e Paulo Guedes.

A fonte da maior parte dos problemas do governo Bolsonaro tem sido justamente a ala olavista. Sua comunicação, baseada no enfrentamento constante de supostos inimigos para mobilizar uma militância virtual raivosa, explica em boa parte a péssima relação do governo com o Congresso. A justificativa olavista é que se Bolsonaro governar para o povo, a pressão popular em cima das demais instituições obriga-las-á a se prostrarem perante o presidente ou serem efetivamente solapadas pela ira do povo.

Olavo e Filipe Martins há tempos falam abertamente no desejo de um revolução no Brasil (leia-se: derrubada violenta do sistema e da ordem jurídica pela força do povo), tendo inclusive tentado insuflar uma durante a greve dos caminhoneiros de 2018. Em um post de Facebook de 24 de maio do ano passado, Olavo incitou aos caminhoneiros a que parassem de pedir uma por uma intervenção militar e que fizessem uma intervenção eles mesmos, finalizando com “todo poder aos caminhoneiros!”

Olavo não está presente no dia a dia do governo. Mas Filipe Martins, Eduardo Bolsonaro e Carlos Bolsonaro operam sob a mesma lógica da revolução por meio do ódio popular a tudo que possa refrear o poder do presidente. Sua grande força é a mobilização da militância online, sempre pronta a atacar alvos selecionados pelos líderes, mas hoje ela já encontra bastante resistência de outros usuários. Uma rápida visita às páginas dos três pode comprová-lo. Mais importante que um exército no Twitter é ter o povo nas ruas, disposto a parar o país e, se necessário, usar a violência para tomar o poder. Isso também está em falta, como os protestos mais recentes têm mostrado.

No plano da competência técnica, os fracassos são reiterados. O Ministério da Educação, inoperante há três meses, e a APEX (mesmo resultado) o mostram com clareza. No Ministério das Relações Exteriores, muita fala e poucos resultados. Seu maior resultado, o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (sobre a Base de Alcântara) é um acordo que já havia sido preparado há décadas ainda no governo FHC. Os governos petistas enterraram o acordo. O governo Temer o ressuscitou e o colocou em negociação. O governo Bolsonaro colhe o fruto de finalmente assiná-lo, mas não é como se o mérito fosse seu. Fora isso, temos discursos grandiloquentes. Via de regra, o modus operandi de Olavo de Carvalho e seus seguidores é promover discórdia e intrigas por onde passam. Nada prospera aí, apenas as paixões exaltadas em defesa ou ataque ao mestre.

Quando olhamos do outro lado, a imagem é diferente: vemos ministros com enorme capacidade de trabalho e apresentando projetos concretos. O Ministério da Economia leva adiante uma agenda ambiciosa em várias frentes. Sergio Moro na Justiça e Tarcísio Gomes de Freita na Infra-estrutura também se mostram profundos conhecedores de suas áreas e com a disposição de avançar pautas importantes. Eles precisam, contudo, de instituições que funcionem: Congresso, Judiciário, Mídia não são vistos como inimigos.

Com tudo isso, seria de se esperar que o Presidente tirasse poder da ala olavista e favorecesse a ala técnica. Contudo, não é o que temos visto. Reiteradamente, quando um conflito emerge, os ideológicos têm levado a melhor na escolha do presidente. Foi assim na hora de determinar se a APEX ficaria no Ministério da Economia ou no das Relações Exteriores. O Chanceler inicialmente nomeou um indivíduo despreparado, que nem falava inglês. Foi rapidamente exonerado e em seu lugar entrou o Embaixador Mário Vilalva. Incapaz de trabalhar com as intrigas constantes causadas pela equipe olavista, ele também foi exonerado. A Agência está há três meses paralisada. O mesmo vale para o MEC. E, no entanto, ao invés de tirá-los de mãos olavistas, Bolsonaro os reconduz para o mesmo grupo.

Da mesma forma, mesmo sentindo na pele o efeito deletério das mensagens agressivas de Carlos Bolsonaro (queda na Bolsa, alta do dólar, insatisfação de Guedes), o Presidente não o afasta da comunicação presidencial. Algo o torna incapaz de contrariar seus filhos. E como o projeto de poder de ambos está em conflito com o sucesso do governo do pai, o Presidente segue se auto-sabotando desnecessariamente.

Mais eloquente de todos é a postura do Presidente com o próprio Olavo. Mesmo tendo o ideólogo xingado o vice-presidente e o General Santos Cruz publicamente, Jair Bolsonaro o colocou à sua direita no jantar presidencial. O sinal é claro.

A estratégia revolucionária dos olavistas tem chance de dar certo? O Brasil vai sucumbir ao levante popular de direitistas fanatizados e cheios de ódio? Duvido muito. Se nem na Internet conseguem manter uma clara superioridade, que dirá nas ruas. O plano vai falhar. Mas se o Presidente Jair Bolsonaro embarcar nesse plano, seu governo falhará junto. E, com esse fracasso, o Brasil sofrerá ainda mais.

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