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Para especialistas, papel da internet frustou as expectativas nas eleições

Especialistas em redes sociais e meio digital analisaram, a pedido do jornal “O Globo”, a utilização da internet nas campanhas de 2010 no Brasil.  A matéria abaixo revela que  a atuação ficou aquém do que se esperava em termos de debate e mobilização de eleitores, principalmente se comparada ao “fenômeno Obama” nos EUA. Durante campanha, web fracassou na mobilização e na promoção de debates Miguel Caballero RIO – Na “estreia” […] Leia mais

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Da Redação

Publicado em 7 de outubro de 2010 às 11h54.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 11h06.

Especialistas em redes sociais e meio digital analisaram, a pedido do jornal “O Globo”, a utilização da internet nas campanhas de 2010 no Brasil.  A matéria abaixo revela que  a atuação ficou aquém do que se esperava em termos de debate e mobilização de eleitores, principalmente se comparada ao “fenômeno Obama” nos EUA.

Durante campanha, web fracassou na mobilização e na promoção de debates

Miguel Caballero

RIO – Na “estreia” da internet como grande espaço do embate político brasileiro, a influência da rede no processo eleitoral ficou aquém da expectativa gerada principalmente após o fenômeno digital da eleição de Barack Obama nos EUA, em termos de arrecadação e debate político na rede. Esta é a avaliação de especialistas e de responsáveis pelas campanhas digitais dos principais postulantes à Presidência.

Passado o primeiro turno, o fortalecimento, no meio digital, da “onda verde” pró-Marina Silva (PV) nos dias que antecederam o pleito, e um desgaste de Dilma Rousseff (PT), com correntes de emails sobre sua posição em relação ao aborto, foram os fatos mais relevantes, com efeito eleitoral, produzidos na internet na última semana.

Durante a campanha, em vez de disputa ideológica entre os simpatizantes da petista e de José Serra (PSDB), prevaleceu a troca surda de acusações, como a “marcha para o autoritarismo”, no caso de vitória de Dilma, ou “a volta das privatizações neoliberais”, em eventual sucesso tucano, numa guerrilha virutal que deve se intensificar.

” A internet não teve o grau de mobilização que se imaginava. Muito por culpa dos partidos “


– A internet não teve o grau de mobilização que se imaginava. Muito por culpa dos partidos. O uso foi muito verticalizado, do comando das campanhas em direção aos eleitores, tomando a rede como apenas mais um veículo de comunicação. Desprezou-se a interatividade. Os eleitores-internautas não puderam contribuir, para valer, com conteúdo para as campanhas – avalia o Juliano Borges, professor de Comunicação da Uerj, com doutorado em ciência política pelo Iuperj.

Em 2009, mudanças na legislação desamarraram a rede das restrições impostas a veículos como o rádio e a TV. Na primeira eleição com internet livre, o peso das campanhas digitais no voto pode ter sido superestimado, mas surgiram mudanças, acredita o coordenador da campanha de Dilma nas redes sociais, Marcelo Branco.

– A internet passou a ser um terceiro polo formador de opinião, além dos próprios partidos e da cobertura dos meios de comunicação. A maioria dos eleitores que participaram do debate na rede, nesta eleição, já tinha voto definido. Marina foi forte na internet na última semana, mas ainda é necessário ver se isso é causa ou consequência do seu crescimento real.

De opinião contrária, Soninha Francine, que coordena a campanha de Serra na web, diz que a campanha na rede superou sua expectativa:

– Todo mundo era superexultante, muito em função do “fetiche Obama”, eu era mais desconfiada… Mas agora tenho certeza de que ela exerce muita influência, traz informações para indecisos e argumentos para os decididos, que ampliam campanha fora da rede.

Responsável pela campanha de Marina na internet, o jornalista Caio Túlio Costa valoriza a “persona digital” cultivada pela candidata.

” Havia uma expectativa grande sem que se tivesse noção precisa do tamanho da internet “


– Havia uma expectativa grande sem que se tivesse noção precisa do tamanho da internet. A Marina tinha uma persona na rede também vinculada às causas de quem usa mais a internet. Ela não teria chegado a tantos votos sem a rede – diz Caio Tulio, lembrando que no Brasil não se conseguiu reproduzir o esquema de doação financeira que impulsionou Obama. – Nosso site teve 58 dias de arrecadação apenas, e conseguimos R$ 160 mil. É pouco.

O jornalista crê ainda que o fato de Marina ter ficado alheia a campanhas negativas, difamatórias ou não, que envolviam acusações contra Dilma e Serra, beneficiou a verde. Na reta final do primeiro turno, correntes de email relacionando Dilma à defesa do aborto teriam tirados muitos votos da petista, levando a disputa ao segundo turno.

Petista admite que campanha demorou a reagir

Marcelo Branco diz que o monitoramento da internet por sua equipe diagnosticou o fato ainda na segunda semana de setembro, e faz uma crítica à direção da campanha. Ele sugere a criação de uma “central antiboatos” no segundo turno.

– Concordo que se demorou para agir. A parte do site oficial, do Twitter da Dilma e de envio de emails é responsabilidade da assessoria de comunicação da campanha. Nós alertamos, percebemos boatos e emails difamatórios perto de 12 de setembro. Já sugeri ourta vez, agora depois da eleição, que se faça uma central antiboato para responder a isso, principalmente disparando emails e torpedos por celular. Acho que tem de haver uma central mais ágil.

Soninha desvincula qualquer boato da campanha tucana.

