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Bernardo Bonjean: O que esperar de Brasília a partir de janeiro?

Em artigo exclusivo, CEO da Avante destaca a importância da livre iniciativa para a construção de um país: "Já não somos mais meros espectadores"

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Instituto Millenium

Publicado em 21 de novembro de 2018 às, 15h52.

Última atualização em 21 de novembro de 2018 às, 15h52.

* Por Bernardo Bonjean

Já faz tempo que estamos andando como um bêbado, tombando às vezes para a direita, às vezes para a esquerda. Ou damos um passo para frente e dois para trás. E nesse ritmo já se passaram décadas sem que o País realmente saísse do lugar. Agora, às vésperas de uma mudança de governo, me pego pensando no que esperar daqui em diante. Quando digo “esperar”, não se trata de uma postura passiva e de espectador dos fatos e já vou explicar isso melhor.

Mas antes, queria falar um pouco sobre o capitalismo de uma maneira geral. Na minha visão, ele merece uma nota 4, de 0 a 10. Para mim pessoalmente, o capitalismo foi ótimo, nota 10. Tive acesso a muitas oportunidades, principalmente em termos de educação e trabalho até que, em determinado momento da minha carreira, comecei a sentir falta de trabalhar por um propósito maior e ter um impacto real na vida das pessoas. Foi quando resolvi sair de um grande banco de investimento e fundar a Avante em 2012, mas essa é uma história para outro artigo.

O resultado do capitalismo hoje – e por isso dou nota 4 – é que para a grande maioria das pessoas em todo o mundo, falta o básico. A concentração da renda atualmente chega a ser vergonhosa: 82% de toda a riqueza gerada no mundo fica com a fatia de 1% mais rica, enquanto a metade mais pobre (que soma 3,7 bilhões de pessoas) não fica com nada. Os dados são da ONG britânica Oxfam e foram divulgados no Fórum Econômico Mundial em Davos (Suíça) esse ano.

No Brasil, a situação da desigualdade segue esse padrão mundial.

Por essa e por outras, é que acredito que já está na hora de repensarmos o “Ordem e Progresso” da nossa bandeira, por exemplo. Esse lema cabia lá atrás, mas hoje já não faz mais sentido. Fazendo uma comparação com o videogame, estamos falando de Pac Man. Mas o mundo hoje está jogando Minecraft.

O “Ordem é Progresso” é de um tempo em que as pessoas depositavam no governo todas as suas esperanças e atribuíam toda a responsabilidade a ele. Tudo era estático, como no Pac Man. Mas nos dias de hoje, do Minecraft, todos estão jogando em rede e construindo juntos. Me dei conta disso conversando com o amigo (e muito fera!) Ricardo Guimarães, que tem uma visão incrível de futuro e já está olhando lá na frente.

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A tecnologia da informação tem mudado o mundo do jeito que conhecíamos antes. O que antes era simples, lento, controlável e estável já não é mais. As coisas não acontecem como antes, uma coisa de cada vez. O comportamento das pessoas também mudou muito em relação às empresas, aos governos e às demais instituições. Já não somos mais passivos e meros espectadores. Agora, com a tecnologia mais poderosa e mais barata, todo mundo toma muitas decisões, o tempo todo. Com as pessoas conectadas em rede, o mundo passou a ser cada vez mais complexo, fora de controle, imprevisível, rápido e instável.

As empresas também estão se transformando. Elas já não funcionam mais como relógios, que trabalham com eficiência, mas de maneira 100% previsível. No mundo conectado, elas são mais como um sistema vivo, aberto e que aprende e evolui o tempo todo.

A ideia de que as empresas são como sistemas vivos remete ao próprio corpo humano e a interdependência dos nossos sistemas: circulatório, respiratório, digestivo, etc. Eles trabalham juntos pelo propósito comum que é o equilíbrio do corpo.

O que falta ao Brasil hoje é justamente essa falta de um propósito comum, de causa, de um sonho que todos querem sonhar juntos. Mas o que empresários como eu podem fazer além de esperar que as coisas mudem em Brasília?

Podemos alinhar o nosso propósito empresarial com uma causa maior para a nação. E qualquer empresa pode ter um propósito. Pense, por exemplo, em um supermercado que determine que a diferença máxima de salários não pode ser maior do que 9 vezes entre todos os níveis da hierarquia. O que eles estão fazendo se não atacando a questão da concentração de renda no País?

Outro exemplo e outra causa: uma empresa que faz blindagem de carros. Os clientes dessa empresa, claro, estão no topo da pirâmide social. Mas agora imagine que eles só contratam ex-presidiários. Olha o impacto que isso gera para a sociedade e na reabilitação desses caras.

Agora pense grande. São 10 milhões de empresas no Brasil. Se todas tiverem um propósito, imagina o quanto de impacto elas podem causar. Empresas e governo caminhando juntos, na mesma direção, em uma união colaborativa.

Por isso que o “Ordem e Progresso” da bandeira poderia dar lugar a um outro lema que fizesse mais sentido para os dias de hoje. Tenho conversado com alguns amigos a respeito e ouvido sugestões muito boas como “Igualdade de Oportunidade e Trabalho Duro”, “Empatia e Coragem”, “Democracia e Desenvolvimento”, “Educação e Empreendedorismo”, e outras.

Israel é um exemplo de país que foi muito bem-sucedido em definir seu propósito e fazer acontecer. Com apenas 70 anos de história, apenas 9 milhões de habitantes (menos da metade da população da Grande São Paulo), pouquíssimos recursos naturais e em constante conflito com os vizinhos, conseguiu gerar mais start-ups inovadoras do que países ricos e pacíficos e se tornar a “start-up nation”.

Por isso que eu digo que o que eu espero do próximo governo não é exatamente ficar esperando. Quero participar! Juntos e misturados, a gente vai chegar nesse propósito para o Brasil. Em seguida, governo e lideranças empresariais, principalmente aqueles alinhados ao Capitalismo Consciente, têm muito trabalho a fazer para atingir esse propósito maior.

Bolsonaro, chega de jogar PacMan. Bora jogar Minecraft!

* Bernardo Bonjean é fundador e presidente da startup Avante. Participou do programa OPM (Owner/President Management Program) da Harvard Business School. Foi trainee e diretor do banco Pactual e sócio da XP Investimentos CCTVM S.A.