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O bom combate pelo bom debate

No Brasil, os partidos vestem e desvestem ideias, como modelos a provar grifes no camarim da Fashion Week. É hora de melhorar o nível da discussão

PALÁCIO DO PLANALTO: cabe à imprensa ir além da espuma das palavras de ordem, e cobrar dos candidatos o que realmente importa: propostas concretas (Paulo Whitaker/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 27 de abril de 2018 às 15h26.

Última atualização em 27 de abril de 2018 às 17h17.

Uma democracia se faz de luta de poder e de luta de ideias.

A imprensa, no mundo inteiro, cobre principalmente a luta de poder. São enredos que têm apelo, como as séries de TV Game of Thrones e House of Cards. Cheios de coligações e traições, alianças e rompimentos, com a disputa de espaço político dentro e fora dos partidos — que, no Brasil, é especialmente dramática por se dar em ambiente de combate à corrupção. Por aqui, o roteiro de novela política se mistura ao de trama policial.

Em tempo de eleições, o foco da cobertura muda um pouco. Políticos e partidos disputam a “narrativa” — leia-se marketing. Cabe à imprensa ir além da espuma das palavras de ordem, e cobrar dos candidatos o que realmente importa: propostas concretas para resolver os problemas terrivelmente concretos do país — pobreza, desigualdade, violência, corrupção, economia em estado de emergência fiscal. Afinal, não se governa com slogans.

No Brasil, a disputa de ideias se torna ainda mais importante por causa da indefinição ideológica dos partidos. Incluem-se aí os principais, PSDB e PT, que polarizaram as seis últimas eleições. É importante reconhecer, no momento em que os dois enfrentam grave crise — ambos tiveram quadros abatidos pela Lava Jato, o PT mais que o PSDB – que tais partidos foram fundamentais, em suas divergências, para a consolidação da democracia brasileira. PT e PSDB agregaram, nos últimos vinte anos, a maioria dos quadros universitários. É na academia, em geral, que surgem as políticas públicas destinadas a transformar o mundo real – as tais soluções concretas para os problemas terrivelmente concretos. É a famosa máxima do economista inglês John Maynard Keynes: "Homens práticos, que acreditam ser alheios a qualquer influência intelectual, são, na maioria das vezes, escravos de algum economista defunto”.

Mas a frouxidão ideológica existe. Um exemplo. Em suas colunas na imprensa, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso costumava definir o PSDB como um partido liberal na economia, liberal nos costumes e social-democrata na área social. Durante os oito anos em que governou, Fernando Henrique sofreu oposição ferrenha do PT, que criticava principalmente o pilar "liberal na economia" — os petistas classificavam seu governo como “neoliberal”. Lula se elegeu em 2002, tomou posse no primeiro dia de 2003, e seu ministro da Fazenda Antônio Palocci criou uma área econômica ainda mais "neoliberal" — segundo avaliação, na época, dos próprios economistas do PT.

Outro exemplo. Em 2010, a campanha tucana desencavou uma entrevista de Dilma Rousseff em que a candidata petista se dizia favorável ao aborto. José Serra usou o material jornalístico em sua propaganda, com o intuito de tirar votos da opositora. Foi-se, pelas mãos de Serra e seus marqueteiros, o pilar "liberal nos costumes" do PSDB.

(Não se entra aqui no mérito das decisões – a continuidade econômica entre os governos Fernando Henrique e Lula pode até ter sido boa para o Brasil. Apenas se aponta a incoerência).

No debate brasileiro, as ideias vêm e voltam. Os partidos frequentemente vestem e desvestem tais ideias de acordo com suas conveniências, como se fossem modelos a provar grifes no camarim da Fashion Week. Na passarela das próximas eleições, ao que tudo indica, deveremos assistir ao desfile de várias das posições que há muito tempo disputam espaço no debate brasileiro. E isso pode ser bom. Vejamos exemplos em algumas pré-candidaturas.

Existe há muito tempo no Brasil um polo liberal. Atualmente, tal polo acredita que uma condução competente da economia, de acordo com o mainstream da globalização, pode gerar crescimento econômico e minorar nossas chagas sociais. Nas próximas eleições, o representante puro-sangue dessa corrente é João Amoedo, do Partido Novo.

