NPTO na "Folha" e divergências
Celso Rocha, grande chapa, deu uma entrevista para a Folha. Ele é, de longe, uma das pessoas mais geniais – e boas – que tive a sorte de conhecer. Não entendo o petismo dele, mas o Celso sabe muito mais de petismo (e dele mesmo) do que eu. Além disso, ele sempre deu respostas clarividentes para se situar em política de alto nível. Ao contrário de muitos de seus pares sociólogos […] Leia mais
Da Redação
Publicado em 18 de setembro de 2010 às 20h56.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 11h13.
Celso Rocha, grande chapa, deu uma entrevista para a Folha.
Ele é, de longe, uma das pessoas mais geniais – e boas – que tive a sorte de conhecer. Não entendo o petismo dele, mas o Celso sabe muito mais de petismo (e dele mesmo) do que eu. Além disso, ele sempre deu respostas clarividentes para se situar em política de alto nível. Ao contrário de muitos de seus pares sociólogos – que critico tanto, sem medo de ser infeliz -, não lhe falta fôlego para discutir diversos debates espinhosos em profundidade, como o problema do cálculo econômico, que muitos preferem fingir que não existe – quantos PhDeuses não vi levantarem as doutas sobrancelhas à menção da existência de tal “cálculo” e enterrarem a cabeça no seu velho manual de mais-valia. Celso alinha-se ao que, de fato, corresponde a um Labour Party, a uma social-democracia sueca (embora os suecos estejam muito mais pró-livre mercado atualmente), a um liberal americano, socialmente distributivista e fiscalmente conservador. Em minha opinião, esse tipo de esquerda nunca vingou no Brasil, ele acha que dá para conciliar o que temos – o PT – com esse padrão. Eu discordo, o histórico de membros-chave do partido não convence, ler as atas de congressos e o que seus fundadores e professores escrevem é viajar numa selva de idéias anacrônicas e agüentar muita língua dupla. Olof Palme ou Willy Brandt, líderes, respectivamente, da social-democracia sueca e alemã nos idos 1970, jamais bateriam no peito para dizer que a Venezuela de Chávez tem excesso de democracia, morreriam de vergonha. O histórico e formação da esquerda latino-americana é, aliás, muito ruim. A exigência mínima que se pode fazer são rupturas lúcidas, ao invés de esperarmos ciclos evolutivos permanentes que não passam de paliativos mal disfarçados (“ok, a estatização total foi uma droga, matou milhões pela opressão e pela fome, vamos recuperar o que perdemos no Leste Europeu e tentar um modelo latino-desenvolvimentista-neocepalino-pai-dos-pobres-do-século-XXI”). Não sei se o petismo pode ser salvo de si mesmo, sou um espectador à espera de exorcismos reais, de mais militantes assumindo que “sonharam o sonho errado”, de menos leniência com as próprias absurdidades, que o grotesco nunca mais seja motivo de saudosismo. Não se pode botar um cara de pau que chora de saudades ao ouvir falar de charutos Habana num Ministério da Casa Civil. Em uma esquerda que se diz moderna, não comporta. Um Emir Sader, na sua luta contra a “ditadura da mídia privada”, não pode ser suplente de Senador da minha cidade. E o que dizer do top-top Garcia, cônsul do terceiro-mundismo? Esses tipos temos aos borbotões, por que existem? Sempre se pode alegar que “Ah, evoluímos muito, não está tão ruim assim, eles acabam controlados pelas forças pragmáticas do partido que buscam governabilidade e se chocar menos com estruturas constitucionais burguesas”. Não, esse jogo não está sendo jogado às claras pelo PT. É sempre um risco que setores ponderados aceitem extremistas – ou pessoas com aberta afetuosidade a extremistas – com tanta facilidade. Temo mais ainda a profecia do político italiano Ignazio Silone: “A batalha final não será travada entre comunistas e anticomunistas mas entre os comunistas e os ex-comunistas.” Ainda que pareça repetitivo para quem lê este blógue, não custa lembrar que estão entre os quatro dos maiores presidenciáveis: uma petista (Dilma), uma ex-petista (Marina), um fundador do PT (Plínio Sampaio). O último elemento desta eleição é um tucano, que, de forma preocupante, é entendido como “direitista” pela intelligentsia tagarelante. Essa leitura é, ela mesma, uma interpretação radical, no pior sentido, de nossas próprias referências políticas. Onde estão nossos checks and balances? Quando o que sobrar de oposição morrer de inanição, parece-me claro, não haverá como colocar nossa experiência democrática em direções mais maduras por muito mais tempo.
Atualização 1: para corroborar com meu diagnóstico, está rolando um vídeo em que Lula, o presidente da República, inebriado pelo espírito democrático, diz que “precisamos extirpar” um certo partido do país.
