Uma punição medieval que não tem mais lugar no mundo moderno
A edição de 9 de julho do jornal britânico “The Times” destaca o sucesso da pressão internacional que evitou a execução de uma mulher por apedrejamento no Irã. Existe, porém, o receio de que ela venha a ser executada por outros meios. Confira abaixo a tradução da matéria: Irã recua diante da crescente indignação internacional e anunciou ontem que uma mulher condenada por adultério seria poupada de execução por apedrejamento. […] Leia mais
Publicado em 9 de julho de 2010 às, 16h17.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 11h38.
A edição de 9 de julho do jornal britânico “The Times” destaca o sucesso da pressão internacional que evitou a execução de uma mulher por apedrejamento no Irã. Existe, porém, o receio de que ela venha a ser executada por outros meios. Confira abaixo a tradução da matéria:
Irã recua diante da crescente indignação internacional e anunciou ontem que uma mulher condenada por adultério seria poupada de execução por apedrejamento.
A enbaixada da república islâmica em Londres divulgou um comunicado afirmando que “segundo informações das autoridades judiciais competentes no Irã [Sakineh Mohammadi Ashtiani] não será executada por apedrejamento”.
No entanto, o comunicado não diz se a Sra. Ashtiani, 43 anos, que já recebeu 99 chibatadas por seu suposto crime, seria poupada ou, em vez disso, executada por enforcamento. A embaixada não retornou as ligações.
Mohammed Mostafaei, advogado da Sra. Ashtiani, disse ao Times: “Este é um avanço positivo, mas nada está claro ainda. Houve casos de apedrejamentos no Irã serem substituídos por enforcamentos. Temos que esperar e ver o que acontece.”
Ahmad Fatemi, da Comissão Internacional contra Apedrejamento e Execução, que tem buscado a sua libertação, disse: “É um recuo tático.. Eles não esperavam esse tipo de pressão, então agora eles querem ganhar tempo.”
William Hague, Ministro das Relações Exteriores, descreveu o apedrejamento como uma “punição medieval que não tem lugar no mundo moderno”, acrescentando: “Se o castigo for efetuado, irá enojar e assustar o mundo inteiro, que estará olhando.”
Mais de 80 britânicos e personalidades estrangeiras assinaram uma carta aberta, publicada no The Times de hoje, expressando “espanto e horror” no caso da Sra. Ashtiani e instando o Governo iraniano a rever sua condenação injusta.
Os signatários incluem Condoleezza Rice, ex-Secretária de Estado dos EUA, três ex-secretários estrangeiros, o Presidente do Parlamento Europeu, os principais ativistas de direitos humanos, atores como Robert De Niro, Robert Redford e Colin Firth, os autores A.S. Byatt e Weldon Fay, o filósofo francês Bernard-Henri Lévy e o explorador Sir Ranulph Fiennes.
O chanceler turco Ahmet Davutoglu prometeu assumir o caso da Sra. Ashriani, dizendo ao The Times: “Nós estamos tentando trabalhar e consultar sobre estas questões com o nosso vizinho Irã”. A Turquia é um dos poucos países com alguma influência sobre o Irã.
O departamento de Estado dos EUA disse que estava profundamente preocupado com relatos da proposta execução por apedrejamento, que chamou de “uma forma de morte por tortura legalizada”. Os governos do Canadá e da Noruega têm chamado seus embaixadores iranianos para protestar.
“A reação global a essa punição bárbara diz tudo”, disse David Miliband, ex-ministro das Relações Esteriores. “As pessoas não vão tolerar atos grosseiramente desumanos de crueldade e barbárie, e o mundo está unido para chamar o Governo iraniano a pôr um fim nisso.”
Ashtiani, mãe de dois filhos que não podia se divorciar de seu marido abusivo, foi presa em Tabriz, em 2005, condenada por ter uma relação “ilícita” em 2006, e chicoteada. Seu caso foi reaberto para averiguar se ela assassinou o marido. Em vez disso, ela foi considerada culpada de adultério e condenada à morte por três dos cinco juízes. O Supremo Tribunal iraniano confirmou a sentença e o deputado Mostafaei avisou que ela poderá enfrentar a execução a qualquer momento
Ele disse: “Sou grato ao The Times por despertar a sensibilização em torno desta atrocidade. Estamos todos muito felizes em saber que temos amigos na Grã-Bretanha dispostos a lutar por essa mulher e pelos direitos humanos no Irã. Rezemos agora para que a vida de uma mulher possa ser salva. ”
O comunicado da embaixada iraniana afirmou que o apedrejamento raramente foi praticado no Irã e não consta no novo código penal islâmico a ser considerado no parlamento. Segundo a Anistia Internacional, cinco pessoas foram apedrejadas até à morte entre 2006 e 2008. Um porta-voz da Anistia disse: “Se ela é simplesmente executada por qualquer outro meio, em seguida, o abuso será grave da mesma forma. Resta saber se o apedrejamento não consta mais no código penal iraniano, como afirma a embaixada.”.