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Expectativas elevadas

Solange Srour: "A abertura comercial e as privatizações são fundamentais para elevar nossa produtividade e aumentar nosso produto potencial"

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institutomillenium

Publicado em 15 de fevereiro de 2019 às 10h40.

* Por Solange Srour Chachamovitz

O desencanto e a desconfiança dos brasileiros com a classe política foram um dos mais importantes fatores que sustentaram a vitória do atual presidente. Apesar de Bolsonaro já ser um político experiente, era visto como um propulsor de uma nova forma de governar. Seu discurso anticorrupção foi acoplado a ideias liberais na área econômica, trazendo a expectativa de que o Brasil continuaria a trilhar o caminho de reformas importantíssimas para alavancar nosso crescimento econômico. Ainda mesmo antes de assumir, já tínhamos assistido a uma alta generalizada nas confianças dos consumidores, empresários e investidores. O Brasil aparece como a oportunidade do momento, depois de quase cinco anos de ostracismo.

O atual ministro da Fazenda apresenta um cardápio de reformas que abrange Previdência, tributos, legislação trabalhista, abertura comercial, privatizações, entre outras medidas que podem aumentar bastante nossa capacidade produtiva. Em cada uma dessas áreas as promessas são grandes. Na reforma do regime geral de Previdência, a economia esperada é quase 3 vezes maior do que a proposta do governo anterior, que estacionou na Comissão Especial. As mudanças que estão sendo ventiladas na mídia para os benefícios assistenciais, para o regime dos servidores públicos e para a regra do salário mínimo elevam essa expectativa para um número muito maior. Na reforma tributária, especula-se a redução da carga tributária de forma a incentivar o investimento e a criação de postos de trabalho. A abertura comercial e as privatizações são fundamentais para elevar nossa produtividade e aumentar nosso produto potencial.

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Quando o possível não é o bastante

Tudo isso soa como música aos ouvidos dos mercados. No entanto, temos um risco importante, bastante conhecido entre os economistas e pelos brasileiros em geral. O risco de se prometer mais do que se pode entregar. A economia é movida a expectativas e é natural que, no início de um governo, essas fiquem mais sensíveis às propostas e projetos defendidos pela nova administração. Dependendo da distância entre as expectativas e a realidade imposta pelos fatos, podemos manter ou não a confiança de que o Brasil poderá crescer e melhorar sua péssima posição fiscal. Todas as propostas surtirão mais efeitos positivos no médio prazo do que no curto prazo mas, se as expectativas forem frustradas, os efeitos negativos serão bastante danosos no curto prazo. Nesse caso, certamente sairíamos desse equilíbrio atual de crescimento gradual, inflação e juros baixos, que nos parece hoje insuficiente, indo para um bem pior, de crescimento baixo ou mesmo recessão, inflação e juros altos.

Esse governo desfruta de um quadro muito favorável para ser reformista. O presidente goza de uma popularidade elevada, a oposição está desorganizada, a população já entendeu que precisamos acabar com o intervencionismo estatal, os privilégios e o corporativismo. A economia brasileira tem enorme dinamismo, mas para destravá-la é preciso mais do que ideias, é preciso capacidade de negociação e experiência. Nas semanas seguintes ao segundo turno, o ciclo político vencedor parecia bastante desorganizado. Com o passar do tempo, acertos foram sendo feitos nas escolhas de algumas pessoas que vão liderar o processo de articulação política. Porém, há ainda alguns focos de preocupação que precisam ser ajustados rapidamente.

O maior desafio atual é transformarmos a lenta recuperação cíclica que está em curso em um movimento estrutural que nos leve a uma trajetória de crescimento mais consistente. Para isso, nos falta é tirar de verdade os riscos que rondam nossa economia em vários aspectos. Estamos no começo de um longo processo de ajustes que requerem compromissos com o dimensionamento dos gastos em um nível compatível com os recursos e com uma economia mais competitiva, com menos Estado e mais mercado. Se caminharmos na direção de executar o ciclo de reformas que aumentem nosso produto potencial, o Banco Central estará livre das pressões vindas da política fiscal e poderá executar com eficiência a sua tarefa de manter a inflação em torno da meta, criando as condições para que a economia brasileira retome o crescimento sustentável. Contudo, infelizmente a nossa história não nos dá evidências de disposição de enfrentar os custos políticos acarretados pelo controle do crescimento dos gastos. Esperamos que o país tenha rompido realmente com seu passado!

* Solange Srour Chachamovitz é economista-chefe da ARX Investimentos desde 2008. Antes, foi economista da BNY Mellon (2005-2008), do Banco BBM (2004-2005) e da Nobel Asset Management (2002-2004). Solange tem mestrado pela PUC-Rio e já foi professora do Departamento de Economia na mesma Universidade. Ela escreve com frequência artigos nos principais jornais nacionais e participa de debates e conferências sobre economia e política.

