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Você ainda idolatra Cuba?

Ganhei de Natal de minha namorada o livro (De Cuba com Carinho) da famosa blogueira cubana Yoani Sánchez. Ontem li 1/3 do livro e estou gostando muito. A autora selecionou os posts mais recentes de seu blog (Generacion Y) para formar o corpo do texto do livro. Tem ainda uma introdução, especial para os leitores do livro (este é um lançamento – pelo menos por enquanto – apenas no Brasil, […] Leia mais

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Instituto Millenium

Publicado em 27 de dezembro de 2009 às, 10h41.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 12h33.

Ganhei de Natal de minha namorada o livro (De Cuba com Carinho) da famosa blogueira cubana Yoani Sánchez. Ontem li 1/3 do livro e estou gostando muito. A autora selecionou os posts mais recentes de seu blog (Generacion Y) para formar o corpo do texto do livro. Tem ainda uma introdução, especial para os leitores do livro (este é um lançamento – pelo menos por enquanto – apenas no Brasil, da Editora Contexto, a mesma do livro do Demétrio Magnoli). Eu escrevi sobre a Yoani no final do ano passado (aqui), quando saiu uma reportagem da revista Época sobre ela e seu blog. Sou um dos milhares de leitores do blog dessa cubana desde 2008.
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O que é interessante no livro é poder entrar dentro da intimidade da vida cubana. Dá realmente pena ver toda aquela população vivendo enclausurada sob censura ferrada, e numa economia sob total controle (ou seria descontrole?) do Estado.
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A blogueira sempre comenta como as pessoas precisam se corromper para pequenas ilegalidades para poderem sobreviver (um exemplo aqui). O Estado faz vista grossa a estas ilegalidades (exemplo: o taxista que faz corridas “por fora”), e com o isso a sociedade vai tocando seu dia-a-dia em um clima de completo marasmo econômico e cultural. É mais facil (e seguro) se corromper “um pouquinho” do que tentar fazer alguma coisa, como criticar o Estado, escrever um blog não-oficial, etc.
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Eu fico imaginado como é viver no mundo atual, ter acesso instantaneo às noticias que correm o mundo via internet. Em Cuba, grande parte da internet é censurada – está quase cega para o mundo. E mesmo que não tivesse censura, a esmagadora maioria da população não tem dinheiro para comprar um computador ou mesmo para pagar o acesso à internet.
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Que tédio deve ser morar nessa ilha! E tem muita gente no Brasil (em especial na USP e na UnB ) que idolatra Cuba!


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Quando estive ano passado em Nairobi, Quênia, percebi que a cidade – onde a grande maioria da população é muito pobre e semi-analfabeta – tem centenas de Lan-Houses, todas com ótimos preços. Ou seja, todos estão potencialmente conectados com o mundo. E isso contrasta brutalmente com a Havana descrita pela Yoani. Uma cidade onde as pessoas só podem saber da notícias que são permitidas pelos buRRocratas estatais. É um mundo que não parece real – mas o pior é que é.
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Uma vez li um post da Yoani (no blog dela) falando sobre o analfabetismo em Cuba. Ela dizia, que sim, era verdade que 99% dos adultos sabem “ler-de-verdade” (no Brasil apenas 25% dos adultos sabem ‘ler-de-verdade’). Mas do que adianta isso? Para ler o quê? Não há nada de interessante para se ler, mesmo !
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Eu conheço apenas uma cubana, que vive em Cuba – ums pesquisadora (publicou um artigo no volume CBP Latin America que eu editei entre 2006 e 2008). Trocamos emails sobre coisas de biologia. Mas ela nunca responde a qualquer pergunta minha sobre o dia-a-dia em Cuba. Deve ter medo de ter seu email censurado. Ou é uma guardiã dos “segredos”da ilha – ou seja, uma beneficiária do sistema (acredito mais na opção B).
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Enfim, depois de tanto divagar, aproveito para recomendar o livro da Yoani. Tem um gostinho mais especial que o blog (apesar que a qualidade visual do blog é MUITO melhor, sem falar nas centenas de comentários em cada post) tendo em vista que há uma seleção dos melhores posts.
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P.s: A cada página do livro da Yoani fico a me lembrar da versão da verdade que é colocada quase todo dia no Portal da UnB. Já imaginaram um Brasil onde 100% da população só tivesse acesso a uma internet ao estilo do Portal da UnB? Deus me livre!

(Publicado em Ciência Brasil)