Existe uma corrente social democrata, que defende a condução da economia de acordo com o mainstream econômico, mas com o acréscimo de políticas sociais fortes contra a pobreza e a desigualdade. Tal corrente, majoritária na esquerda internacional, é a mesma de Barack Obama, Justin Trudeau e José Mujica — e, no Brasil, como vimos, predominou nos governos de Fernando Henrique e Lula. Por enquanto, quem tenta ocupar esse campo político é Marina Silva, da Rede. Entre ela e Amoedo está o tucano Geraldo Alckmin, que se equilibra no “centro”, entre social-democrata e liberal.

Existe uma corrente nacionalista, que defende que o Estado, além de promover programas sociais, deve ter um papel ativo na economia, principalmente na promoção da indústria nacional. Tal corrente tem representantes à direita e à esquerda – é ilustrativo, neste sentido, o encontro desta semana entre o pedetista Ciro Gomes, o petista Fernando Haddad, Luiz Carlos Bresser-Pereira, que ocupou uma pasta no gabinete de Fernando Henrique, e Delfim Neto, ministro da Fazenda da ditadura militar . Ciro, ao que tudo indica, será o candidato da esquerda nacionalista nas próximas eleições. O cérebro econômico de sua campanha, Nélson Marconi, tem feito esforços na imprensa para explicar que não se trata de um nacionalismo no estilo Dilma Rousseff.

À direita, Jair Bolsonaro sempre foi um defensor do nacionalismo estatal, pelos elogios que sempre fez ao general Ernesto Geisel –cujo governo teve inúmeras semelhanças, na área econômica, com o de Dilma Rousseff. O coordenador do programa econômico de Bolsonaro, Paulo Guedes, é, no entanto, um liberal. Ao longo da campanha ficará mais claro qual o nicho da direita que Bolsonaro pretende ocupar.

Existe ainda na esquerda uma postura mais tradicional, de confronto ao capitalismo, como lembra o sociólogo Celso Rocha Barros em artigo. É provável que Guilherme Boulos, do PSOL, ocupe este espaço. À direita, a clivagem entre modernos e tradicionais se dá no campo dos costumes, como lembra a cientista política Camila Rocha em entrevista. Tal nicho da direita conservadora, de olho nos eleitores da bancada religiosa no Congresso, vem sendo disputado pelos pré-candidatos Flávio Rocha, do PRB, e Paulo Rabello de Castro, do Partido Social Cristão.

Por fim, há o pilar "liberal nos costumes", para usar a nomenclatura de Fernando Henrique. Ele se fortalece com o movimento feminista que ganha espaço crescente na sociedade brasileira, e deve ser reivindicado pela candidata Manuela D'Avila, pelo que se pode depreender de suas postagens nas redes sociais.

(Leia um resumo das diversas posturas no quadro abaixo. Elas serão detalhadas e eventualmente modificadas ao longo da campanha eleitoral, ao sabor das definições, redefinições e indefinições dos candidatos).

 

É cedo ainda para dizer onde estarão o PT e Joaquim Barbosa. O PT obviamente continuará no campo da esquerda e, pelos últimos documentos do Instituto Lula, dificilmente ocupará o nicho social-democrata de 2002 . O PSB ainda não confirmou a candidatura de Joaquim Barbosa — e dele só se sabe, por enquanto, que é um ativista do combate à corrupção.

Os problemas brasileiros estão devidamente estudados e mapeados. Não há solução única para eles. O confronto das diversas saídas possíveis constitui o debate democrático. É a luta de ideias de que falamos acima— e que será o tema desta coluna nos próximos meses. Neste espaço, que pretende iniciar uma conversa — característica, aliás, de qualquer iniciativa jornalística na era digital — nenhuma ideia será desqualificada. Todas, no entanto, serão questionadas a partir do cotejo com os fatos.

