“O Brasil precisa de uma reforma de Estado urgente”
Especialista analisa riscos para a democracia e critica a ideia de que o combate à corrupção resolverá todos os problemas do país
Publicado em 20 de junho de 2018 às, 10h03.
Vivemos sob um sistema de governo democrático, onde as ideias dos cidadãos são representados através do voto. Em meio à crise político-econômica que assola o país, porém, a falta de confiança na representação vêm ganhando espaço entre a população. Para entender melhor o assunto, conversamos com o doutor em ciência política e especialista do Imil, Jorge Caldeira. Segundo ele, o sistema representativo no Brasil segue uma sólida tradição de quase 500 anos, no entanto, ressalta episódios críticos na história do país onde outros sistemas de governo se fizeram presentes:
“A democracia tem um enraizamento muito profundo na vida dos brasileiros, mas ela corre perigo pois não é o único sistema representativo na história brasileira. O Brasil tem surtos de autoritarismo, notas de ditadura na vida estadual e o governo central alterna entre os perigos dos governos autocráticos e democráticos. Nessas eleições, se olharmos debaixo para cima, essa questão está normal e os estados estão sobrevivendo”. Ouça a entrevista completa no player abaixo!
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Apesar do cientista político acreditar que não existe uma incompreensão da sociedade sobre o que é de fato a democracia, o movimento favorável à intervenção militar é um assunto preocupante, pois pode se estender à falência do governo. E, sendo o Brasil uma nação pouco acessível à abertura econômica, com ganhos de produtividade estagnados há quase quatro décadas, ficamos completamente isolados do giro de capital mundial, agravando a situação.
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“A falência do governo central não é uma questão de não ter dinheiro. A falência é operacional e o Estado brasileiro está correndo este risco, pois o governo é absolutamente inadequado e inoperante para a economia global. A montanha de riqueza que vem sendo produzida mundialmente não chega ao Brasil. Se esta situação continuar, o país pode ir à falência, pois hoje ele está dependendo apenas de si mesmo. O Brasil precisa de uma reforma de Estado urgente e isso não está sendo discutido nesta campanha eleitoral”, lamenta Caldeira.
O legado de corrupção da Operação Lava-Jato levou a sociedade brasileira a acreditar que, ao retirarmos os políticos de cena, o dinheiro aparecerá e os problemas do país serão solucionados. Para Caldeira, esta é uma narrativa equivocada, pois mesmo que afastados os políticos, a crise continuará a existir e não haverá um intermediador capaz de solucioná-la. Ele explica ainda que não devemos transferir o poder representativo ao Poder Judiciário, e sim, determinar um bom funcionamento na divisão de poderes através do voto:
“O Judiciário é feito para aplicar uma norma a um caso, não para pensar sobre ela e não é treinado para resolver esse tipo de assunto. A remoção de políticos também não vai resolver o problema. A vontade do eleitor deve estar representada no exercício do poder, do voto. No entanto, os interesses que estão representados no pleito da maioria da população estão mal representados. A falta de completude e abertura para a representação de todo o sistema é outra coisa que pode agravar a crise como um todo”.