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Governos de esquerda da América Latina torcem por Dilma

Matéria publicada no “Valor Econômico” de 29 de outubro apresenta um resumo das expectativas de parlamentares governistas, diplomatas e autoridades de nove nações latinoamericanas sobre o resultado das eleições presidenciais brasileiras, e também o que esperam das relações de seus países com o Brasil a partir de 2011. Confira: “Com receio de ver seus interesses com o Brasil afetados, quatro governos esquerdistas da América do Sul preferem uma vitória da […] Leia mais

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Instituto Millenium

Publicado em 31 de outubro de 2010 às, 00h21.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 10h55.

Matéria publicada no “Valor Econômico” de 29 de outubro apresenta um resumo das expectativas de parlamentares governistas, diplomatas e autoridades de nove nações latinoamericanas sobre o resultado das eleições presidenciais brasileiras, e também o que esperam das relações de seus países com o Brasil a partir de 2011. Confira:

“Com receio de ver seus interesses com o Brasil afetados, quatro governos esquerdistas da América do Sul preferem uma vitória da candidata do PT, Dilma Rousseff. Para esses países, a eleição do tucano José Serra é associada, em maior ou menor grau, a possíveis atrasos ou reversões na agenda bilateral com o Brasil.

O Valor ouviu parlamentares dos partidos que estão no governo em nove nações da região, além de diplomatas e outras autoridades, a respeito das expectativas sobre as relações de cada país com o Brasil a partir de 2011. Os governos que parecem acompanhar o resultado da disputa com mais expectativa são os da Argentina, Bolívia, Paraguai e Venezuela. Nos quatro, a preferência é por Dilma.

No Uruguai e no Equador – ambos também com presidentes de esquerda – integrantes dos governos não têm manifestado publicamente ou a interlocutores brasileiros interesses específicos na vitóriado PT ou do PSDB.

O mesmo vale para os governos da Colômbia, Peru e Chile, que embora sejam comandados por presidentes de centro-direita não revelam claramente preferências por uma ou outra candidatura.

No caso do governo da Bolívia, o país mais pobre da América do Sul, as reservas a Serra foram tornadas públicas antes do primeiro turno, quando o tucano acusou a gestão do presidente Evo Morales de ser cúmplice do tráfico de cocaína para o Brasil.

Em maio, Serra declarou durante uma entrevista: “Você acha que a Bolívia iria exportar 90% da cocaína consumida no Brasil sem que o governode lá fosse cúmplice? Impossível. O governo boliviano é cúmplice disso. Quem tem que enfrentar essa questão é o governo federal.” O candidato completou dizendo que “se o governo [da Bolívia] não fizesse ao menos corpo mole”, o fluxode cocaína que cruza a fronteira seria menor.

A afirmação foi rebatida por La Paz. Na ocasião, o senador Fidel Surco, presidente da Comissão de Política Internacional do Senado, disse à reportagem que Serra “é um candidato da direita que repete o que diz os EUA contra Evo”. Surco édo MAS, o partido de Morales. Para ele, “a relação entre Bolívia e Brasil com Dilma seria mais fácil. por haver mais proximidade ideológica entre os partidos”.

Segundo uma autoridade brasileira que mantém contatos frequentes com parlamentares e membros do Executivo boliviano, eles deixaram de se mostrar preocupados quando as pesquisas mostraram que Dilma teria uma vitória na primeira rodada. “Depois do primeiro turno, ficaram mais receosos com a possível eleição de Serra e principalmente sobre como seriam as relações bilaterais em torno de três pontos”, diz a fonte. “A questão do narcotráfico, o financiamento e os estímulos dados a empresas brasileiras para investirem na Bolívia e a questãodo pagamento das chamadas partes nobres do gás [aceita pelo governo Lula e que eleva o valor pago pelo Brasil ao gás boliviano].”

Assim como na Bolívia, a sensação manifesta no Paraguai por integrantes do governo do presidente Fernando Lugo e por parlamentares dos partidos que estão no poder, é que o governo Lula atendeu e aceitou negociar algumas demandas sensíveis ao país. E que com um governode José Serra, a situação seria outra.

“No Paraguai, há uma visão de que o acordo firmado pelos dois governos sobre o preço da energia de Itaipu só foi possível porque o presidente Lula tem uma empatia com o Lugo”, disse um diplomata brasileiro ouvido sob a condiçãode não ter seu nome publicado.

Em julho de 2009, Brasil e Paraguai firmaram um acordo que prevê, entre outros pontos, o aumento do preço pago pelo Brasil à energia de Itaipu que adquire do Paraguai. O acordo precisa da aprovação do Congresso. “Uma das preocupações deles é como será essa votação caso Serra seja eleito.”

Ricardo Canese, parlamentar paraguaio do Mercosul e coordenador da comissão de negociação sobre Itaipu do Ministério das Relações Exteriores paraguaio, disse ao Valor que crê que iniciativas de integração são “políticas de Estado” e que quem quer que seja eleito, não ignorará o acordo.

“Talvez haja maior ou menor vontade política. Entendemos que Dilma terá mais vontade política de fazer avançar o acordo. Num governo Dilma há ainda uma questão filosófica, de integração regional mais ampla.”

Entre os sul-americanos talvez o único presidente que tenha dito textualmente que torce pela vitória da candidata do PT foi o venezuelano Hugo Chávez. “Ele não sugeriu, mas disse diretamente que queria que a companheira Dilma ganhasse”, disse à reportagem o deputado Roy Daza, presidente da Comissãode Exterior da Assembleia Nacional venezuelana. Daza é do PSUV, partido de Chávez.

“Toda nossa expectativa é quem vai ganhar as eleições”, disse, acrescentando, que apesar das preferências e das identidades entre o PT e Chávez, aVenezuela tem relações externas “excelentes com a esquerda e com direita”. “Há que não se ideologizar tanto as relações internacionais”. AVenezuela não tem pendência importante a ser aprovada pelo Congresso brasileiro. A proposta de adesão da Venezuela ao Mercosul – criticada pela oposição – já foi aprovada.

Daza lembra que as relações de Chávez com o Brasil começaram com o Fernando Henrique Cardoso. “Com Lula e se aprofundaram e hoje são excelentes”. Uma eventual vitória da oposição não deve mudar a intensidade das relações, diz. Mas a preferência é clara: “Temos há anos vínculos com o PT. Prefiro um partidode esquerda, como o PT. Seríamos hipócritas se disséssemos o contrário.”