O Estado é um grande e generoso empregador
Vale a pena ler o editorial do Valor Econômico de hoje: “A folha de pagamentos da União chegou este ano, pela primeira vez desde 1995, a ultrapassar os 5% do Produto Interno Bruto (PIB). O governo Lula passou a não economizar nesse quesito especialmente em seu segundo mandato. Em oito anos, terá entregue o Estado com 107 mil empregados efetivos a mais – a autorização para contratações atinge 150 mil […] Leia mais
Da Redação
Publicado em 18 de novembro de 2009 às 11h34.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 13h23.
Vale a pena ler o editorial do Valor Econômico de hoje:
“A folha de pagamentos da União chegou este ano, pela primeira vez desde 1995, a ultrapassar os 5% do Produto Interno Bruto (PIB). O governo Lula passou a não economizar nesse quesito especialmente em seu segundo mandato. Em oito anos, terá entregue o Estado com 107 mil empregados efetivos a mais – a autorização para contratações atinge 150 mil pessoas – do que quando assumiu em 2003 (Valor, 9 de novembro), além de promover uma recomposição salarial cujos escalonamentos e efeitos sobre os gastos públicos se estenderão pelos próximos anos. Esses números, em si preocupantes, não contam toda a história. Há hoje uma verdadeira corrida aos empregos públicos. Um concurso para analistas e técnicos de nível médio e superior da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) terá cada uma de suas vagas disputada por 400 pessoas. Não há nada de errado em que cresça a procura pelo ingresso no funcionalismo público, mas tanto entusiasmo mostra um fator inquietante: o emprego público passou a oferecer salários e condições superiores aos da iniciativa privada. Isso significa ou que as empresas do setor privado estão derrubando aos poucos seus salários e piorando as condições de trabalho ou que o Estado passou a oferecer facilidades tão especiais de trabalho que elas se tornaram quase um privilégio, inexistente em outras partes. Os números apresentados não deixam margem a dúvidas. Na média, o Estado paga hoje o dobro do salário do setor privado, uma diferença que cresceu com o tempo. Segundo cálculos do professor Nelson Marconi, da Fundação Getúlio Vargas, antes do governo Lula, em 2002, os funcionários públicos já recebiam 78,9% a mais que seus congêneres na iniciativa privada. Agora, ganham 101,3% a mais. Uma demanda tão grande como a atual pelo serviço público levaria, se ocorresse no mercado privado, à redução média dos salários. Mas o Estado é um contratante especial, no qual os salários tendem sempre para cima. Na verdade, o diferencial de rendimentos é muito maior do que mostram os holerites. O funcionário público tem estabilidade no emprego e aposentadoria pelo salário integral. A maior parte dos cidadãos que pagam impostos para sustentar o Estado não tem essas vantagens, usufruídas por uma minoria. Para tentar corrigir parte dessa anomalia, que faz do trabalhador da iniciativa privada um cidadão de segunda classe, houve mudanças constitucionais em 2003, cujo objetivo era o de pelo menos reduzir o hiato entre a aposentadoria integral pública e a dos demais trabalhadores. Foi fixado que os novos servidores públicos, admitidos a partir de 2004, se enquadrariam no mesmo teto da Previdência Social e, se quisessem ganhar mais, precisariam contribuir com um fundo de previdência complementar. Esse fundo nunca foi regulamentado pela União, a maior empregadora, e não há a menor hipótese de sê-lo no curto prazo. Com isso, os desajustes na Previdência cresceram. Os gastos com a aposentadoria pública deveriam diminuir, com a instituição do fundo e do pagamento de contribuição pelos inativos, mas isso só ocorreu até 2006. A partir daí o déficit voltou a crescer (Folha de S. Paulo, 9 de novembro). Como resultado, sabe-se o que já se sabia antes das emendas constitucionais. Os 984 mil inativos e pensionistas pagos pela União criarão um rombo previdenciário da ordem de R$ 48 bilhões, cifra quase semelhante ao déficit deixado por mais de 15 milhões de aposentados que não tiveram a sorte de labutar para o Estado. A desigualdade é gritante. A média mensal da aposentadoria dos funcionários do Legislativo é de R$ 15,3 mil; a do Judiciário, R$ 15,1 mil; e a do Executivo, R$ 5,3 mil. Essas disparidades nada têm a ver com a necessidade de o Estado remunerar bem para oferecer melhores serviços aos cidadãos. Não há nenhuma revolução gerencial em curso na União, os planos neste sentido mal foram executados e hoje estão esquecidos. Os serviços oferecidos estão longe de uma qualidade razoável. Nem o Congresso nem o Judiciário têm interesse em conter os salários de seus funcionários. O Executivo, que no começo tentou fazer algo, sem muita convicção, cedo desistiu. A conta está crescendo e se arrasta para o futuro, na forma deletéria de menos recursos para investimentos. “
