O que a Polônia nos deixou
Tinha quatorze anos e tudo passava rápido ao meu redor. A escassez material se aguçava e nas estantes da minha cidade já era difícil encontrar as revistas de muitas cores e poucas verdades da URSS. Havíamos visto o show televisivo do julgamento de Ochoa e meus pais perderam a ilusão olhando como a justiça se dobrava ante aos uniformes verde-oliva. Justamente nestes dias nos chegaram notícias do que ocorria na […] Leia mais
Da Redação
Publicado em 7 de junho de 2009 às 01h40.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 13h32.
Tinha quatorze anos e tudo passava rápido ao meu redor. A escassez material se aguçava e nas estantes da minha cidade já era difícil encontrar as revistas de muitas cores e poucas verdades da URSS. Havíamos visto o show televisivo do julgamento de Ochoa e meus pais perderam a ilusão olhando como a justiça se dobrava ante aos uniformes verde-oliva.
Justamente nestes dias nos chegaram notícias do que ocorria na Polônia. Não entendíamos nada, pois até então o bloco socialista europeu parecia – entre nós – algo concebido para a eternidade. Uma prima longínqua nos contou suas apreensões depois de uma curta estadia em Moscou, porém continuávamos acreditando que o CAMECOM, o Pacto de Varsóvia e as máquinas de escrever Robotron sobreviveriam a todos.
A palavra Solidariedade se havia tornado moda e em minha cidade várias escolas continuavam chamando-se República Popular da Polônia. Ainda que meu professor de marxismo-leninismo se empenhasse em idealizar o Leste, algo se rompeu dentro dele quando soube o que se passava nas ruas de Varsóvia. Se a invasão da Checoslováquia em 1968 havia sido difícil de justificar pelos nossos governantes, a rebeldia da “classe operária polaca” deixou sem respostas mais de um.
Cresci, tive um filho e a ele coube também repetir a palavra de ordem “Pioneiros pelo comunismo, seremos como o Che”. Hoje tem a mesma idade que eu naquele tumultuado 1989, em que minhas dúvidas começaram, em que soube que tudo que haviam me inculcado talvez não fosse verdade.
(Publicado emGeração Y)
Tinha quatorze anos e tudo passava rápido ao meu redor. A escassez material se aguçava e nas estantes da minha cidade já era difícil encontrar as revistas de muitas cores e poucas verdades da URSS. Havíamos visto o show televisivo do julgamento de Ochoa e meus pais perderam a ilusão olhando como a justiça se dobrava ante aos uniformes verde-oliva.
Justamente nestes dias nos chegaram notícias do que ocorria na Polônia. Não entendíamos nada, pois até então o bloco socialista europeu parecia – entre nós – algo concebido para a eternidade. Uma prima longínqua nos contou suas apreensões depois de uma curta estadia em Moscou, porém continuávamos acreditando que o CAMECOM, o Pacto de Varsóvia e as máquinas de escrever Robotron sobreviveriam a todos.
A palavra Solidariedade se havia tornado moda e em minha cidade várias escolas continuavam chamando-se República Popular da Polônia. Ainda que meu professor de marxismo-leninismo se empenhasse em idealizar o Leste, algo se rompeu dentro dele quando soube o que se passava nas ruas de Varsóvia. Se a invasão da Checoslováquia em 1968 havia sido difícil de justificar pelos nossos governantes, a rebeldia da “classe operária polaca” deixou sem respostas mais de um.
Cresci, tive um filho e a ele coube também repetir a palavra de ordem “Pioneiros pelo comunismo, seremos como o Che”. Hoje tem a mesma idade que eu naquele tumultuado 1989, em que minhas dúvidas começaram, em que soube que tudo que haviam me inculcado talvez não fosse verdade.
(Publicado emGeração Y)