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Igor Taam: "Expressão e preconceito"

Os esconjuros do Conselho da Educação contra uma obra de Monteiro Lobato, sob a acusação de racismo, fizeram-me recordar de diversas passagens das “Novelas exemplares”, de Cervantes. Essas, sim, até onde minha memória alcança, desbancavam a raça moura, elevavam às nuvens as virtudes cristãs e espanholas, faziam pouco dos italianos e gregos. Mas não é necessário evocar a sombra do gênio espanhol, vejamos outro caso de melindres policamente corretos na […] Leia mais

DR

Da Redação

Publicado em 10 de novembro de 2010 às 00h01.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 10h52.

Os esconjuros do Conselho da Educação contra uma obra de Monteiro Lobato, sob a acusação de racismo, fizeram-me recordar de diversas passagens das “Novelas exemplares”, de Cervantes. Essas, sim, até onde minha memória alcança, desbancavam a raça moura, elevavam às nuvens as virtudes cristãs e espanholas, faziam pouco dos italianos e gregos. Mas não é necessário evocar a sombra do gênio espanhol, vejamos outro caso de melindres policamente corretos na vida ordinária: os comentários antinordestinos de uma… adolescente, cognominada @Mayara Petruso, no… twitter. Nunca fomos tão tacanhos para elegermos nossos escândalos. Antes que fervam em cima de mim, é óbvio que não compartilho de nada proferido pela jovem twittera. E o que poderia ser dito sobre o evento, foi brilhantemente resumido pelo Joel Pinheiro, no coletivo Protosophos: “A degeneração moral e intelectual é tal que ética ficou reduzida a uma questão de ter as opiniões corretas”. Pela marcha ao vazio, a próxima a grande discussão na imprensa brasileira será a possível aparição de Mayara na Playboy.

Mas faço segundas reflexões sobre a proscrição de Monteiro Lobato. A família brasileira quer jogar a educação de seus filhos no colo do Estado, e é forçoso concluir que os rebentos terão, basicamente, a instrução que seus votos puderem oferecer. Se não gostarem, basta aguardar mais quatro anos, quando toda e qualquer escolaridade estiver comprometida. E isso acontece há gerações. Se você reclama que o Estado quer excluir o Monteiro Lobato do seu filho, lembre-se de quem lhe empurrou o Grande Pedagogo, de quem insistiu que um grupo de iluminados deve interferir nos aspectos mais comuns da vida, tal como o que podemos ler, assistir ou twittar.

Publicados em “A Mosca Azul”

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Os esconjuros do Conselho da Educação contra uma obra de Monteiro Lobato, sob a acusação de racismo, fizeram-me recordar de diversas passagens das “Novelas exemplares”, de Cervantes. Essas, sim, até onde minha memória alcança, desbancavam a raça moura, elevavam às nuvens as virtudes cristãs e espanholas, faziam pouco dos italianos e gregos. Mas não é necessário evocar a sombra do gênio espanhol, vejamos outro caso de melindres policamente corretos na vida ordinária: os comentários antinordestinos de uma… adolescente, cognominada @Mayara Petruso, no… twitter. Nunca fomos tão tacanhos para elegermos nossos escândalos. Antes que fervam em cima de mim, é óbvio que não compartilho de nada proferido pela jovem twittera. E o que poderia ser dito sobre o evento, foi brilhantemente resumido pelo Joel Pinheiro, no coletivo Protosophos: “A degeneração moral e intelectual é tal que ética ficou reduzida a uma questão de ter as opiniões corretas”. Pela marcha ao vazio, a próxima a grande discussão na imprensa brasileira será a possível aparição de Mayara na Playboy.

Mas faço segundas reflexões sobre a proscrição de Monteiro Lobato. A família brasileira quer jogar a educação de seus filhos no colo do Estado, e é forçoso concluir que os rebentos terão, basicamente, a instrução que seus votos puderem oferecer. Se não gostarem, basta aguardar mais quatro anos, quando toda e qualquer escolaridade estiver comprometida. E isso acontece há gerações. Se você reclama que o Estado quer excluir o Monteiro Lobato do seu filho, lembre-se de quem lhe empurrou o Grande Pedagogo, de quem insistiu que um grupo de iluminados deve interferir nos aspectos mais comuns da vida, tal como o que podemos ler, assistir ou twittar.

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