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É hora de questionar o Enem

A adoção de um modelo de avaliação contínuo e diversificado, similar ao SAT americano, poderia funcionar melhor

É hora de questionar o ENEM: o Brasil precisa de um modelo melhor (Rafael Henrique/SOPA Images/Getty Images)
Diogo Costa

Colunista - Instituto Millenium

Publicado em 7 de novembro de 2023 às 15h24.

Última atualização em 7 de novembro de 2023 às 16h39.

A cada edição do Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM, a mídia e as redes sociais encontram-se inundadas por críticas, problemas e evidências de falhas do modelo. A principal via de acesso ao ensino superior no Brasil enfrenta problemas como viés ideológico, a logística complexa de um exame anual e a segurança de um processo comprometido por vazamentos colocam em xeque a legitimidade do modelo atual perante todo o país.

Nas questões desse ano, o destaque das críticas foi a visão distorcida da agroindústria e dos esforços tecnológicos nacionais, desconsiderando os avanços promovidos pelo empreendedorismo brasileiro, e até por instituições como a Embrapa. Os pioneirismos em biotecnologias, cruciais para o agronegócio e a aeronáutica, são tratados como males de origem capitalista e consequência machista.

Além dessas idiossincrasias ideológicas, o exame sofre de dificuldades práticas. O vazamento de imagens da prova, descrito pelo Ministro da Educação, Camilo Santana, como "ocorrências pontuais", e a posterior prisão de 15 pessoas envolvidas em fraudes sublinham problemas de segurança e integridade do exame.

O cenário atual exige um debate mais amplo sobre a adequação do ENEM como ferramenta de seleção para o ensino superior. As questões ideológicas e metodológicas levantadas, somadas às recorrentes preocupações com a logística de um exame nacional e as possibilidades de vazamento, fortalecem a argumentação de que é tempo de repensar o modelo. Precisamos considerar a adoção de um sistema alternativo para aferir a aptidão acadêmica e intelectual dos estudantes brasileiros.

A adoção de um modelo de avaliação contínuo e diversificado, similar ao SAT americano, pode representar uma solução. Os exames do SAT são oferecidos várias vezes ao ano, oferecendo flexibilidade para os estudantes escolherem quando estão mais preparados para fazê-lo. Esse formato reduz pressões logísticas e psicológicas de um único exame anual. O modelo permite que o calendário da avaliação se adapte ao aluno e não o contrário. A taxa de abstenção no Enem 2023 foi de 28,1%.

O que permite essa flexibilidade é a estrutura da prova. Ao invés de um único exame, o SAT é composto por uma vasta base de questões que são sorteadas para cada sessão, minimizando o risco de vazamentos. Essa metodologia fortalece a segurança e a integridade do exame, componentes cruciais para a validade e justiça do processo seletivo.

Existe uma vantagem metodológica também. O SAT é projetado para avaliar o raciocínio crítico e as habilidades de resolução de problemas, mais do que simples memorização de conteúdo. É um exame mais aderente às habilidades essenciais em um mercado de trabalho cada vez mais dinâmico e tecnologicamente avançado. O foco em habilidades cognitivas gerais também é um componente chave para testar a verdadeira aptidão acadêmica, ao invés de apenas a familiaridade com o currículo específico, como muitos alegam ser o caso do ENEM.

Para implementar um sistema semelhante ao SAT no Brasil, seriam necessárias mudanças substanciais. A criação de uma base de dados de questões robusta e segura, o treinamento adequado para os aplicadores de prova e o investimento em infraestrutura - já que as provas são realizadas em computadores - são passos fundamentais para assegurar a eficiência e a justiça do processo. O desenvolvimento de modelos de IA como os Large Language Models (a exemplo do ChatGPT) poderia mitigar os custos de elaborar uma nova base de questões e acelerar a transição para esse sistema mais avançado.

Importante ressaltar, a transição para um modelo SAT deve ser cuidadosa para evitar disparidades educacionais, garantindo que estudantes de todas as regiões e condições socioeconômicas tenham as mesmas oportunidades de preparação e acesso às provas. Mas os desafios inerentes à transição não devem desencorajar o progresso. As tecnologias disponíveis hoje nos habilitam a buscar modelos de avaliação substancialmente mais eficientes, seguros e acessíveis. A transparência dos algoritmos é vital para possibilitar, futuramente, a utilização de métodos avaliativos conduzidos por IA, como entrevistas, sob o escrutínio de auditorias públicas frequentes.

A busca por uma solução que preserve a integridade, a objetividade e a justiça do processo seletivo pode alinhar o sistema educacional brasileiro com boas práticas internacionais, além de garantir que o acesso ao ensino superior no Brasil seja meritocrático e confiável, refletindo as habilidades acadêmicas e não as ideologias políticas ou os pontos fracos operacionais. O modelo SAT, com suas características adaptativas e pragmáticas, oferece um caminho possível e promissor para essa necessária reformulação.

