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Ser “burguês” ou ser “elitista” pode significar “ser revolucionário”

Do blog da equipe do Senador José Agripino: Uma das acusações mais comuns feitas contra quem não compartilha certas convicções políticas é simplesmente chamá-lo de “burguês”. Mais do que morar no burgo, na cidade, um burguês seria alguém egoísta, insensível aos problemas sociais, interessado apenas no conforto material de sua família – um ser medíocre. Em alguns âmbitos, ser tido como burguês é bem pior do que ser bandido ou […] Leia mais

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Instituto Millenium

Publicado em 29 de setembro de 2009 às, 16h08.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 13h17.

Do blog da equipe do Senador José Agripino:

Uma das acusações mais comuns feitas contra quem não compartilha certas convicções políticas é simplesmente chamá-lo de “burguês”. Mais do que morar no burgo, na cidade, um burguês seria alguém egoísta, insensível aos problemas sociais, interessado apenas no conforto material de sua família – um ser medíocre. Em alguns âmbitos, ser tido como burguês é bem pior do que ser bandido ou corrupto. Outra caracterização demolidora é tachar alguém de elitista. Um homem de elite parece ser alguém presunçoso, descolado de sua própria realidade, superficial, arrogante, e pedante. Imagine alguém da “elite burguesa”, esse não deveria nem ter existido.

Mas basta uma análise um pouco mais atenta da História para perceber que quase todas as ações políticas admiradas por aqueles que estufam o peito e se considera “antiburgueses” foram realizadas ou lideradas por representantes ou filhos da mais tradicional burguesia de seus países. E para quem não gosta da elite talvez seja interessante registrar que as ações de “libertação’ ocorridas nas últimas décadas ao redor do mundo tiveram como linha de frente exatamente aqueles representantes dessa qualificação condenada.

Os exemplos que serão utilizados aqui foram tirados dos livros de um historiador marxista, Eric Hobsbawn: começando pela Ásia, todos pioneiros da libertação do Irã, Egito e Turquia e mesmo seus seguidores mais próximos eram ligados às universidades locais e filhos de famílias com algum conforto material. No Brasil, os líderes dos movimentos de esquerda do século 20, em sua grande maioria, tiveram origem militar ou acadêmica. Já os movimentos dos anos 60 possuíram, como na Ásia, uma relação umbilical com a academia.

Também passaram pela academia o bacharel em direito Fidel Castro e o médico Che Guevara. Apresentada como guerrilha camponesa comunista, o movimento Sendero Luminoso, do Peru, teve origem nos corpos docente e discente da Universidade de Ayaucucho. Filho de um fazendeiro rico, Emiliano Zapata entrou para história ao pedir “terra e liberdade” para os mexicanos. As massas, em todos os casos citados, entraram depois.

O fenômeno PT/Lula foi uma criação conjunta de intelectuais, parte da religião católica e sindicalismo de elite sediado em regiões industriais de São Paulo. Mais um exemplo: o arquiteto do MST, João Pedro Stédile, é um economista. Uma exceção para confirmar a regra talvez seja o caso Evo Moralez, na Bolívia.

Enfim, da burguesia e da elite costumam partir as atitudes revolucionárias que os antiburgueses costumam ter repugnância. Existiriam então, burguesias e elites boas e ruins? “Se for assim, então os ultrajes “burgueses” e elitistas”, no mínimo, precisam ser repensados.