“O Ensino superior gratuito acaba sendo um Robin Hood às avessas"
Professor de economia analisa proposta do Banco Mundial de acabar com acesso irrestrito às universidades públicas
laizmartins1
Publicado em 23 de novembro de 2017 às 14h08.
O relatório “Um ajuste justo – propostas para aumentar eficiência e equidade do gasto público no Brasil”, anunciado pelo Banco Mundial (BM) nesta terça-feira, acendeu o debate nas redes sociais em torno do formato do ensino superior brasileiro. Como sugestão para reduzir gastos sem prejudicar as camadas mais pobres da população, a instituição analisou uma série de práticas liberais que, além de contribuir para a saúde fiscal do país, tornariam a economia mais eficiente (Leia aqui o relatório).
De acordo com o BM, uma proposta viável para a melhoria do ambiente econômico seria o fim do acesso irrestrito à universidade pública, já que 65% dos estudantes das instituições de ensino superior federais, por exemplo, estão na faixa dos 40% mais ricos da população. Após se formarem, esses estudantes poderiam acabar perpetuando a desigualdade no país. O estudo destacou também os custo dos alunos das universidades públicas para o orçamento:
“Em média, um estudante em universidades públicas no Brasil custa de duas a três vezes mais que estudantes em universidades privadas. Entre 2013 e 2015, o custo médio anual por estudante em universidades privadas sem e com fins lucrativos foi de aproximadamente R$ 12.600 e R$ 14.850, respectivamente. Em universidades federais, a média foi de R$ 40.900. Universidades públicas estaduais custam menos do que as federais, mas ainda são muito mais caras do que as privadas, custando aproximadamente de R$ 32.200. O custo por aluno dos institutos federais, a maior parte fundada desde 200887, é de aproximadamente R$ 27.850.”
Para avaliar a proposta do BM, o Instituto Millenium entrou em contato com o professor de economia e cientista de dados Vítor Wilher. Ele concorda com a instituição sobre o fim do ensino superior irrestrito gratuito ao defender que somente as camadas mais pobres da população devem ter acesso à universidade sem pagar:
“O Ensino Superior não é um bem que deve ser financiado com recursos públicos porque grande parte dos benefícios de quem aufere uma educação superior fica para ela mesma. A pessoa que recebe o ensino superior acaba ganhando uma renda maior quando ela termina o curso. Se nós olharmos para o nosso modelo educacional atual, grande parte das pessoas que entram no ensino superior estatal – e que vão ter acesso ao prêmio salarial no final – vem de camadas mais ricas da população. Enquanto as camadas mais pobres têm acesso à universidade privada pagando, seja através do trabalho, seja através de algum tipo de empréstimo. É um Robin Hood às avessas”, avalia.
Wilher comenta também os modelos que poderiam ser empregados no país, a exemplo de países bem sucedidos no mundo, e analisa a urgência com a qual a sociedade brasileira deve entender e se adaptar a mudanças na estrutura do Estado:
“Estamos vivendo uma restrição orçamentária do Estado que não tem volta. Temos déficit primário de 2,3 do PIB. Não haverá mais dinheiro para investir em alguns bens e serviços. Não só a educação superior precisará ser reestruturada. Do ponto de vista econômico, faz todo o sentido que o ensino superior seja somente para quem não tem recursos. O resto [da população] financia ou paga mensalidade”. Ouça!
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O relatório “Um ajuste justo – propostas para aumentar eficiência e equidade do gasto público no Brasil”, anunciado pelo Banco Mundial (BM) nesta terça-feira, acendeu o debate nas redes sociais em torno do formato do ensino superior brasileiro. Como sugestão para reduzir gastos sem prejudicar as camadas mais pobres da população, a instituição analisou uma série de práticas liberais que, além de contribuir para a saúde fiscal do país, tornariam a economia mais eficiente (Leia aqui o relatório).
De acordo com o BM, uma proposta viável para a melhoria do ambiente econômico seria o fim do acesso irrestrito à universidade pública, já que 65% dos estudantes das instituições de ensino superior federais, por exemplo, estão na faixa dos 40% mais ricos da população. Após se formarem, esses estudantes poderiam acabar perpetuando a desigualdade no país. O estudo destacou também os custo dos alunos das universidades públicas para o orçamento:
“Em média, um estudante em universidades públicas no Brasil custa de duas a três vezes mais que estudantes em universidades privadas. Entre 2013 e 2015, o custo médio anual por estudante em universidades privadas sem e com fins lucrativos foi de aproximadamente R$ 12.600 e R$ 14.850, respectivamente. Em universidades federais, a média foi de R$ 40.900. Universidades públicas estaduais custam menos do que as federais, mas ainda são muito mais caras do que as privadas, custando aproximadamente de R$ 32.200. O custo por aluno dos institutos federais, a maior parte fundada desde 200887, é de aproximadamente R$ 27.850.”
Para avaliar a proposta do BM, o Instituto Millenium entrou em contato com o professor de economia e cientista de dados Vítor Wilher. Ele concorda com a instituição sobre o fim do ensino superior irrestrito gratuito ao defender que somente as camadas mais pobres da população devem ter acesso à universidade sem pagar:
“O Ensino Superior não é um bem que deve ser financiado com recursos públicos porque grande parte dos benefícios de quem aufere uma educação superior fica para ela mesma. A pessoa que recebe o ensino superior acaba ganhando uma renda maior quando ela termina o curso. Se nós olharmos para o nosso modelo educacional atual, grande parte das pessoas que entram no ensino superior estatal – e que vão ter acesso ao prêmio salarial no final – vem de camadas mais ricas da população. Enquanto as camadas mais pobres têm acesso à universidade privada pagando, seja através do trabalho, seja através de algum tipo de empréstimo. É um Robin Hood às avessas”, avalia.
Wilher comenta também os modelos que poderiam ser empregados no país, a exemplo de países bem sucedidos no mundo, e analisa a urgência com a qual a sociedade brasileira deve entender e se adaptar a mudanças na estrutura do Estado:
“Estamos vivendo uma restrição orçamentária do Estado que não tem volta. Temos déficit primário de 2,3 do PIB. Não haverá mais dinheiro para investir em alguns bens e serviços. Não só a educação superior precisará ser reestruturada. Do ponto de vista econômico, faz todo o sentido que o ensino superior seja somente para quem não tem recursos. O resto [da população] financia ou paga mensalidade”. Ouça!
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