Dois pesos, várias medidas
Excelente texto do jornalista André Machado na Zero Hora de hoje: Na terça-feira publiquei em meu blog (www.radiogaucha.com.br/blogdoandremachado) um pequeno post condenando o que é absolutamente reprovável: o uso de bens públicos para fins privados. O fato é que Lulinha, filho do presidente Lula, pegou uma carona ao lado de 15 amigos em um avião da FAB batizado de “sucatinha”. A viagem de São Paulo a Brasília contava ainda com […] Leia mais
Publicado em 26 de novembro de 2009 às, 09h18.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 13h19.
Excelente texto do jornalista André Machado na Zero Hora de hoje:
Na terça-feira publiquei em meu blog (www.radiogaucha.com.br/blogdoandremachado) um pequeno post condenando o que é absolutamente reprovável: o uso de bens públicos para fins privados. O fato é que Lulinha, filho do presidente Lula, pegou uma carona ao lado de 15 amigos em um avião da FAB batizado de “sucatinha”. A viagem de São Paulo a Brasília contava ainda com a presença do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles – este, sim, tinha o que fazer na rota. A reação dos leitores é um assustador painel sobre a forma como se escalonam valores em nossa sociedade.
“Muito bonita a sua atitude de assumir de que lado você está e sempre jogou, poderia ser candidato pelos tucanos nas próximas eleições.”
“A filha do FH também pode ser funcionária-fantasma do Senado sem nunca ter aparecido pra trabalhar e ganhando altos salários por vários e vários anos.”
“Aliás, André, a filha do seu protegido FH, que você mencionou, seria a que é ou era funcionária-fantasma de uma senador tucano? E o filho seria este que FH teve com uma jornalista da Globo? Estes dois escândalos vocês abafaram.”
“Este é o típico jornalismo partidário que ainda defende FH e Yeda.”
“Fosse a filha da Yeda, seria pra comprar pufes verdes em liquidação e pegar uns bonsais pra coleção da Walna.”
São apenas alguns das dezenas de comentários que mostram um aspecto assustador dos nossos tempos. Os argumentos são agressões. Não importa a quem. O mau uso do dinheiro público é transformado em uma disputa partidária: quem nos critica está do outro lado. As mesmas pessoas que julgam natural a carona de Lulinha foram implacáveis nas críticas ao fato de a governadora Yeda Crusius ter utilizado recursos públicos para adquirir bens para sua casa. O conteúdo do questionamento radical é que o pufe não pode, mas a passagem aérea, sim.
Será que é mesmo desta forma que construiremos uma sociedade melhor? Transformando em uma questão partidária a condenação à corrupção? Do jeito que as críticas foram postas, parece que uma parcela considerável dos cidadãos aceita a “nossa” corrupção e condena apenas “a deles”.
Já se falou do nosso espírito Gre-Nal, de um maniqueísmo nas relações no Rio Grande do Sul. Faz tempo que sabemos que não existe um dono da verdade. Que todos são capazes de erros e acertos que nos reforçam a condição de humanos.
Talvez o presidente Lula não soubesse que seu filho estivesse embarcando em um avião de propriedade do povo brasileiro para atender seus interesses particulares. Talvez a governadora Yeda Crusius também não tenha participado da escolha do mobiliário de sua casa. Condenar um fato e aplaudir o outro é ter conceitos éticos demasiado flexíveis para almejarmos uma sociedade melhor. Justificar um erro criticando o outro é condenar nosso país a um atraso do qual, felizmente, estamos saindo faz tempo.
(Zero Hora – 26/11/2009)