Exame Logo

Equívocos na defesa de altos impostos

Editorial do “O Globo” de 3 de agosto criticou a defesa feita pelo presidente Lula à alta carga tributária. Ao defender o “Estado forte”, Lula toma como exemplo os países europeus. Porém, o modelo do “welfare state” já encontra-se em crise, e infelizmente o Brasil não prima pela aplicação eficiente do dinheiro do contribuinte: “Político traquejado, de longa quilometragem sobre carros de som em portas de fábrica e na condução […] Leia mais

DR

Da Redação

Publicado em 4 de agosto de 2010 às 01h25.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 11h30.

Editorial do “O Globo” de 3 de agosto criticou a defesa feita pelo presidente Lula à alta carga tributária. Ao defender o “Estado forte”, Lula toma como exemplo os países europeus. Porém, o modelo do “welfare state” já encontra-se em crise, e infelizmente o Brasil não prima pela aplicação eficiente do dinheiro do contribuinte:

“Político traquejado, de longa quilometragem sobre carros de som em portas de fábrica e na condução de assembleias sindicais, o presidente Lula não consegue o mesmo bom desempenho quando envereda por temas técnicos. Na sextafeira, perante empresários reunidos na Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), o presidente fez temerária defesa da carga tributária elevada. Esta postura se baseia numa visão política e ideológica de Lula e seu governo de que o Brasil necessita de um “Estado forte”, eficiente coletor de altos gravames para poder fazer “justiça social”. Sua candidata, Dilma Rousseff, já demonstrou em entrevista achar o mesmo.

O presidente erra no conceito, pois são estes altos impostos — 36% do PIB, mais do que em qualquer outro país emergente — que geram várias distorções. Entre elas, uma grande informalidade, nos negócios e no mercado de trabalho, além de desincentivo aos investi mentos produtivos. Lula, no discurso, lembrou países com carga de impostos de 40%, 50% do PIB, nos quais existe um estado de bem-estar social, “onde todos são fortes, bonitos e corados”. A discussão a se travar, entende Lula, é sobre se o dinheiro do contribuinte é bem aplicado, independentemente do peso dos impostos.

A referência de Lula é a Europa.

Lá, porém, o tal estado do bem-estar (welfare state), já em crise em alguns países diante da agressiva concorrência de China e vizinhos, mergulhou ainda mais em problemas com a insolvência da Grécia e o risco de Espanha, Portugal, Itália e outros irem pelo mesmo caminho. Cercadas por vertiginosos déficits fiscais, sociedades europeias têm sido obrigadas a rever generosidades na previdência e em outros gastos ditos sociais.

O Brasil, por sua vez, não sai bem na foto quando se discute o destino do dinheiro dos impostos. Estabilizada a economia, com o Plano Real, a partir de 1994, os governos FH e Lula alcançaram o equilíbrio fiscal às custas do contribuinte: neste período, a carga tributária cresceu cerca de dez pontos percentuais do PIB, os gastos públicos também só fizeram aumentar, e em velocidade maior.

Na realidade, o estado brasileiro virou um gigantesco pagador de salários, benefícios previdenciários e bolsas assistenciais.

Em 1987, um ano antes da promulgação da Constituição da redemocratização, 39% das despesas não financeiras da União tinham este destino. No ano passado, foram 75%. Entende-se por que os tão necesÉ investisários investimentos em infraestrutura minguaram.

Pode-se argumentar que este era e é o sentido da Carta de 1988. Mas também se deve perguntar se este é o melhor caminho para o país, considerando que faltam dinheiro e gerência eficiente para crianças e jovens serem educados num padrão de qualidade mínimo — sem falar na saúde pública.

Do ponto de vista do peso da carga de tributos e do que é feito com essa montanha de dinheiro — questão proposta pelo presidente —, o brasileiro vive a pior das situações: paga muitos impostos, não recebe em troca serviços de qualidade do Estado — ao contrário do que acontece na Europa — e ainda tem o futuro de filhos e netos comprometido, se não tiver recursos para adquirir o que o Estado não lhe fornece: educação e saúde. Mais impostos apenas engordam um Estado sem condições de reverter o que arrecada em melhores serviços e em meios para que a sociedade se desenvolva.”

