Reservas externas do Brasil: dilema a ser resolvido
O Brasil é o décimo colocado mundial em volume de reservas externas oficiais mantidas pelo país (veja em https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/2188rank.html). Carregamos um volume de reservas externas quase três vezes superior ao dos Estados Unidos da América do Norte (USD 370 bi x USD 130 bi). Se excluirmos a China (com USD 3, 2 tri) e o Japão (com USD 1,3 tri), a União Europeia (com USD 740 bi), a Arábia Saudita […] Leia mais
Publicado em 16 de agosto de 2016 às, 16h35.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 07h32.
O Brasil é o décimo colocado mundial em volume de reservas externas oficiais mantidas pelo país (veja em https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/2188rank.html). Carregamos um volume de reservas externas quase três vezes superior ao dos Estados Unidos da América do Norte (USD 370 bi x USD 130 bi).
Se excluirmos a China (com USD 3, 2 tri) e o Japão (com USD 1,3 tri), a União Europeia (com USD 740 bi), a Arábia Saudita e a Suíça na casa dos USD 600 bi, teremos Taiwan, Rússia, Índia, Coreia do Sul e Brasil embolados na faixa dos USD 370 bi de reservas externas.
A afirmação recente do presidente do Banco Central do Brasil, de que a instituição deverá repensar o volume de reservas externas a ser mantido pelo país pode levar a interpretações divergentes em relação a seguinte questão: o Brasil deve manter, elevar ou reduzir o volume de suas reservas externas?
Sobretudo, uma mudança de posição em relação à manutenção do nível de reservas atual, certamente iria influenciar a taxa cambial e as taxas de juros negociadas pelo mercado. Não é para menos que Ilan Goldfajn não quis se pronunciar em relação à questão. É sabido que o Banco Central não se pronuncia a respeito de questões de política monetária e cambial: apenas age. Caso entenda que o volume de reservas é excessivo, a mudança em relação à situação de equilíbrio atual sinalizaria para o mercado alguma pressão vendedora para o dólar e queda para as taxas de juros. Em caso contrário, de pressão compradora para o dólar e alta para as taxas de juros.
É possível que alguns analistas achem excessivo esse volume de reservas, mesmo quando se analisa a questão em termos relativos – como, por exemplo, com relação ao PIB (produto interno bruto) do país. O Brasil, certamente, se colocaria muito além da média obtida pelos seus pares (acima mencionados), no que diz respeito ao carregamento de reservas internacionais.
Alguns estudos afirmam que o nível ótimo de reservas externas de um país deve ser igual ao valor de seus compromissos externos de curto prazo mais o custo no produto interno advindo de uma crise, menos o custo de oportunidade pelo carregamento dessas reservas
O difícil está em estimar o componente do custo em termos de produto, advindo de uma crise econômica. Dessa forma, o cálculo exato das reservas necessárias dependerá do modelo utilizado para estimar esse custo. Entretanto, é correta a percepção de que um volume maior de reservas teria a capacidade de prevenir e, também, mitigar, o referido custo no produto do país.
Normalmente, as crises econômicas, sejam elas de origem interna ou externa – como a crise mundial de 2008, por exemplo -, se refletem na desvalorização da moeda local, que pode ser maior ou menor dependendo dos fundamentos daquela economia.
Se lembrarmos da crise econômica brasileira em 2015, notamos que a despeito da existência de cerca de USD 370 bi em reservas externas, o câmbio se desvalorizou fortemente naquele ano como um remédio prescrito para o país recuperar o seu equilíbrio externo e combater a crise da economia.
Além disso, deve-se lembrar que um alto volume de reservas tende a trazer certa tranquilidade em relação à continuidade dos fluxos de recursos externos para o país, o que, de outra forma, poderia se tornar um agravante para a crise econômica local.
Porém, um alto volume de reservas não impede o agravamento da crise por falta de confiança na política econômica do governo do país, além de se refletir em mais um ônus a ser bancado pelo país: o do custo de oportunidade pelo carregamento dessas reservas.
O custo para o carregamento dessas reservas tem sido um dos principais motivos para críticas à manutenção do alto volume de reservas externas pelo Brasil nos últimos anos. Ele pode ser entendido, grosso modo, pela diferença existente entre a taxa de juros (excluída a correção cambial) paga pelo Tesouro Nacional/Banco Central para a captação dos recursos utilizados na compra dessas reservas, frente à taxa de juros obtida pela aplicação dessas reservas em moeda forte no exterior.
Então, qual a sua opinião sobre a questão?!?!?