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O quadro negro da educação

Em entrevista ao “Valor Econômico”, o economista Aloísio Teixeira fala sobre o panorama brasileiro da educação. Segundo Teixeira, aconteceram avanços, neste setor; porém, o cenário do ensino superior é preocupante. Um detalhe curioso é mencionado em determinado trecho da matéria: “Historicamente alinhado à esquerda, [Teixeira] segue crítico à política econômica de juros altos e câmbio valorizado do governo, mas continua sustentando que o PT, nesta eleição, continua sendo a expressão […] Leia mais

DR

Da Redação

Publicado em 18 de julho de 2010 às 01h42.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 11h35.

Em entrevista ao “Valor Econômico”, o economista Aloísio Teixeira fala sobre o panorama brasileiro da educação. Segundo Teixeira, aconteceram avanços, neste setor; porém, o cenário do ensino superior é preocupante. Um detalhe curioso é mencionado em determinado trecho da matéria: “Historicamente alinhado à esquerda, [Teixeira] segue crítico à política econômica de juros altos e câmbio valorizado do governo, mas continua sustentando que o PT, nesta eleição, continua sendo a expressão da social-democracia brasileira, em oposição à liberal-democracia do PSDB. “É claro que ouvindo certas coisas que o [José] Serra diz, parece que às vezes os papéis se trocam”, afirma.”

Abaixo, o trecho da entrevista onde o economista fala sobre o acesso de alunos oriundos das escolas públicas às universidades e também sobre a questão das cotas:

Valor: Então o famoso gargalo do vestibular não existe?

Teixeira:
Acho que o vestibular é um mal, mas promove outro tipo de problema: uma redistribuição perversa. No caso da UFRJ, isso é muito claro: no Rio, mais de 60% dos jovens que se formam no ensino médio vêm da rede pública. No vestibular da UFRJ, 70% dos inscritos vêm da rede privada.

Valor: Esse tipo de distribuição reacende aquela questão: é justo que esses 70% tenham ensino público gratuito?

Teixeira: Veja bem, o jovem na faixa etária de 18 a 24 anos está no auge do seu vigor físico e da sua capacidade de aprendizado. Quando a sociedade o retira do processo produtivo e o coloca na universidade, ela está fazendo um investimento. Eu acho que esse investimento deve ser visto como um investimento social e não como um benefício pessoal, individual. É claro que se você tem apenas 13% dos jovens na universidade, na maioria dos casos é apropriado como um benefício individual e isso se remete um pouco para o outro lado da questão, que é o seguinte: se a gente aceita isso, vai estar consolidando essa situação, que é perversa. No meu entender, universidade deveria não apenas ter o ensino gratuito como o estudante deveria receber bolsa. A sociedade paga para que ele estude e se forme e retribua a ela com trabalho de melhor qualidade no futuro. É um conceito de universidade que eu acho que é mais adequado aos nossos países. Um outro aspecto é o seguinte: se a gente tem 70% de jovens que entram para a UFRJ vindos de escolas privadas, por que não pagar? Porque a gente não quer que a universidade seja dos 70%. A gente quer que a universidade seja daqueles que se formam na rede pública e nem sequer tentam entrar na UFRJ.

Valor: Isso remete para a discussão das cotas.

Teixeira:
Isso remete, eu diria, para uma discussão geral de acesso às universidades e, particularmente, para uma discussão das cotas. Uma universidade como a nossa é muito cautelosa nas mudanças que faz. E por que que é cautelosa? Porque se tem a consciência de que a gente tem bons indicadores de resultados. Temos 30 programas de pós-graduação com notas máximas na Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior]. Só uma universidade tem mais do que isso: é a USP. Mudar não pode ser alguma coisa que prejudique esse padrão de qualidade. Mas o fato é que hoje a UFRJ está envolvida em um processo de discussão intenso sobre essa questão do acesso. A reitoria apresentou uma proposta que, especificamente na questão do acesso, prevê que 50% das vagas oferecidas sejam preenchidas através do Enem [Exame Nacional do Ensino Médio] e desse número, 20%, ou seja, 10% do total das vagas, irão para estudantes que tenham renda familiar per capita de até um salário mínimo. Essa é uma proposta que está em discussão e a ideia é que até agosto possamos ter alguma definição.