Veja também

Editorial do “O Globo” de 3 de agosto criticou a defesa feita pelo presidente Lula à alta carga tributária. Ao defender o “Estado forte”, Lula toma como exemplo os países europeus. Porém, o modelo do “welfare state” já encontra-se em crise, e infelizmente o Brasil não prima pela aplicação eficiente do dinheiro do contribuinte:

“Político traquejado, de longa quilometragem sobre carros de som em portas de fábrica e na condução de assembleias sindicais, o presidente Lula não consegue o mesmo bom desempenho quando envereda por temas técnicos. Na sextafeira, perante empresários reunidos na Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), o presidente fez temerária defesa da carga tributária elevada. Esta postura se baseia numa visão política e ideológica de Lula e seu governo de que o Brasil necessita de um “Estado forte”, eficiente coletor de altos gravames para poder fazer “justiça social”. Sua candidata, Dilma Rousseff, já demonstrou em entrevista achar o mesmo.

O presidente erra no conceito, pois são estes altos impostos — 36% do PIB, mais do que em qualquer outro país emergente — que geram várias distorções. Entre elas, uma grande informalidade, nos negócios e no mercado de trabalho, além de desincentivo aos investi mentos produtivos. Lula, no discurso, lembrou países com carga de impostos de 40%, 50% do PIB, nos quais existe um estado de bem-estar social, “onde todos são fortes, bonitos e corados”. A discussão a se travar, entende Lula, é sobre se o dinheiro do contribuinte é bem aplicado, independentemente do peso dos impostos.

A referência de Lula é a Europa.

Lá, porém, o tal estado do bem-estar (welfare state), já em crise em alguns países diante da agressiva concorrência de China e vizinhos, mergulhou ainda mais em problemas com a insolvência da Grécia e o risco de Espanha, Portugal, Itália e outros irem pelo mesmo caminho. Cercadas por vertiginosos déficits fiscais, sociedades europeias têm sido obrigadas a rever generosidades na previdência e em outros gastos ditos sociais.

O Brasil, por sua vez, não sai bem na foto quando se discute o destino do dinheiro dos impostos. Estabilizada a economia, com o Plano Real, a partir de 1994, os governos FH e Lula alcançaram o equilíbrio fiscal às custas do contribuinte: neste período, a carga tributária cresceu cerca de dez pontos percentuais do PIB, os gastos públicos também só fizeram aumentar, e em velocidade maior.

Na realidade, o estado brasileiro virou um gigantesco pagador de salários, benefícios previdenciários e bolsas assistenciais.

Em 1987, um ano antes da promulgação da Constituição da redemocratização, 39% das despesas não financeiras da União tinham este destino. No ano passado, foram 75%. Entende-se por que os tão necesÉ investisários investimentos em infraestrutura minguaram.

Pode-se argumentar que este era e é o sentido da Carta de 1988. Mas também se deve perguntar se este é o melhor caminho para o país, considerando que faltam dinheiro e gerência eficiente para crianças e jovens serem educados num padrão de qualidade mínimo — sem falar na saúde pública.

Do ponto de vista do peso da carga de tributos e do que é feito com essa montanha de dinheiro — questão proposta pelo presidente —, o brasileiro vive a pior das situações: paga muitos impostos, não recebe em troca serviços de qualidade do Estado — ao contrário do que acontece na Europa — e ainda tem o futuro de filhos e netos comprometido, se não tiver recursos para adquirir o que o Estado não lhe fornece: educação e saúde. Mais impostos apenas engordam um Estado sem condições de reverter o que arrecada em melhores serviços e em meios para que a sociedade se desenvolva.”

Acompanhe tudo sobre:Carga tributáriaDemocraciaEficiênciaImpostosTransparência

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se