A democracia é uma conquista que, como um carro, necessita de manutenção constante. Por mais que estejamos dirigindo em estrada esburacada, não há no GPS nenhum sinal concreto de que o caminho percorrido nos leve a uma ditadura. Isso merece comemoração. Há pela frente, no entanto, um longo aprendizado de cultura democrática. Nos próximos anos, quiçá décadas, teremos que nos acostumar cada vez mais com quem pensa diferente. Socialistas terão que conviver — dentro das famílias, empresas ou redes sociais — com liberais; conservadores com progressistas; garantistas com ativistas do combate à corrupção; estatistas com defensores do fortalecimento das instituições de mercado. No melhor cenário, viveremos cada vez mais lado a lado, no dia-a-dia, com quem defende aquilo que consideramos completamente errado. Democracia, basicamente, é isso.

Existe um jeito infantil de lidar com essa situação, que é desqualificar quem pensa diferente — xingando-o de "coxinha" ou "petralha", por exemplo, como crianças que jogam areia umas nas outras no parquinho. Existe um jeito adulto, que é ouvir o que o outro tem a dizer — e conversar com ele.

É esta segunda postura que propomos nessa coluna. Para que nossa democracia jovem cresça saudável, é fundamental encarar o bom combate pelo bom debate.

******

Uma discussão de alto nível se dá em torno de fatos e dados. Neste sentido, vale acompanhar a iniciativa “Panorama Brasil”, da escola de negócios Insper e da consultoria Oliver Wymann – a qual, na área de políticas públicas, foi responsável, entre outras coisas, pelas diretrizes do ajuste fiscal na Inglaterra, que cortou gastos públicos preservando a renda dos mais pobres. Trata-se de uma série de sete artigos, acompanhados de debates, com o diagnóstico dos principais problemas brasileiros. O primeiro artigo, de autoria dos economistas Marcos Lisboa, Ana Carla Abrão e Vinícius Carrasco, faz um comparativo entre o Brasil das últimas duas décadas e o resto do mundo. A conclusão é que, nos vinte anos entre 1994 e 2014, o Brasil teve um crescimento em linha com os demais países, foi um desastre em produtividade, reduziu a pobreza menos que outros emergentes – e foi destaque positivo apenas na melhoria da distribuição de renda, na evolução da expectativa de vida e na universalização da educação básica. O lançamento do primeiro artigo foi na quinta-feira dia 26.

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Uma democracia se faz de luta de poder e de luta de ideias.

A imprensa, no mundo inteiro, cobre principalmente a luta de poder. São enredos que têm apelo, como as séries de TV Game of Thrones e House of Cards. Cheios de coligações e traições, alianças e rompimentos, com a disputa de espaço político dentro e fora dos partidos — que, no Brasil, é especialmente dramática por se dar em ambiente de combate à corrupção. Por aqui, o roteiro de novela política se mistura ao de trama policial.

Em tempo de eleições, o foco da cobertura muda um pouco. Políticos e partidos disputam a “narrativa” — leia-se marketing. Cabe à imprensa ir além da espuma das palavras de ordem, e cobrar dos candidatos o que realmente importa: propostas concretas para resolver os problemas terrivelmente concretos do país — pobreza, desigualdade, violência, corrupção, economia em estado de emergência fiscal. Afinal, não se governa com slogans.

No Brasil, a disputa de ideias se torna ainda mais importante por causa da indefinição ideológica dos partidos. Incluem-se aí os principais, PSDB e PT, que polarizaram as seis últimas eleições. É importante reconhecer, no momento em que os dois enfrentam grave crise — ambos tiveram quadros abatidos pela Lava Jato, o PT mais que o PSDB – que tais partidos foram fundamentais, em suas divergências, para a consolidação da democracia brasileira. PT e PSDB agregaram, nos últimos vinte anos, a maioria dos quadros universitários. É na academia, em geral, que surgem as políticas públicas destinadas a transformar o mundo real – as tais soluções concretas para os problemas terrivelmente concretos. É a famosa máxima do economista inglês John Maynard Keynes: "Homens práticos, que acreditam ser alheios a qualquer influência intelectual, são, na maioria das vezes, escravos de algum economista defunto”.

