“O novo eleitor é digital, a classe política é analógica”
Instituto Locomotiva traça perfil do eleitor em 2018. Ouça o podcast com Renato Meirelles
Publicado em 7 de junho de 2018 às, 12h18.
Chegam a marca de 94% os brasileiros que estão insatisfeitos com os atuais governantes do país. Os dados divulgados pelo Instituto Locomotiva refletem bem o tamanho do descontentamento dos cidadãos com a maneira de se fazer política no Brasil. A pesquisa sobre o comportamento dos eleitores, realizada em abril deste ano, revela uma realidade preocupante para a representatividade democrática: mais de 90% dos participantes acreditam que os políticos que estão no poder não defendem os interesses da sociedade que os elegeu. Ouça a entrevista com Renato Meirelles, presidente do Locomotiva, e saiba mais sobre o estudo divulgado.
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O levantamento também evidencia o descrédito dos políticos diante dos brasileiros. Apenas 4% dos entrevistados disseram confiar nas lideranças políticas e, quando se trata de algum partido, este número cai para 3%. Para Meirelles, o estudo expõe o grande descolamento que existe entre os governantes e governados no Brasil. “Prova disso é que, para 92% da população, todo político é ladrão”, destaca. Segundo o presidente do Instituto, o perfil do eleitor está mudando. Agora, ainda mais digital, ele procura troca de informações e quer participar mais ativamente das decisões, tornando-se protagonista com mais responsabilidade nos processos que envolvem o país. Um exemplo é que 88% dos participantes da pesquisa disseram que estariam mais ativos na política caso fossem ouvidos.
Apesar desta grande demanda por renovação, Meirelles acredita que os governantes não estão prontos para atender aos anseios da sociedade: “Temos uma classe política envelhecida, que percebe a vontade de mudança, mas faz de tudo para se manter no poder. Ela não apresenta aos eleitores alternativas efetivas de renovação. A oferta é mais do mesmo”. Meirelles destaca ainda que os partidos preferem ceder as ferramentas políticas, como condições de financiamento e tempo de televisão, para as antigas lideranças, prejudicando a identificação de grande parte da população com novos agentes.
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O estudo também traçou algumas características das eleições de 2018. Meirelles destaca que há um cenário altamente fragmentado no Brasil. Provavelmente, os dois candidatos que irão ao segundo turno terão menos de 20% dos votos. Além disso, o vencedor deve ser apoiado apenas por um terço da população, o restante se concentrará nos demais concorrentes, além dos votos em branco, nulos e abstenções. Ou seja, o governo iniciará 2019 com a desconfiança de grande parte da sociedade brasileira. Outro dado relevante é que dois terços dos participantes da pesquisa admitiram que escolhe seu presidente por exclusão, e não por afinidade.
Além do pleito altamente fragmentado, a grande polarização, visível nos debates diários, também é uma das características das próximas eleições. Para o Instituto Locomotiva, é muito provável que os dois candidatos que chegarem ao segundo turno sejam de lados políticos opostos. Apesar disso, 65% dos brasileiros acreditam que o próximo presidente deve estar fora dessas polêmicas ideológicas. “Enquanto essa parcela polarizada prefere discutir o Brasil olhando para o passado, a grande maioria aposta em uma visão do futuro. Políticos que ao invés de falarem mal de seu adversário, consigam propor saídas para o Brasil. É preciso maturidade para sair das falsas polêmicas que esquerda versus direita têm colocado na pauta eleitoral”, completa Meirelles.