Colunistas

"Parceria entre TSE e redes sociais pode ser benéfica para a democracia"

O advogado Sebastião Ventura explica que novos arranjos institucionais serão necessários para atender demandas contemporâneas

IM

Instituto Millenium

Publicado em 30 de setembro de 2020 às 20h00.

Após as eleições presidenciais norte-americanas de 2016, a utilização de fake news como estratégia eleitoral se popularizou, se tornando uma das principais inimigas da democracia e da informação. Todos os anos, diversas medidas são tomadas para tentar evitar que esse fenômeno seja massificado. Para as eleições de 2020, o Tribunal Superior Eleitoral e as plataformas de redes sociais estudam uma parceria para bloquear as fake news nas mídias digitais.

Para explicar essa medida, o Instituto Millenium entrevistou o advogado e Cofundador do Instituto Dynamic Mindset, Sebastião Ventura. Ouça o podcast!

É bom lembrar: calúnia e desinformação não são nenhuma novidade. Mesmo antes da democratização das redes sociais, era possível observarmos manipulações nas informações apresentadas. O que mudou foi a proporção que essas manipulações e versões da realidade ganharam com as mídias digitais, e suas infinitas possibilidades de segmentação, feitas de acordo com as opções ideológicas e de vida dos usuários das redes.

“O desafio que temos aqui é conseguir garantir a lisura democrática, porque o exercer do voto pressupõe uma exata compreensão do fenômeno social, e a partir do momento que as fakes news dificultam a compreensão dos fatos e da verdade, e sociedade fica brigando freneticamente com o entrechoque de versões. Isso pode prejudicar a qualidade da democracia e, consequentemente, a melhor escolha do voto”, explicou o advogado.

Para o especialista, a medida adotada pelo TSE é positiva e não representa censura ou repressão. Ao contrário: chama o setor privado à responsabilidade de auxiliar na democracia plena, bloqueando as contas inautênticas e os robôs que trabalham com a divulgação massiva de informações tendenciosas.

Leia também
Não se combate "fake news" com autoritarismo
Solução para as "fake news" passa pela educação

“Em vez de repressão judicial, a iniciativa procura trabalhar com a prevenção informativa, chamando a responsabilidade das empresas de redes sociais para esse compromisso com a democracia. Esses titãs tecnológicos, jamais foram vistos em tempo algum na história, então esse desenvolvimento força uma postura consciente e propositiva do empreendedorismo do setor privado, que colabore com as pautas democráticas e auxilie as forças eleitorais e do judiciário para que os resultados das urnas sejam realmente verídicos”, destacou.

+ Associe-se e se torne membro do Clube Millenium para receber conteúdos exclusivos

Ventura explica que a liberdade de expressão e ampla manifestação do pensamento estão assegurados na lei de combate às fake news, em tramitação no Congresso, na Constituição e também na possível parceria entre o Tribunal e as redes sociais.

“Temos que entender que as redes sociais podem ser mal utilizadas, com mecanismos tecnológicos que criam perfis falsos, contas anônimas. A partir disso, se criam verdadeiras milícias digitais para atacar a honra de determinadas pessoas. Este é um problema da realidade e nós não podemos fazer de conta que não existe. Ninguém no Estado de Direito pode fazer o que quer: há limites. E quando a liberdade é exercida de uma maneira danosa à democracia, surge a necessidade de composições políticas, e, quando a política não resolve, alguma demanda judicial deve ser tentada para tentar equalizar a balança da Justiça”, explicou.

+ Foi dada a largada para as eleições municipais: veja o que muda

Esses novos arranjos institucionais e posturas terão que se tornar cada vez mais comuns para que sejamos capazes de atender as demandas contemporâneas e insatisfações que surgem com os anseios da população cada vez mais imediatos e as discussões políticas demoradas, de acordo com o especialista.

“Eu vejo de uma forma muito positiva essa aproximação da justiça com as plataformas de redes sociais, mas é claro que sempre que houver uma ação estatal desmedida ou abusiva sobre as redes sociais, caberá a essas empresas reagir e procurar preservar seu estado de independência”, destacou.

Educação no combate às fake news

A consciência democrática, construída por meio da educação e informação de um povo, é apontada pelo advogado como o melhor caminho para combatermos às fake news. Embora entenda é que é um processo demorado, Ventura salienta que é primordial investir e apostar nas novas tecnologias como grandes aliadas.

“Com a pandemia vimos que a tecnologia pode auxiliar largamente na educação do nosso povo, através de um método híbrido, conjugando métodos de ensino presenciais e online. Não falta conteúdo de qualidade na internet, o que temos que fazer é começar a compilar esses conteúdos e criar canais de acesso da boa informação perante a coletividade”, finalizou.