"Jovens entendem que política é menos negociação e mais impacto"
Antropólogo analisa os resultados de pesquisa inédita sobre o engajamento político da juventude brasileira
Publicado em 3 de outubro de 2017 às, 16h47.
Última atualização em 3 de outubro de 2017 às, 16h47.
O engajamento político dos jovens brasileiros foi o tema de uma pesquisa realizada pela Consumoteca, consultoria multidisciplinar que traduz cultura em inovação estratégica. Os dados obtidos pelo estudo apontam que 75% dos entrevistados afirmam não ter um posicionamento político definido ou opinião sobre o assunto, enquanto 12% se consideram de direita, 8%, de esquerda, e 5%, de centro.
Para o antropólogo Michel Alcoforado, sócio-diretor da Consumoteca e especialista do Instituto Millenium, os resultados da pesquisa sinalizam uma mudança importante no que diz respeito ao envolvimento político dos jovens da Geração Ctrl + Z (nascidos a partir de 1995 e que fazem intenso uso dos dispositivos digitais e redes sociais no dia a dia) em comparação às gerações anteriores. “Antes, a partir do momento em que você simpatizava com um tema, você estava automaticamente engajado nele. Com esses jovens não: eles têm simpatia por uma série de temas, mas isso não cobra deles um grande engajamento”.
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Uma outra conclusão extraída da pesquisa, observa Alcoforado, é que existe uma tendência de fortalecimento dos candidatos como indivíduos em detrimento das organizações partidárias. Segundo o antropólogo, os jovens têm se interessado menos em distinguir se os partidos são de direita ou de esquerda e mais em avaliar se a plataforma e a visão de mundo propostas são coerentes com as ideias defendidas por eles. Ele explica que o processo de esvaziamento da política baseada em partidos afeta não só a maneira com a qual as pessoas pensam sua relação com a política, mas também como compreendem a democracia e a participação. “Não se trata da insatisfação dos jovens com esse poder atual, mas de uma nova forma de construir sua posição política. O que a gente vê hoje é que esses jovens não reconhecem a legitimidade dos partidos como uma única plataforma possível de construção da sua participação, e as redes sociais entram fortemente como canal construtor dessa participação”.
A respeito da influência das novas formas de expressão e participação política no pensamento e na ação da nova geração de eleitores, Alcoforado pondera que há, ao mesmo tempo, aspectos positivos, como gerar impacto social, e negativos, como o risco do surgimento de projetos autoritários de poder que relegam o diálogo a segundo plano. “Os jovens entenderam que a política é menos negociação e mais impacto. Eles não acreditam nessa coisa lenta, graduada, de negociação, acerto de contas, do equilíbrio de poder, de forças, que a política tradicional propõe. Eles estão sempre preocupados com resultados instantâneos e de grande impacto na vida de muitas pessoas.”
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