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O que o Brasil pode aprender com Winston Churchill?

"Primeiro-ministro britânico salvou a civilização ocidental de uma bárbara dominação totalitária", destaca o diplomata Paulo Roberto de Almeida

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Instituto Millenium

Publicado em 29 de novembro de 2018 às, 10h33.

Considerado o maior britânico de todos os tempos e um dos grandes estadistas da história mundial, Winston Churchill teve uma trajetória de vida esplendorosa. À frente do Reino Unido em um de seus momentos mais dramáticos, durante a Segunda Guerra Mundial, foi um ferrenho defensor da democracia, do mercado e da liberdade, além de ter sido um grande escritor – talento que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Literatura.

Neste podcast do Instituto Millenium, o diplomata e Doutor em ciências sociais Paulo Roberto de Almeida conta a vida de Churchill e aponta para lições deixadas pelo estadista que podem contribuir para o desenvolvimento de lideranças de todo o mundo. Ouça o podcast abaixo!

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Winston Churchill nasceu em 1874 e foi primeiro-ministro britânico por duas vezes, de 1940 a 1945, quando eclodia a Segunda Guerra Mundial, e de 1951 a 1955. Herdeiro de uma família de aristocratas, políticos e líderes militares, foi um grande defensor do Império Britânico, “um dos maiores empreendimentos coloniais – direto e indireto – da história mundial”, considera Paulo Roberto.

Após aventuras militares, Churchill tornou-se precocemente ministro das colônias e posteriormente foi nomeado Lorde do Almirantado, onde comandou a poderosa Marinha britânica. Naquela ocasião, foi decisivo na conversão dos navios da frota de caldeiras a vapor, alimentadas a carvão, para os motores a diesel, mantendo a preeminência em poder de fogo e deslocamento frente ao crescente e agressivo Império Alemão. Apesar disso, sua experiência na Primeira Guerra Mundial não teve muito êxito. Foi culpado pelo desastre de Galipoli, quando milhares de soldados morreram na tentativa frustrada de neutralizar o Império Otomano, aliado dos impérios centrais responsáveis pelo conflito. Churchill teve de abandonar o cargo e passou a ser comandante de batalhões nos campos do norte da França e da Bélgica, onde recuperou parcialmente a sua credibilidade.

“[Churchill] Teve uma percepção muito nítida, por exemplo, da ameaça que surgiria contra o Império Britânico e toda a civilização ocidental – constituída pelas democracias de mercado – representada pelo novo regime bolchevique que emergiu na Rússia em meio a uma terrível guerra civil ao final da Grande Guerra. Contra ele, apoiou várias intervenções militares opostas ao nascente poder bolchevique, já que via no comunismo o grande contendor do ocidente no plano das ideias e dos valores fundamentais que devem guiar o sistema econômico capitalista e o regime político liberal”, destaca Paulo. Apesar disso, anos mais tarde, o britânico não hesitou em se aliar aos soviéticos quando viu emergir uma ameaça ainda mais terrível, o nazi-fascimo, que passava a contestar os fundamentos de uma sociedade aberta e das democracias de mercado.

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Sua carreira política declinou nos anos 1930, até que o início da guerra deslanchada por Hitler viesse a retirá-lo de uma semi-marginalidade, lançando-o ao mais importante desafio de sua carreira. Paulo lembra que no dia 10 de maio de 1940, Churchill assumiu o cargo de primeiro-ministro banindo a ideia de negociação e de submissão e proclamando a vontade do povo britânico em prol da resistência a qualquer custo contra o fascimo:

“Pode-se dizer que ele não salvou apenas as ilhas britânicas e todo o Império, mas praticamente toda a civilização ocidental de uma bárbara dominação totalitária, que poderia condenar as democracias de mercado a um quase certo desaparecimento no continente europeu e, por extensão, em boa parte dos demais continentes e regiões colocados sob a influência ou dependência dos grandes impérios ocidentais. Churchill, pela sua obstinação, sua ousadia, sua coragem, determinação, pertinácia e grande visão estratégica sobre a condução da guerra, salvou o ocidente e o mundo de uma descida humilhante aos horrores de um regime criminoso, dirigido por um psicopata”.

O primeiro-ministro sabia que não teria forças para combater a máquina de guerra nazista sozinho e trabalhou por alianças importantes, como a parceria com os Estados Unidos. Com Roosevelt, então presidente norte-americano, negociou uma “Carta do Atlântico”, base da constituição das Nações Unidas, com fundamentos nas quatro liberdades: de expressão, religiosa, da penúria e do medo. O documento também trazia os princípios e objetivos que deveriam guiar a ação das nações aliadas contra as ofensivas dos totalitarismos.

O diplomata acrescenta que, uma vez vencido o projeto totalitário da direita, Churchill liderou uma nova resistência contra o totalitarismo de esquerda, representado pela União Soviética no imediato pós-Segunda Guerra. “Já não mais como primeiro-ministro, suas palavras foram, uma vez mais, impactantes, mobilizando as democracias ocidentais contra uma nova e terrível ameaça”.

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