Mas a frouxidão ideológica existe. Um exemplo. Em suas colunas na imprensa, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso costumava definir o PSDB como um partido liberal na economia, liberal nos costumes e social-democrata na área social. Durante os oito anos em que governou, Fernando Henrique sofreu oposição ferrenha do PT, que criticava principalmente o pilar "liberal na economia" — os petistas classificavam seu governo como “neoliberal”. Lula se elegeu em 2002, tomou posse no primeiro dia de 2003, e seu ministro da Fazenda Antônio Palocci criou uma área econômica ainda mais "neoliberal" — segundo avaliação, na época, dos próprios economistas do PT.

Outro exemplo. Em 2010, a campanha tucana desencavou uma entrevista de Dilma Rousseff em que a candidata petista se dizia favorável ao aborto. José Serra usou o material jornalístico em sua propaganda, com o intuito de tirar votos da opositora. Foi-se, pelas mãos de Serra e seus marqueteiros, o pilar "liberal nos costumes" do PSDB.

(Não se entra aqui no mérito das decisões – a continuidade econômica entre os governos Fernando Henrique e Lula pode até ter sido boa para o Brasil. Apenas se aponta a incoerência).

No debate brasileiro, as ideias vêm e voltam. Os partidos frequentemente vestem e desvestem tais ideias de acordo com suas conveniências, como se fossem modelos a provar grifes no camarim da Fashion Week. Na passarela das próximas eleições, ao que tudo indica, deveremos assistir ao desfile de várias das posições que há muito tempo disputam espaço no debate brasileiro. E isso pode ser bom. Vejamos exemplos em algumas pré-candidaturas.

Existe há muito tempo no Brasil um polo liberal. Atualmente, tal polo acredita que uma condução competente da economia, de acordo com o mainstream da globalização, pode gerar crescimento econômico e minorar nossas chagas sociais. Nas próximas eleições, o representante puro-sangue dessa corrente é João Amoedo, do Partido Novo.

Existe uma corrente social democrata, que defende a condução da economia de acordo com o mainstream econômico, mas com o acréscimo de políticas sociais fortes contra a pobreza e a desigualdade. Tal corrente, majoritária na esquerda internacional, é a mesma de Barack Obama, Justin Trudeau e José Mujica — e, no Brasil, como vimos, predominou nos governos de Fernando Henrique e Lula. Por enquanto, quem tenta ocupar esse campo político é Marina Silva, da Rede. Entre ela e Amoedo está o tucano Geraldo Alckmin, que se equilibra no “centro”, entre social-democrata e liberal.

Existe uma corrente nacionalista, que defende que o Estado, além de promover programas sociais, deve ter um papel ativo na economia, principalmente na promoção da indústria nacional. Tal corrente tem representantes à direita e à esquerda – é ilustrativo, neste sentido, o encontro desta semana entre o pedetista Ciro Gomes, o petista Fernando Haddad, Luiz Carlos Bresser-Pereira, que ocupou uma pasta no gabinete de Fernando Henrique, e Delfim Neto, ministro da Fazenda da ditadura militar . Ciro, ao que tudo indica, será o candidato da esquerda nacionalista nas próximas eleições. O cérebro econômico de sua campanha, Nélson Marconi, tem feito esforços na imprensa para explicar que não se trata de um nacionalismo no estilo Dilma Rousseff.

À direita, Jair Bolsonaro sempre foi um defensor do nacionalismo estatal, pelos elogios que sempre fez ao general Ernesto Geisel –cujo governo teve inúmeras semelhanças, na área econômica, com o de Dilma Rousseff. O coordenador do programa econômico de Bolsonaro, Paulo Guedes, é, no entanto, um liberal. Ao longo da campanha ficará mais claro qual o nicho da direita que Bolsonaro pretende ocupar.

Existe ainda na esquerda uma postura mais tradicional, de confronto ao capitalismo, como lembra o sociólogo Celso Rocha Barros em artigo. É provável que Guilherme Boulos, do PSOL, ocupe este espaço. À direita, a clivagem entre modernos e tradicionais se dá no campo dos costumes, como lembra a cientista política Camila Rocha em entrevista. Tal nicho da direita conservadora, de olho nos eleitores da bancada religiosa no Congresso, vem sendo disputado pelos pré-candidatos Flávio Rocha, do PRB, e Paulo Rabello de Castro, do Partido Social Cristão.