Atualização 1.1: Dirceu para cerca de 100 líderes sindicais: “O problema do Brasil é o monopólio das grandes mídias, o excesso de liberdade e do direito de expressão e da imprensa”.
Publicado em “A Mosca Azul”
Celso Rocha, grande chapa, deu uma entrevista para a Folha.
Ele é, de longe, uma das pessoas mais geniais – e boas – que tive a sorte de conhecer. Não entendo o petismo dele, mas o Celso sabe muito mais de petismo (e dele mesmo) do que eu. Além disso, ele sempre deu respostas clarividentes para se situar em política de alto nível. Ao contrário de muitos de seus pares sociólogos – que critico tanto, sem medo de ser infeliz -, não lhe falta fôlego para discutir diversos debates espinhosos em profundidade, como o problema do cálculo econômico, que muitos preferem fingir que não existe – quantos PhDeuses não vi levantarem as doutas sobrancelhas à menção da existência de tal “cálculo” e enterrarem a cabeça no seu velho manual de mais-valia. Celso alinha-se ao que, de fato, corresponde a um Labour Party, a uma social-democracia sueca (embora os suecos estejam muito mais pró-livre mercado atualmente), a um liberal americano, socialmente distributivista e fiscalmente conservador. Em minha opinião, esse tipo de esquerda nunca vingou no Brasil, ele acha que dá para conciliar o que temos – o PT – com esse padrão. Eu discordo, o histórico de membros-chave do partido não convence, ler as atas de congressos e o que seus fundadores e professores escrevem é viajar numa selva de idéias anacrônicas e agüentar muita língua dupla. Olof Palme ou Willy Brandt, líderes, respectivamente, da social-democracia sueca e alemã nos idos 1970, jamais bateriam no peito para dizer que a Venezuela de Chávez tem excesso de democracia, morreriam de vergonha. O histórico e formação da esquerda latino-americana é, aliás, muito ruim. A exigência mínima que se pode fazer são rupturas lúcidas, ao invés de esperarmos ciclos evolutivos permanentes que não passam de paliativos mal disfarçados (“ok, a estatização total foi uma droga, matou milhões pela opressão e pela fome, vamos recuperar o que perdemos no Leste Europeu e tentar um modelo latino-desenvolvimentista-neocepalino-pai-dos-pobres-do-século-XXI”). Não sei se o petismo pode ser salvo de si mesmo, sou um espectador à espera de exorcismos reais, de mais militantes assumindo que “sonharam o sonho errado”, de menos leniência com as próprias absurdidades, que o grotesco nunca mais seja motivo de saudosismo. Não se pode botar um cara de pau que chora de saudades ao ouvir falar de charutos Habana num Ministério da Casa Civil. Em uma esquerda que se diz moderna, não comporta. Um Emir Sader, na sua luta contra a “ditadura da mídia privada”, não pode ser suplente de Senador da minha cidade. E o que dizer do top-top Garcia, cônsul do terceiro-mundismo? Esses tipos temos aos borbotões, por que existem? Sempre se pode alegar que “Ah, evoluímos muito, não está tão ruim assim, eles acabam controlados pelas forças pragmáticas do partido que buscam governabilidade e se chocar menos com estruturas constitucionais burguesas”. Não, esse jogo não está sendo jogado às claras pelo PT. É sempre um risco que setores ponderados aceitem extremistas – ou pessoas com aberta afetuosidade a extremistas – com tanta facilidade. Temo mais ainda a profecia do político italiano Ignazio Silone: “A batalha final não será travada entre comunistas e anticomunistas mas entre os comunistas e os ex-comunistas.” Ainda que pareça repetitivo para quem lê este blógue, não custa lembrar que estão entre os quatro dos maiores presidenciáveis: uma petista (Dilma), uma ex-petista (Marina), um fundador do PT (Plínio Sampaio). O último elemento desta eleição é um tucano, que, de forma preocupante, é entendido como “direitista” pela intelligentsia tagarelante. Essa leitura é, ela mesma, uma interpretação radical, no pior sentido, de nossas próprias referências políticas. Onde estão nossos checks and balances? Quando o que sobrar de oposição morrer de inanição, parece-me claro, não haverá como colocar nossa experiência democrática em direções mais maduras por muito mais tempo.
Atualização 1: para corroborar com meu diagnóstico, está rolando um vídeo em que Lula, o presidente da República, inebriado pelo espírito democrático, diz que “precisamos extirpar” um certo partido do país.
Atualização 1.1: Dirceu para cerca de 100 líderes sindicais: “O problema do Brasil é o monopólio das grandes mídias, o excesso de liberdade e do direito de expressão e da imprensa”.
Publicado em “A Mosca Azul”