– Uma coisa é a corrente anônima, incontrolável. Outra coisa é a baixaria institucional. “Serra vai acabar com o Bolsa Família”, “não gosta dos nordestinos”, tudo isso foi dito por dirigentes e militantes em canais oficiais do PT. Crítica é uma coisa, mentir é outra.

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Especialistas em redes sociais e meio digital analisaram, a pedido do jornal “O Globo”, a utilização da internet nas campanhas de 2010 no Brasil.  A matéria abaixo revela que  a atuação ficou aquém do que se esperava em termos de debate e mobilização de eleitores, principalmente se comparada ao “fenômeno Obama” nos EUA.

Durante campanha, web fracassou na mobilização e na promoção de debates

Miguel Caballero

RIO – Na “estreia” da internet como grande espaço do embate político brasileiro, a influência da rede no processo eleitoral ficou aquém da expectativa gerada principalmente após o fenômeno digital da eleição de Barack Obama nos EUA, em termos de arrecadação e debate político na rede. Esta é a avaliação de especialistas e de responsáveis pelas campanhas digitais dos principais postulantes à Presidência.

Passado o primeiro turno, o fortalecimento, no meio digital, da “onda verde” pró-Marina Silva (PV) nos dias que antecederam o pleito, e um desgaste de Dilma Rousseff (PT), com correntes de emails sobre sua posição em relação ao aborto, foram os fatos mais relevantes, com efeito eleitoral, produzidos na internet na última semana.

Durante a campanha, em vez de disputa ideológica entre os simpatizantes da petista e de José Serra (PSDB), prevaleceu a troca surda de acusações, como a “marcha para o autoritarismo”, no caso de vitória de Dilma, ou “a volta das privatizações neoliberais”, em eventual sucesso tucano, numa guerrilha virutal que deve se intensificar.

” A internet não teve o grau de mobilização que se imaginava. Muito por culpa dos partidos “


– A internet não teve o grau de mobilização que se imaginava. Muito por culpa dos partidos. O uso foi muito verticalizado, do comando das campanhas em direção aos eleitores, tomando a rede como apenas mais um veículo de comunicação. Desprezou-se a interatividade. Os eleitores-internautas não puderam contribuir, para valer, com conteúdo para as campanhas – avalia o Juliano Borges, professor de Comunicação da Uerj, com doutorado em ciência política pelo Iuperj.

Em 2009, mudanças na legislação desamarraram a rede das restrições impostas a veículos como o rádio e a TV. Na primeira eleição com internet livre, o peso das campanhas digitais no voto pode ter sido superestimado, mas surgiram mudanças, acredita o coordenador da campanha de Dilma nas redes sociais, Marcelo Branco.

– A internet passou a ser um terceiro polo formador de opinião, além dos próprios partidos e da cobertura dos meios de comunicação. A maioria dos eleitores que participaram do debate na rede, nesta eleição, já tinha voto definido. Marina foi forte na internet na última semana, mas ainda é necessário ver se isso é causa ou consequência do seu crescimento real.

De opinião contrária, Soninha Francine, que coordena a campanha de Serra na web, diz que a campanha na rede superou sua expectativa:

– Todo mundo era superexultante, muito em função do “fetiche Obama”, eu era mais desconfiada… Mas agora tenho certeza de que ela exerce muita influência, traz informações para indecisos e argumentos para os decididos, que ampliam campanha fora da rede.

Responsável pela campanha de Marina na internet, o jornalista Caio Túlio Costa valoriza a “persona digital” cultivada pela candidata.

” Havia uma expectativa grande sem que se tivesse noção precisa do tamanho da internet “


– Havia uma expectativa grande sem que se tivesse noção precisa do tamanho da internet. A Marina tinha uma persona na rede também vinculada às causas de quem usa mais a internet. Ela não teria chegado a tantos votos sem a rede – diz Caio Tulio, lembrando que no Brasil não se conseguiu reproduzir o esquema de doação financeira que impulsionou Obama. – Nosso site teve 58 dias de arrecadação apenas, e conseguimos R$ 160 mil. É pouco.

O jornalista crê ainda que o fato de Marina ter ficado alheia a campanhas negativas, difamatórias ou não, que envolviam acusações contra Dilma e Serra, beneficiou a verde. Na reta final do primeiro turno, correntes de email relacionando Dilma à defesa do aborto teriam tirados muitos votos da petista, levando a disputa ao segundo turno.

Petista admite que campanha demorou a reagir

Marcelo Branco diz que o monitoramento da internet por sua equipe diagnosticou o fato ainda na segunda semana de setembro, e faz uma crítica à direção da campanha. Ele sugere a criação de uma “central antiboatos” no segundo turno.

– Concordo que se demorou para agir. A parte do site oficial, do Twitter da Dilma e de envio de emails é responsabilidade da assessoria de comunicação da campanha. Nós alertamos, percebemos boatos e emails difamatórios perto de 12 de setembro. Já sugeri ourta vez, agora depois da eleição, que se faça uma central antiboato para responder a isso, principalmente disparando emails e torpedos por celular. Acho que tem de haver uma central mais ágil.

Soninha desvincula qualquer boato da campanha tucana.

– Uma coisa é a corrente anônima, incontrolável. Outra coisa é a baixaria institucional. “Serra vai acabar com o Bolsa Família”, “não gosta dos nordestinos”, tudo isso foi dito por dirigentes e militantes em canais oficiais do PT. Crítica é uma coisa, mentir é outra.

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