Veja mais no Instituto Millenium

* Por Solange Srour Chachamovitz

O desencanto e a desconfiança dos brasileiros com a classe política foram um dos mais importantes fatores que sustentaram a vitória do atual presidente. Apesar de Bolsonaro já ser um político experiente, era visto como um propulsor de uma nova forma de governar. Seu discurso anticorrupção foi acoplado a ideias liberais na área econômica, trazendo a expectativa de que o Brasil continuaria a trilhar o caminho de reformas importantíssimas para alavancar nosso crescimento econômico. Ainda mesmo antes de assumir, já tínhamos assistido a uma alta generalizada nas confianças dos consumidores, empresários e investidores. O Brasil aparece como a oportunidade do momento, depois de quase cinco anos de ostracismo.

O atual ministro da Fazenda apresenta um cardápio de reformas que abrange Previdência, tributos, legislação trabalhista, abertura comercial, privatizações, entre outras medidas que podem aumentar bastante nossa capacidade produtiva. Em cada uma dessas áreas as promessas são grandes. Na reforma do regime geral de Previdência, a economia esperada é quase 3 vezes maior do que a proposta do governo anterior, que estacionou na Comissão Especial. As mudanças que estão sendo ventiladas na mídia para os benefícios assistenciais, para o regime dos servidores públicos e para a regra do salário mínimo elevam essa expectativa para um número muito maior. Na reforma tributária, especula-se a redução da carga tributária de forma a incentivar o investimento e a criação de postos de trabalho. A abertura comercial e as privatizações são fundamentais para elevar nossa produtividade e aumentar nosso produto potencial.

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Quando o possível não é o bastante

Tudo isso soa como música aos ouvidos dos mercados. No entanto, temos um risco importante, bastante conhecido entre os economistas e pelos brasileiros em geral. O risco de se prometer mais do que se pode entregar. A economia é movida a expectativas e é natural que, no início de um governo, essas fiquem mais sensíveis às propostas e projetos defendidos pela nova administração. Dependendo da distância entre as expectativas e a realidade imposta pelos fatos, podemos manter ou não a confiança de que o Brasil poderá crescer e melhorar sua péssima posição fiscal. Todas as propostas surtirão mais efeitos positivos no médio prazo do que no curto prazo mas, se as expectativas forem frustradas, os efeitos negativos serão bastante danosos no curto prazo. Nesse caso, certamente sairíamos desse equilíbrio atual de crescimento gradual, inflação e juros baixos, que nos parece hoje insuficiente, indo para um bem pior, de crescimento baixo ou mesmo recessão, inflação e juros altos.

Esse governo desfruta de um quadro muito favorável para ser reformista. O presidente goza de uma popularidade elevada, a oposição está desorganizada, a população já entendeu que precisamos acabar com o intervencionismo estatal, os privilégios e o corporativismo. A economia brasileira tem enorme dinamismo, mas para destravá-la é preciso mais do que ideias, é preciso capacidade de negociação e experiência. Nas semanas seguintes ao segundo turno, o ciclo político vencedor parecia bastante desorganizado. Com o passar do tempo, acertos foram sendo feitos nas escolhas de algumas pessoas que vão liderar o processo de articulação política. Porém, há ainda alguns focos de preocupação que precisam ser ajustados rapidamente.

O maior desafio atual é transformarmos a lenta recuperação cíclica que está em curso em um movimento estrutural que nos leve a uma trajetória de crescimento mais consistente. Para isso, nos falta é tirar de verdade os riscos que rondam nossa economia em vários aspectos. Estamos no começo de um longo processo de ajustes que requerem compromissos com o dimensionamento dos gastos em um nível compatível com os recursos e com uma economia mais competitiva, com menos Estado e mais mercado. Se caminharmos na direção de executar o ciclo de reformas que aumentem nosso produto potencial, o Banco Central estará livre das pressões vindas da política fiscal e poderá executar com eficiência a sua tarefa de manter a inflação em torno da meta, criando as condições para que a economia brasileira retome o crescimento sustentável. Contudo, infelizmente a nossa história não nos dá evidências de disposição de enfrentar os custos políticos acarretados pelo controle do crescimento dos gastos. Esperamos que o país tenha rompido realmente com seu passado!

* Solange Srour Chachamovitz é economista-chefe da ARX Investimentos desde 2008. Antes, foi economista da BNY Mellon (2005-2008), do Banco BBM (2004-2005) e da Nobel Asset Management (2002-2004). Solange tem mestrado pela PUC-Rio e já foi professora do Departamento de Economia na mesma Universidade. Ela escreve com frequência artigos nos principais jornais nacionais e participa de debates e conferências sobre economia e política.

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