Quem tem medo do agronegócio?
O Brasil é o 33° de 101 países no ranking do Enabling the Business of Agriculture (EBA), feito pelo Banco Mundial em 2019
Publicado em 31 de julho de 2024 às, 14h26.
Segundo os cálculos do Cepea/Esalq/USP-CNA, o PIB do agronegócio brasileiro representou, no período 1996-2024, em média, 24.6% do PIB brasileiro. Especificamente, em 2024 (dados de janeiro a março), foi 21.5% e talvez este número sofra algum impacto negativo com a tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul. Como se vê, quando se trata do agronegócio, fala-se de parcela significativa do PIB brasileiro.
O país é o 33o de 101 países no ranking do Enabling the Business of Agriculture (EBA), feito pelo Banco Mundial em 2019. Não é uma posição ruim quando se considera que os 31 primeiros são países desenvolvidos e o 32o é a Argentina. A primeira edição do EBA, aliás, foi em 2017, na qual o país ficou em 34o, o que mostra que não estamos apenas bem na amostra, mas também na América Latina.
O índice EBA considera oito dimensões: oferta de grãos (supplying seed), registro de fertilizantes (registering fertilizer), acesso à água (securing water), registro de maquinário (registering machine), pecuária sustentável (sustaining livestock), medidas fitossanitárias (protecting plant health), comércio de alimentos (trading food) e acesso a recursos financeiros (accessing finance). Cada uma destas dimensões têm um ou mais subdimensões (17, ao todo). Neste sentido, o Brasil aparece bem avaliado - considerando-se pontuação acima de 90 - em “acesso à água”, “medidas fitossanitárias”, “pecuária sustentável” e “registro de maquinário”. Excelente notícia, não?
Apesar do sucesso do setor, prevalece, entre aqueles que deveriam transmitir conhecimento às crianças e adolescentes, uma visão distorcida do agronegócio brasileiro, como vimos na última avaliação do Enem reforçada por populistas à esquerda e à direita que divulgam uma visão em que a globalização do setor seria o resultado de um suposto ‘neocolonialismo’. Além do efeito trágico sobre o ensino, os promotores destas teses perdem uma oportunidade incrível de promover uma melhor compreensão de praticamente ¼ da economia brasileira que evoluiu ao longo do tempo como uma combinação de competência empresarial e pesquisas científicas (a vocação agrícola do país foi corretamente reconhecida pelo governo no passado, com a criação da Embrapa, em 1973, que provavelmente foi um ponto de inflexão no crescimento do agronegócio).
Alimentar pessoas é um dos mais antigos exemplos de motivação para a busca do lucro e esta se dá de forma mais eficiente quando o governo provê instituições sólidas e pró-prosperidade. Os diversos exemplos de fracassos das agriculturas coletivizadas implantadas em diversos países mostram-nos o que não se deve fazer. A propósito, a correlação entre o EBA e o Índice de Liberdade Econômica do Fraser Institute, ambos para 2019, é positiva (veja o gráfico a seguir). É importante ressaltar que a correlação não é sinônimo de causalidade, mas é possível teorizar que boas instituições levam a bons resultados nas atividades econômicas, inclusive a do agronegócio.
Caso o leitor concorde que a prosperidade econômica seja baseada em instituições pró-mercado, o próximo passo é se perguntar - de maneira profunda e crítica - sobre a quem interessaria espalhar inverdades sobre o agronegócio. Um bom começo é pensar sobre dois grupos: (a) os concorrentes (aqueles que, menos eficientes, buscam sabotar os demais) e; (b) os que não acreditam nos dados, apenas em sua fé (que são os ideólogos anti-mercado).
Boas instituições, contudo, não caem do céu: devem ser construídas e protegidas. O agronegócio, lembro, tem representado quase ¼ do PIB do país. Imagine a perda de bem-estar para o país caso o setor deixe de valorizar a eficiência e a inovação. Seria um retrocesso e isto pode ser evitado se tratarmos o agronegócio com menos atenção aos preconceitos ideológicos e mais ao que nos dizem os dados.