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Pensando longe&

Samuel Pinheiro Guimarães, ministro de Assuntos Estratégicos, anunciou seu ambicioso plano “Brasil 2022″ a oito meses do fim do governo Lula. Nele, o ministro apresenta diretrizes para os próximos três futuros presidentes do país. Confira o texto de Josias de Souza, publicado em seu blog: “O ministro Samuel Pinheiro (Assuntos Estratégicos) veio à boca do palco para anunciar uma iniciativa ambiciosa. Chama-se Plano Brasil 2022. A oito meses de acabar, […] Leia mais

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Instituto Millenium

Publicado em 28 de abril de 2010 às, 16h33.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 12h00.

Samuel Pinheiro Guimarães, ministro de Assuntos Estratégicos, anunciou seu ambicioso plano “Brasil 2022″ a oito meses do fim do governo Lula. Nele, o ministro apresenta diretrizes para os próximos três futuros presidentes do país. Confira o texto de Josias de Souza, publicado em seu blog:

“O ministro Samuel Pinheiro (Assuntos Estratégicos) veio à boca do palco para anunciar uma iniciativa ambiciosa. Chama-se Plano Brasil 2022.

A oito meses de acabar, o governo faz planos para os próximos 12 anos. Projeta os mandatos do sucessor e do sucessor do sucessor de Lula.

O plano fixa metas a serem cumpridas até 2022, ano em que o Brasil vai celebrar o bicentenário de sua Independência.

“Nosso objetivo é o de sermos um país desenvolvido”, disse, em timbre otimista, Samuel Pinheiro. “Isso não será alcançado em 2022”, admitiu.

Estimou que, naquele ano, a renda per capita do brasileiro será de US$ 12 mil. Mais do que os US$ 7 mil atuais.

Muito abaixo, porém, da renda per capita dos EUA, hoje ao redor dos US$ 46 mil.

Para que o futuro lhe sorria, prevê o plano do governo, o país terá de registrar taxas de crescimento econômico no intervalo de 6,5% a 7%.

No papel, o Brasil de 2022 será um país sem analfabetismo, livre da miséria absoluta e com morigerada disparidade social, de gênero e racial.

Prevê-se que algo como 60 milhões de brasileiros hoje pendurados no Bolsa Família estarão economicamente emancipados.

O Plano Brasil 2022 não está pronto. O ministro Samuel Pinheiro disse que vai entregá-lo a Lula em 30 de junho, a seis meses da despedida do presidente.

Samuel Pinheiro discorreu sobre se fosse uma novidade. Não é bem assim. A coisa começou a ser esboçada em maio de 2005.

Tinha outro nome naquela época: “Projeto Brasil 3 Tempos”. Um plano de metas para vigorar até 2022, exatamente nomo no “novo” plano.

Conduzia as pranchetas, então, o companheiro-estrategista Luiz Gushiken. Ele enviou um questionário a 50 mil brasileiros.

Coisa igualmente ambiciosa. Abordava 50 temas –da política cultural à nanotecnologia. O texto anotava:

“Com a sua participação, esses temas serão discutidos, formando o alicerce de um processo de gestão estratégica, que permitirá a construção de um futuro melhor”.

Enquanto Gushiken, instalado no terceiro andar do Planalto, construía 2022, José Dirceu, no pavimento superior, conduzia operações que destruíam 2005.

Sobreveio o escândalo do mensalão. Lula foi ao noticiário em posição incômoda.

Chegara a Brasília, dois anos antes, com cara de caçador enviado à casa da Vovozinha. Em vez de salvar a Chapeuzinho, casara-se com o Lobo Mau.

O tempo passou. De chefão da Casa Civil, Dirceu converteu-se em “chefe da quadrilha” dos 40, denunciada pelo Ministério Público ao STF.

O próprio Gushiken, projetista do futuro, deixaria o governo na sequência. Hoje, faz companhia aos personagens acomodados pelo STF no banco de réus do mensalão.

A platéia viu-se compelida a lembrar o escritor austríaco Stefan Zweig.

Autor de “Brasil, País do Futuro”, Zweig suicidou-se em fevereiro de 42, em Petrópolis (RJ). Não suportou o presente.

O “Projeto Brasil 3 Tempos” de Gushiken, elaborado ao custo de R$ 900 mil, foi como que sugado pela lama.

Antes de enviar o questionário a 50 mil brasileiros, Gushiken realizara uma pesquisa de opinião.

A sondagem fora coordenada pelo Instituto de Estudos Avançados da USP. Ouviram-se 104 pessoas.

Gente qualificada, com nível superior (100%), doutorado (41%), pós-doutorado (5%) e mestrado (12%).

Entre os pesquisados, 80% haviam considerado que, no futuro, o brasileiro exibiria um sentimento de “crescente intolerância à corrupção na vida pública”.

Natural que, rendido ao cangaço parlamentar do mensalão, o governo não tivesse fôlego para levar adiante o “Projeto Brasil 3 Tempos” de Gushiken.

Agora, do alto de sua megapopularidade, Lula sente-se à vontade para ressuscitar o tema que saíra de fininho da pauta.

A corrupção remanesce. A “intolerância” dos brasileiros com o malfeito não há de ter arrefecido. Mas o governo considera-se apto a projetar o Brasil de 2022.”