Valor: A cota racial estaria descartada?

Teixeira: Sim. Eu, pessoalmente, não sou a favor da cota racial.”

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Em entrevista ao “Valor Econômico”, o economista Aloísio Teixeira fala sobre o panorama brasileiro da educação. Segundo Teixeira, aconteceram avanços, neste setor; porém, o cenário do ensino superior é preocupante. Um detalhe curioso é mencionado em determinado trecho da matéria: “Historicamente alinhado à esquerda, [Teixeira] segue crítico à política econômica de juros altos e câmbio valorizado do governo, mas continua sustentando que o PT, nesta eleição, continua sendo a expressão da social-democracia brasileira, em oposição à liberal-democracia do PSDB. “É claro que ouvindo certas coisas que o [José] Serra diz, parece que às vezes os papéis se trocam”, afirma.”

Abaixo, o trecho da entrevista onde o economista fala sobre o acesso de alunos oriundos das escolas públicas às universidades e também sobre a questão das cotas:

Valor: Então o famoso gargalo do vestibular não existe?

Teixeira:
Acho que o vestibular é um mal, mas promove outro tipo de problema: uma redistribuição perversa. No caso da UFRJ, isso é muito claro: no Rio, mais de 60% dos jovens que se formam no ensino médio vêm da rede pública. No vestibular da UFRJ, 70% dos inscritos vêm da rede privada.

Valor: Esse tipo de distribuição reacende aquela questão: é justo que esses 70% tenham ensino público gratuito?

Teixeira: Veja bem, o jovem na faixa etária de 18 a 24 anos está no auge do seu vigor físico e da sua capacidade de aprendizado. Quando a sociedade o retira do processo produtivo e o coloca na universidade, ela está fazendo um investimento. Eu acho que esse investimento deve ser visto como um investimento social e não como um benefício pessoal, individual. É claro que se você tem apenas 13% dos jovens na universidade, na maioria dos casos é apropriado como um benefício individual e isso se remete um pouco para o outro lado da questão, que é o seguinte: se a gente aceita isso, vai estar consolidando essa situação, que é perversa. No meu entender, universidade deveria não apenas ter o ensino gratuito como o estudante deveria receber bolsa. A sociedade paga para que ele estude e se forme e retribua a ela com trabalho de melhor qualidade no futuro. É um conceito de universidade que eu acho que é mais adequado aos nossos países. Um outro aspecto é o seguinte: se a gente tem 70% de jovens que entram para a UFRJ vindos de escolas privadas, por que não pagar? Porque a gente não quer que a universidade seja dos 70%. A gente quer que a universidade seja daqueles que se formam na rede pública e nem sequer tentam entrar na UFRJ.

Valor: Isso remete para a discussão das cotas.

Teixeira:
Isso remete, eu diria, para uma discussão geral de acesso às universidades e, particularmente, para uma discussão das cotas. Uma universidade como a nossa é muito cautelosa nas mudanças que faz. E por que que é cautelosa? Porque se tem a consciência de que a gente tem bons indicadores de resultados. Temos 30 programas de pós-graduação com notas máximas na Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior]. Só uma universidade tem mais do que isso: é a USP. Mudar não pode ser alguma coisa que prejudique esse padrão de qualidade. Mas o fato é que hoje a UFRJ está envolvida em um processo de discussão intenso sobre essa questão do acesso. A reitoria apresentou uma proposta que, especificamente na questão do acesso, prevê que 50% das vagas oferecidas sejam preenchidas através do Enem [Exame Nacional do Ensino Médio] e desse número, 20%, ou seja, 10% do total das vagas, irão para estudantes que tenham renda familiar per capita de até um salário mínimo. Essa é uma proposta que está em discussão e a ideia é que até agosto possamos ter alguma definição.

Valor: A cota racial estaria descartada?

Teixeira: Sim. Eu, pessoalmente, não sou a favor da cota racial.”

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