Vale a pena ler o editorial do Valor Econômico de hoje:
“A folha de pagamentos da União chegou este ano, pela primeira vez desde 1995, a ultrapassar os 5% do Produto Interno Bruto (PIB). O governo Lula passou a não economizar nesse quesito especialmente em seu segundo mandato. Em oito anos, terá entregue o Estado com 107 mil empregados efetivos a mais – a autorização para contratações atinge 150 mil pessoas – do que quando assumiu em 2003 (Valor, 9 de novembro), além de promover uma recomposição salarial cujos escalonamentos e efeitos sobre os gastos públicos se estenderão pelos próximos anos. Esses números, em si preocupantes, não contam toda a história. Há hoje uma verdadeira corrida aos empregos públicos. Um concurso para analistas e técnicos de nível médio e superior da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) terá cada uma de suas vagas disputada por 400 pessoas. Não há nada de errado em que cresça a procura pelo ingresso no funcionalismo público, mas tanto entusiasmo mostra um fator inquietante: o emprego público passou a oferecer salários e condições superiores aos da iniciativa privada. Isso significa ou que as empresas do setor privado estão derrubando aos poucos seus salários e piorando as condições de trabalho ou que o Estado passou a oferecer facilidades tão especiais de trabalho que elas se tornaram quase um privilégio, inexistente em outras partes. Os números apresentados não deixam margem a dúvidas. Na média, o Estado paga hoje o dobro do salário do setor privado, uma diferença que cresceu com o tempo. Segundo cálculos do professor Nelson Marconi, da Fundação Getúlio Vargas, antes do governo Lula, em 2002, os funcionários públicos já recebiam 78,9% a mais que seus congêneres na iniciativa privada. Agora, ganham 101,3% a mais. Uma demanda tão grande como a atual pelo serviço público levaria, se ocorresse no mercado privado, à redução média dos salários. Mas o Estado é um contratante especial, no qual os salários tendem sempre para cima. Na verdade, o diferencial de rendimentos é muito maior do que mostram os holerites. O funcionário público tem estabilidade no emprego e aposentadoria pelo salário integral. A maior parte dos cidadãos que pagam impostos para sustentar o Estado não tem essas vantagens, usufruídas por uma minoria. Para tentar corrigir parte dessa anomalia, que faz do trabalhador da iniciativa privada um cidadão de segunda classe, houve mudanças constitucionais em 2003, cujo objetivo era o de pelo menos reduzir o hiato entre a aposentadoria integral pública e a dos demais trabalhadores. Foi fixado que os novos servidores públicos, admitidos a partir de 2004, se enquadrariam no mesmo teto da Previdência Social e, se quisessem ganhar mais, precisariam contribuir com um fundo de previdência complementar. Esse fundo nunca foi regulamentado pela União, a maior empregadora, e não há a menor hipótese de sê-lo no curto prazo. Com isso, os desajustes na Previdência cresceram. Os gastos com a aposentadoria pública deveriam diminuir, com a instituição do fundo e do pagamento de contribuição pelos inativos, mas isso só ocorreu até 2006. A partir daí o déficit voltou a crescer (Folha de S. Paulo, 9 de novembro). Como resultado, sabe-se o que já se sabia antes das emendas constitucionais. Os 984 mil inativos e pensionistas pagos pela União criarão um rombo previdenciário da ordem de R$ 48 bilhões, cifra quase semelhante ao déficit deixado por mais de 15 milhões de aposentados que não tiveram a sorte de labutar para o Estado. A desigualdade é gritante. A média mensal da aposentadoria dos funcionários do Legislativo é de R$ 15,3 mil; a do Judiciário, R$ 15,1 mil; e a do Executivo, R$ 5,3 mil. Essas disparidades nada têm a ver com a necessidade de o Estado remunerar bem para oferecer melhores serviços aos cidadãos. Não há nenhuma revolução gerencial em curso na União, os planos neste sentido mal foram executados e hoje estão esquecidos. Os serviços oferecidos estão longe de uma qualidade razoável. Nem o Congresso nem o Judiciário têm interesse em conter os salários de seus funcionários. O Executivo, que no começo tentou fazer algo, sem muita convicção, cedo desistiu. A conta está crescendo e se arrasta para o futuro, na forma deletéria de menos recursos para investimentos. “