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Quem tem medo do agronegócio?

O Brasil é o 33° de 101 países no ranking do Enabling the Business of Agriculture (EBA), feito pelo Banco Mundial em 2019

Agronegócio (SLC/Divulgação)
Agronegócio (SLC/Divulgação)

Segundo os cálculos do Cepea/Esalq/USP-CNA, o PIB do agronegócio brasileiro representou, no período 1996-2024, em média, 24.6% do PIB brasileiro. Especificamente, em 2024 (dados de janeiro a março), foi 21.5% e talvez este número sofra algum impacto negativo com a tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul. Como se vê, quando se trata do agronegócio, fala-se de parcela significativa do PIB brasileiro. 

O país é o 33o de 101 países no ranking do Enabling the Business of Agriculture (EBA), feito pelo Banco Mundial em 2019. Não é uma posição ruim quando se considera que os 31 primeiros são países desenvolvidos e o 32o é a Argentina. A primeira edição do EBA, aliás, foi em 2017, na qual o país ficou em 34o, o que mostra que não estamos apenas bem na amostra, mas também na América Latina.   

O índice EBA considera oito dimensões: oferta de grãos (supplying seed), registro de fertilizantes (registering fertilizer), acesso à água (securing water), registro de maquinário (registering machine), pecuária sustentável (sustaining livestock), medidas fitossanitárias (protecting plant health), comércio de alimentos (trading food) e acesso a recursos financeiros (accessing finance). Cada uma destas dimensões têm um ou mais subdimensões (17, ao todo). Neste sentido, o Brasil aparece bem avaliado - considerando-se pontuação acima de 90 - em “acesso à água”, “medidas fitossanitárias”, “pecuária sustentável” e “registro de maquinário”. Excelente notícia, não? 

Apesar do sucesso do setor, prevalece, entre aqueles que deveriam transmitir conhecimento às crianças e adolescentes, uma visão distorcida do agronegócio brasileiro, como vimos na última avaliação do Enem reforçada por populistas à esquerda e à direita que divulgam uma visão em que a globalização do setor seria o resultado de um suposto ‘neocolonialismo’. Além do efeito trágico sobre o ensino, os promotores destas teses perdem uma oportunidade incrível de promover uma melhor compreensão de praticamente ¼ da economia brasileira que evoluiu ao longo do tempo como uma combinação de competência empresarial e pesquisas científicas (a vocação agrícola do país foi corretamente reconhecida pelo governo no passado, com a criação da Embrapa, em 1973, que provavelmente foi um ponto de inflexão no crescimento do agronegócio).

Alimentar pessoas é um dos mais antigos exemplos de motivação para a busca do lucro e esta se dá de forma mais eficiente quando o governo provê instituições sólidas e pró-prosperidade. Os diversos exemplos de fracassos das agriculturas coletivizadas implantadas em diversos países mostram-nos o que não se deve fazer. A propósito, a correlação entre o EBA e o Índice de Liberdade Econômica do Fraser Institute, ambos para 2019, é positiva (veja o gráfico a seguir). É importante ressaltar que a correlação não é sinônimo de causalidade, mas é possível teorizar que boas instituições levam a bons resultados nas atividades econômicas, inclusive a do agronegócio. 

Caso o leitor concorde que a prosperidade econômica seja baseada em instituições pró-mercado, o próximo passo é se perguntar - de maneira profunda e crítica - sobre a quem interessaria espalhar inverdades sobre o agronegócio. Um bom começo é pensar sobre dois grupos: (a) os concorrentes (aqueles que, menos eficientes, buscam sabotar os demais) e; (b) os que não acreditam nos dados, apenas em sua fé (que são os ideólogos anti-mercado).  

Boas instituições, contudo, não caem do céu: devem ser construídas e protegidas. O agronegócio, lembro, tem representado quase ¼ do PIB do país. Imagine a perda de bem-estar para o país caso o setor deixe de valorizar a eficiência e a inovação. Seria um retrocesso e isto pode ser evitado se tratarmos o agronegócio com menos atenção aos preconceitos ideológicos e mais ao que nos dizem os dados.