Por fim, há o pilar "liberal nos costumes", para usar a nomenclatura de Fernando Henrique. Ele se fortalece com o movimento feminista que ganha espaço crescente na sociedade brasileira, e deve ser reivindicado pela candidata Manuela D'Avila, pelo que se pode depreender de suas postagens nas redes sociais.

(Leia um resumo das diversas posturas no quadro abaixo. Elas serão detalhadas e eventualmente modificadas ao longo da campanha eleitoral, ao sabor das definições, redefinições e indefinições dos candidatos).

 

É cedo ainda para dizer onde estarão o PT e Joaquim Barbosa. O PT obviamente continuará no campo da esquerda e, pelos últimos documentos do Instituto Lula, dificilmente ocupará o nicho social-democrata de 2002 . O PSB ainda não confirmou a candidatura de Joaquim Barbosa — e dele só se sabe, por enquanto, que é um ativista do combate à corrupção.

Os problemas brasileiros estão devidamente estudados e mapeados. Não há solução única para eles. O confronto das diversas saídas possíveis constitui o debate democrático. É a luta de ideias de que falamos acima— e que será o tema desta coluna nos próximos meses. Neste espaço, que pretende iniciar uma conversa — característica, aliás, de qualquer iniciativa jornalística na era digital — nenhuma ideia será desqualificada. Todas, no entanto, serão questionadas a partir do cotejo com os fatos.

A democracia é uma conquista que, como um carro, necessita de manutenção constante. Por mais que estejamos dirigindo em estrada esburacada, não há no GPS nenhum sinal concreto de que o caminho percorrido nos leve a uma ditadura. Isso merece comemoração. Há pela frente, no entanto, um longo aprendizado de cultura democrática. Nos próximos anos, quiçá décadas, teremos que nos acostumar cada vez mais com quem pensa diferente. Socialistas terão que conviver — dentro das famílias, empresas ou redes sociais — com liberais; conservadores com progressistas; garantistas com ativistas do combate à corrupção; estatistas com defensores do fortalecimento das instituições de mercado. No melhor cenário, viveremos cada vez mais lado a lado, no dia-a-dia, com quem defende aquilo que consideramos completamente errado. Democracia, basicamente, é isso.

Existe um jeito infantil de lidar com essa situação, que é desqualificar quem pensa diferente — xingando-o de "coxinha" ou "petralha", por exemplo, como crianças que jogam areia umas nas outras no parquinho. Existe um jeito adulto, que é ouvir o que o outro tem a dizer — e conversar com ele.

É esta segunda postura que propomos nessa coluna. Para que nossa democracia jovem cresça saudável, é fundamental encarar o bom combate pelo bom debate.

******

Uma discussão de alto nível se dá em torno de fatos e dados. Neste sentido, vale acompanhar a iniciativa “Panorama Brasil”, da escola de negócios Insper e da consultoria Oliver Wymann – a qual, na área de políticas públicas, foi responsável, entre outras coisas, pelas diretrizes do ajuste fiscal na Inglaterra, que cortou gastos públicos preservando a renda dos mais pobres. Trata-se de uma série de sete artigos, acompanhados de debates, com o diagnóstico dos principais problemas brasileiros. O primeiro artigo, de autoria dos economistas Marcos Lisboa, Ana Carla Abrão e Vinícius Carrasco, faz um comparativo entre o Brasil das últimas duas décadas e o resto do mundo. A conclusão é que, nos vinte anos entre 1994 e 2014, o Brasil teve um crescimento em linha com os demais países, foi um desastre em produtividade, reduziu a pobreza menos que outros emergentes – e foi destaque positivo apenas na melhoria da distribuição de renda, na evolução da expectativa de vida e na universalização da educação básica. O lançamento do primeiro artigo foi na quinta-feira dia 26.

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