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A cada edição do Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM, a mídia e as redes sociais encontram-se inundadas por críticas, problemas e evidências de falhas do modelo. A principal via de acesso ao ensino superior no Brasil enfrenta problemas como viés ideológico, a logística complexa de um exame anual e a segurança de um processo comprometido por vazamentos colocam em xeque a legitimidade do modelo atual perante todo o país.

Nas questões desse ano, o destaque das críticas foi a visão distorcida da agroindústria e dos esforços tecnológicos nacionais, desconsiderando os avanços promovidos pelo empreendedorismo brasileiro, e até por instituições como a Embrapa. Os pioneirismos em biotecnologias, cruciais para o agronegócio e a aeronáutica, são tratados como males de origem capitalista e consequência machista.

Além dessas idiossincrasias ideológicas, o exame sofre de dificuldades práticas. O vazamento de imagens da prova, descrito pelo Ministro da Educação, Camilo Santana, como "ocorrências pontuais", e a posterior prisão de 15 pessoas envolvidas em fraudes sublinham problemas de segurança e integridade do exame.

O cenário atual exige um debate mais amplo sobre a adequação do ENEM como ferramenta de seleção para o ensino superior. As questões ideológicas e metodológicas levantadas, somadas às recorrentes preocupações com a logística de um exame nacional e as possibilidades de vazamento, fortalecem a argumentação de que é tempo de repensar o modelo. Precisamos considerar a adoção de um sistema alternativo para aferir a aptidão acadêmica e intelectual dos estudantes brasileiros.

A adoção de um modelo de avaliação contínuo e diversificado, similar ao SAT americano, pode representar uma solução. Os exames do SAT são oferecidos várias vezes ao ano, oferecendo flexibilidade para os estudantes escolherem quando estão mais preparados para fazê-lo. Esse formato reduz pressões logísticas e psicológicas de um único exame anual. O modelo permite que o calendário da avaliação se adapte ao aluno e não o contrário. A taxa de abstenção no Enem 2023 foi de 28,1%.

O que permite essa flexibilidade é a estrutura da prova. Ao invés de um único exame, o SAT é composto por uma vasta base de questões que são sorteadas para cada sessão, minimizando o risco de vazamentos. Essa metodologia fortalece a segurança e a integridade do exame, componentes cruciais para a validade e justiça do processo seletivo.

Existe uma vantagem metodológica também. O SAT é projetado para avaliar o raciocínio crítico e as habilidades de resolução de problemas, mais do que simples memorização de conteúdo. É um exame mais aderente às habilidades essenciais em um mercado de trabalho cada vez mais dinâmico e tecnologicamente avançado. O foco em habilidades cognitivas gerais também é um componente chave para testar a verdadeira aptidão acadêmica, ao invés de apenas a familiaridade com o currículo específico, como muitos alegam ser o caso do ENEM.

Para implementar um sistema semelhante ao SAT no Brasil, seriam necessárias mudanças substanciais. A criação de uma base de dados de questões robusta e segura, o treinamento adequado para os aplicadores de prova e o investimento em infraestrutura - já que as provas são realizadas em computadores - são passos fundamentais para assegurar a eficiência e a justiça do processo. O desenvolvimento de modelos de IA como os Large Language Models (a exemplo do ChatGPT) poderia mitigar os custos de elaborar uma nova base de questões e acelerar a transição para esse sistema mais avançado.

Importante ressaltar, a transição para um modelo SAT deve ser cuidadosa para evitar disparidades educacionais, garantindo que estudantes de todas as regiões e condições socioeconômicas tenham as mesmas oportunidades de preparação e acesso às provas. Mas os desafios inerentes à transição não devem desencorajar o progresso. As tecnologias disponíveis hoje nos habilitam a buscar modelos de avaliação substancialmente mais eficientes, seguros e acessíveis. A transparência dos algoritmos é vital para possibilitar, futuramente, a utilização de métodos avaliativos conduzidos por IA, como entrevistas, sob o escrutínio de auditorias públicas frequentes.

A busca por uma solução que preserve a integridade, a objetividade e a justiça do processo seletivo pode alinhar o sistema educacional brasileiro com boas práticas internacionais, além de garantir que o acesso ao ensino superior no Brasil seja meritocrático e confiável, refletindo as habilidades acadêmicas e não as ideologias políticas ou os pontos fracos operacionais. O modelo SAT, com suas características adaptativas e pragmáticas, oferece um caminho possível e promissor para essa necessária reformulação.

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