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Tecnologia se torna grande aliada dos escritórios de advocacia

Especialista analisa os desafios do setor jurídico durante o isolamento social e a importância da transformação digital para os escritórios de advocacia

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Instituto Millenium

Publicado em 11 de setembro de 2020 às, 11h00.

Última atualização em 15 de setembro de 2020 às, 15h09.

As discussões quanto ao uso das novas tecnologias na rotina dos advogados não são exatamente novidades. Apesar de toda a situação que o Brasil passa devido à pandemia da covid-19, o isolamento social acabou se tornando, parcialmente, um grande catalisador do processo de transformação digital dos negócios, antecipou mudanças e trouxe novos desafios para os serviços advocatícios, com impactos jurídicos e econômicos. Em entrevista ao Instituto Millenium, o especialista Sebastião Ventura avaliou as tendências. Ouça o podcast!

Segundo Ventura, o impacto da transformação digital foi sentido não só no meio jurídico, mas também em diversas outras áreas e, ao contrário do que muitos pensavam, de que aconteceria somente em um futuro distante, acabou ocorrendo mais cedo do que se imaginava. “Muitos dos processos hoje no Brasil são obrigatoriamente eletrônicos. Então, já havia uma preparação para isso, mas não pensávamos que viria de uma forma tão rápida”, afirma.

A dinâmica do trabalho home office se tornou uma rotina dentro das organizações e, de acordo com Sebastião Ventura, será essencial para dar continuidade aos negócios. Entretanto, o especialista ressalta a importância do relacionamento face to face, pois o processo de comunicação é muito mais rico, a possibilidade e a acessibilidade ficam melhores com o contato pessoal do que através de webcams e todas outras questões de plataformas de comunicação digital.

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Na opinião dele, ainda existem também algumas dificuldades devido às plataformas não serem muito eficazes. “Cada Justiça estadual possui a sua própria plataforma e isso, muitas vezes, dificulta a adaptação, pois a própria anexação de documentos, o sistema às vezes são mais lentos de um Estado para outro”, explica Ventura, que espera por desenvolvimentos necessários, a fim de que os profissionais tenham um processo eletrônico que funcione de uma maneira cada vez mais eficaz.

Produtividade e relacionamento

A produtividade também é outro ponto que preocupa. Antes, o profissional precisava frequentar um espaço físico para trabalhar, mas, de acordo com o especialista, para aquele que é naturalmente produtivo, esse detalhe não faz muita diferença no desempenho. “A produtividade tem muito da produção pessoal, da responsabilidade que cada um tem com o seu trabalho, sua dedicação e de como consegue se organizar, estabelecer metas e fazer entregas. O profissional que era produtivo quando estávamos no ambiente físico, também será no ambiente digital”, pontua.

Se as ferramentas tecnológicas forem usadas de uma forma positiva, Ventura avalia que haverá, sim, ganhos de produtividade, relacionais e uma maior simetria com os objetivos das organizações. “Estamos vivendo uma mudança que se nós conseguirmos focar e captarmos o que ela tem de melhor, creio que os negócios em si tendem a entrar numa curva ascendente”, argumenta.

Os escritórios e reuniões presenciais não deixarão de existir, porém, a relação dos advogados com os clientes será transformada após a pandemia. Com o advento das plataformas digitais, a relação do profissional com o cliente se torna muito mais dinâmica e imediata. Entretanto, Ventura salienta cautela com a questão da carga horária e a necessidade de deixar as regras claras. “É algo que exige um certo cuidado e uma mudança objetiva das regras de como o trabalho on-line irá ser executado. Daqui a pouco você está exigindo do colaborador demandas fora de horário só porque está havendo um app ali dizendo que ele está on-line. Então, acho que as organizações devem voltar para si e criar regras claras de como que o trabalho on-line e o home office devem ser feitos, justamente para dar um norte claro e objetivo para o colaborador”, orienta.

Impacto nos negócios

Sebastião Ventura revela também que, com o surgimento do coronavírus, muitos negócios acabaram apresentando dificuldades, como a questão de emprego e renegociação bancária. “No todo, o que a gente tem visto é essa necessidade de repensar os contratos, de olharmos a realidade, de compreender as novas tendências das atividades econômicas e conseguirmos criar regras jurídicas que se adaptem a essa nova realidade. Estamos vivendo em um período de grande reconstrução sistêmica, não apenas na ordem jurídica, mas de todo arcabouço dos negócios em si”, afirma.

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Para o especialista, a fase é de profunda transformação e “aqueles que tiverem sensibilidade de captar os sinais da realidade vão ter melhores condições de sair na frente dessa corrida e atender melhor os seus clientes e, com isso, obter melhores lucros”. Ainda segundo ele, não haverá negócio no futuro que não será impactado direto ou indiretamente pela transformação digital. A tecnologia, destaca Ventura, nada mais é do que a inteligência humana em atividade e, como todas as suas formas, possibilitará progressos ou regressos.

Sebastião Ventura salienta que alguns irão reclamar, mas aqueles que estão compreendendo o que está acontecendo e que gradualmente estão iniciando esse processo de transformação digital, sairão ganhando. “A grande inteligência está justamente em reconstruir modelos de negócios que através da conjugação desses ambientes on-line e off-line criem sinergias positivas para o negócio. Estamos diante de uma nova fase da humanidade, uma nova lógica econômica e que haverá vencedores e derrotados. Vamos torcer para que os vencedores tenham cada vez mais uma responsabilidade social maior, que participem de questões de interesse público ajudando também para o progresso da humanidade como o todo”, enfatiza.