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Narloch: “O humor é um caminho contra o pensamento autoritário”

"A História do Brasil está cheia de fantasmas"

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Instituto Millenium

Publicado em 15 de março de 2011 às, 13h36.

Última atualização em 11 de abril de 2019 às, 08h46.

O jornalista Leandro Narloch, autor do “Guia politicamente incorreto da História do Brasil” (Ed Leya, 2009), vai surpreender o debate sobre liberdade entre os liberais. Ele é um dos convidados do evento do Instituto Millenium,  “Liberdade em Debate”, que acontece no Rio.

Narloch  participa do painel “Liberdade de expressão x politicamente incorreto”, mas se considera um tanto quanto politicamente correto: “Eu atravesso na faixa de pedestres, sou a favor da lei antifumo.”

Ele está falando sério, mas acredita que um caminho alternativo para a defesa da liberdade contra o pensamento autoritário é o humor e cita como exemplo a “queda” de movimentos como a Ku Klux Klan, que foi ridicularizada e perdeu força.

Na entrevista concedida ao site do Imil, o jornalista antecipa a discussão sobre o tema:  “Eu não sou contra o pensamento politicamente correto, ele não é ruim, eu sou contra a perseguição ideológica.”

Leia abaixo a entrevista.

Instituto Millenium: É importante debater o tema da Liberdade hoje no Brasil? Por quê?
Leandro Narloch: O debate deve levantar  questões básicas que o brasileiro não conhece. O Brasil não conhece a liberdade (o conceito) e não percebe como o Estado atrapalha a vida dele.

O Estado pega 20% do salário das pessoas e deposita em uma poupança que pouco rende, que se chama Fundo de Garantia. O trabalhador não tem idéia de como esse crescimento é irrisório, de que ele poderia pegar a quantia e aplicar ou abrir um negócio, por exemplo. A gente se sente muito filho do Estado e não é.  Nós somos condenados à liberdade.

Instituto Millenium: Como o pensamento politicamente correto pode ser prejudicial para a liberdade de expressão, para a cultura e para a educação? Ele já está muito infiltrado no pensamento brasileiro contemporâneo?

Leandro Narloch: Muita gente vai se surpreender, mas eu não sou contra o pensamento politicamente correto, ele não é ruim, eu sou contra à perseguição ideológica. É uma farsa esse papo de que eu sou politicamente incorreto, eu atravesso na faixa de pedestres, sou a favor da lei antifumo…

O ruim é a obrigação. Por exemplo, a ausência de negros nas peças publicitárias brasileiras. Também acho lamentável que isso ocorra, mas daí a virar obrigação a presença de negros em comerciais…  A diferença é obrigar os anúncios a serem assim. Isso atenta contra a liberdade das pessoas. O  movimento negro tem o meu total apoio, mas já querer obrigar a publicidade a seguir determinada regra, não.

Por outro lado, o pensamento politicamente correto está infiltrado sim, no Brasil. Há uma benevolência com as ideias para as minorias e por isso é difícil mostrar, por exemplo, que o salário mínimo não aumentar vai ser bom para os pobres, e para os índios, que eles podem se beneficiar com a construção de hidrelétricas, fábricas etc

Pode parecer contraditório, mas inclusive está na hora de pensar se os liberais não são politicamente corretos na medida em que queremos o que é “correto”, menos miséria, mais liberdade para todos.

Instituto Millenium: A que você atribui o sucesso do livro “Guia politicamente incorreto da História do Brasil”? O brasileiro está mais aberto para a “desconstrução” de mitos?
Leandro Narloch: As pessoas  da minha geração estavam esperando uma historia menos esquemática. A gente sempre desconfiou da história “pobres X ricos” e que os ricos são tradicionalmente os vilões da historia. Os gordinhos de cartola… É a velha perspectiva da luta de classes. É preciso disseminar no país o pensamento econômico de que quando os ricos de são bem os pobres se dão melhor ainda. E quanto mais maduro o Brasil fica, com mais maturidade a gente olha para a História.

Outro ponto é que as aulas de História geralmente apresentam uma perspectiva muito ranzinza de tudo.  O professor parece dar uma bronca: “Está vendo? O passado brasileiro é lamentável, só teve tristeza…” e não é bem assim, muitos índios, adoraram o contato com os portugueses.

Instituto Millenium: Quais seriam os mitos do Brasil contemporâneo?

Leandro Narloch: Existem muitos mitos ainda, a História do Brasil está cheia de fantasmas, como o latifundiário onipotente do Brasil Colonial, os coronéis. A ideia da potencia exterior exploradora, a ideia de reparação histórica…

Na verdade, a campanha do Lula e do Evo Morales começou há 20 anos quando a ideia de reparação histórica foi difundida. “Nunca tivemos um pobre presidente…” Na campanha de Morales, o discurso de reparação história é muito claro, os  índios sempre aparecem na voz passiva. Nessa lógica, a eleição deles é muito compreensível.

A gente deveria criar a reparação histórica para os empresários (ri). Nunca um empresário foi presidente do Brasil. Podemos apregoar.

Instituto Millenium: Como defender a liberdade de expressão do pensamento politicamente incorreto?
Leandro Narloch: A melhor arma contra os movimentos autoritários é a ridicularização, da mesma maneira que a Ku Klux Klan foi ridicularizada… As pessoas entendem muito bem pelo humor e, além disso, é preciso discutir e disseminar as ideias. A gente precisa de um melhor marketing de ideias.

O meu livro não é contra o movimento negro, mas ao contrário, mostra como a história do negro é muito mais complexa do que a tradicionalmente contada. Quando a gente mostra uma escrava que controlava escravos, e conta que Zumbi também tinha escravos, amplia o grau de complexidade da nossa História.